A diretriz americana de Síndrome Coronariana Aguda
E mais: estenose + insuficiência valvar moderada e pericardite lúpica
Na edição de hoje:
📜 A AHA/ACC finalmente soltou sua atualização de SCA: e já preparou o resumo para você!
