Novas diretrizes da SBC
Diretrizes (Arquivos Brasileiros de Cardiologia)
Final de semana de “Brasileirão”.
Não emociona, torcida do Botafogo rs. Estamos falando do 79º Congresso brasileiro de cardiologia, que aconteceu entre os dia 20-22 de setembro em Brasília. Ele nos presenteou com 2 ótimas diretrizes.
Vamos pontuar algumas das principais novidades em cada uma delas:
Diretriz de Ressonância Magnética e Tomografia Computadorizada Cardíaca:
10 anos. Esse foi o tempo para termos em mãos uma diretriz nova sobre o uso desses métodos de imagem na nossa prática.
E como evoluíram nesse tempo!
☢ Tomografia Computadorizada Cardiovascular:
Escore de Cálcio (EC): A diretriz de 2024 expande o uso do EC para a estratificação de risco cardiovascular, e passa a incluir com nível de recomendação I os seguintes grupos:
pacientes assintomáticos com escore de risco clínico intermediário;
pacientes assintomáticos com diabetes melito ou síndrome metabólica e com escore de risco clínico intermediário;
pacientes assintomáticos portadores de hipercolesterolemia familiar heterozigótica.
A diretriz traz orientações quanto ao uso da angiotomografia de coronárias (angioTC) como primeiro exame na investigação de DAC em especial na população com probabilidade pré-teste baixa-intermediária (sem novidades para quem acompanhou as recomendações da última diretriz europeia de DAC).
Em relação a 2014, a angioTC encontrou novos horizontes dentro da cardiologia, em especial no mundo das cardiopatias estruturais. Dessa forma, destaca algumas condições com importante utilidade dessa modalidade de imagem:
Avaliação pré-implante percutâneo de valva aórtica (TAVI) como também para a realização dos valve in valve e em outros procedimentos percutâneos;
Nos paciente com fibrilação atrial, tem importante papel na avaliação das veias pulmonares antes da ablação, como também no estudo pré-oclusão do apêndice atrial esquerdo.
🧲Ressonância magnética cardíaca (RMC):
Nos últimos anos, a RMC decolou em importância na investigação das miocardiopatias, em grande parte associado ao uso disseminado dos mapas multiparamétricos, que tornaram-se ferramentas quase essenciais para os diagnósticos diferenciais.
Se as últimas evidências confundiram a nossa cabeça sobre o estudo da viabilidade miocárdica, a diretriz oferece uma abordagem detalhada e protocolos específicos para a sua avaliação de forma prática.
Além disso, há espaço ainda para a apresentação de protocolos específicos de estudo para doenças pericárdicas, miocardite, cardiomiopatia induzida por estresse (Takotsubo), entre outras, evidenciando uma abordagem mais precisa e personalizada no manejo de condições cardíacas complexas.
Diretriz de Avaliação Cardiovascular Perioperatória
Não precisamos esperar tanto para essa rs (a anterior foi de 2017).
Uma vez que é um tópico comum dentro da nossa prática clínica, precisamos estar cientes das principais novidades:
Em relação aos escores de estimativa de risco cardíaco perioperatório, mantém-se a relevância do bom e velho escore de Lee, porém reforça o uso do RCRI e trás como opções o VSG-CRI (em especial para cirurgias vasculares) e do recente AUB-HAS2.
Mantém-se a regra básica: paciente e/ou procedimento com riscos baixos não exigem avaliações complementares com testes funcionais.
Destaca-se a importância da avaliação da fragilidade de forma rotineira em idosos submetidos a cirurgias de risco intermediário ou alto, usando instrumentos específicos para mensuração objetiva (Essential Frailty Toolset (EFT), Clinical Frailty Scale (CFS), Escala FRAIL etc).
Os teste funcionais continuam sendo preferenciais na avaliação pré-operatória, mantendo a angioTC como segunda linha para a estratificação de risco nas cirurgias não cardíaca.
Você que é assinante da DozeNews Prime e já vem acompanhando os resumos dos últimos guidelines europeus, já pode aguardar ansiosamente as edições das novas diretrizes brasileiras.
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A era dos wearables
Coorte (EHJ)
Você já ouviu falar nos desfibriladores wearables?
Calma, não tem nada a ver com outros wearables por aí (anel, relógio, fone) e com certeza não vai encontrá-los em uma loja de Apple! rs
Do inglês, os wearable cardioverter–defibrillator (WCDs) têm sido utilizados como uma possível terapia ponte na prevenção de morte súbita antes do implante definitivo do cardiodesfibrilador implantável (CDI).
Dessa forma, um estudo francês utilizou-se desses dispositivos para avaliar a ocorrência de arritmias ventriculares em pacientes com disfunção ventricular esquerda (FEVE ≤35%) após infarto agudo do miocárdio (IAM), para os quais foram prescritos os WCDs.
A grande pergunta foi: será que a ocorrência de arritmias nesse período inicial pós-infarto poderia prever desfechos piores?
Para isso, incluiu 1032 pacientes com FEVE ≤35% pós-IAM que utilizaram WCDs logo após a alta hospitalar (72 pacientes com indicação por arritmias ventriculares sustentadas e 960 pela FEVE).
Vamos aos resultados:
Entre os pacientes que tiveram arritmias enquanto usavam o WCD (VA+/WCD), 22,2% apresentaram novas arritmias ventriculares no primeiro ano após a implantação do ICD, comparado com apenas 3,5% dos que não tiveram arritmias (VA-/WCD).
Além disso, o risco de morte no primeiro ano foi maior no grupo VA+/WCD (11,1% versus 3,4%).
Pontos interessantes deste estudo: as arritmias ventriculares no cenário pós IAM e com disfunção ventricular são, de fato, importantes marcadores de gravidade, prevendo um maior risco de novas arritmias e de maior mortalidade em 1 ano!
Do ponto de vista prático, como seria bom termos os WCDs amplamente disponíveis para maior segurança do paciente nas primeiras semanas após o IAM e para identificar aqueles que precisam de monitoramento e tratamento mais intensivos.
Câncer x Coração
Artigo de Revisão (JACC)
Imagine que você está em uma batalha. O inimigo? O câncer.
Há décadas, um dos maiores guerreiros nessa luta tem sido a antraciclina. Ela foi introduzida na linha de frente nos anos 1960 e, desde então, tem sido uma peça-chave no tratamento de malignidades sólidas e hematológicas, como linfomas, leucemias agudas e sarcomas de tecidos moles.
Mas, como todo grande guerreiro, ela tem uma vulnerabilidade: a cardiotoxicidade dose-dependente!
Um artigo publicado, essa semana, na JACC CardioOncology vem para ser o manual de guerra que você precisa! Ele traz as mais recentes diretrizes para o uso das antraciclinas e estratégias atualizadas de cardioproteção.
Algumas das estratégias apresentadas no artigo para mitigar esse risco são:
Controle de fatores de risco cardiovascular, como hipertensão, diabetes e colesterol alto, além de promover estilos de vida saudáveis entre os pacientes oncológicos;
Uso de antagonistas neuro-hormonais (iECA, BRA e até beta-bloqueadores), especialmente em pacientes com fatores de risco para a cardiotoxicidade ou que receberão altas doses (≥ 250 mg/m²);
As estatinas podem ter benefício em pacientes em tratamento de linfomas (estudo STOP-CA);
Apesar de alguns estudos terem demonstrado um possível benefício do uso do Dexrazoxane, o seu uso na prática ainda é limitado, e persistem preocupações acerca da possibilidade de interferir na eficácia das antraciclinas contra o câncer.
Pode esperar, eventualmente você vai se deparar com uma situação de cardiotoxicidade na sua prática clínica (desculpa, não estamos querendo zicar, é a realidade rs)!
É por isso que vale a leitura da revisão e, claro, ouvir o episódio do DozeCast sobre cardiotoxicidade aos quimioterápicos e ler a DozeNews Prime!
Imagem da Semana
Dois clássicos achados da valvopatia mitral reumática vistos em uma angiotomografia: a abertura em “boca de peixe” (figura A) e a abertura em cúpula (ou taco de Hockey) da cúspide anterior (figura B). Esses achados são consequência da fusão comissural característica da doença reumática.
Ouça o episódio #113 do DozeCast sobre estenose mitral e relembre todos esses conceitos!
O giro pelas publicações da semana
☯️ A relação entre a apneia obstrutiva do sono e o coração em 2 belas revisões do JACC:
🍎 Qual o impacto da alimentação na Fibrilação Atrial? Álcool, cafeína, gorduras, peixes… revisão do European Heart Journal traz todas as evidências do impacto da alimentação na ocorrência de FA.
🫁 Registro mundial de tromboembolismo pulmonar crônico: insights sobre tratamentos e prognósticos!
🪙 Perigo dos metais? Estudo do grupo MESA associou a presença de metais urinários e a evolução da doença coronária.
🇧🇷 Útil para realidade brasileira: documento da AHA sobre transporte de pacientes após PCR!
🇨🇳 Será que precisamos dar mais atenção à medicina tradicional chinesa? Veja essa revisão do JACC: Asia sobre os benefícios dass ervas chinesas no tratamento cardiovascular.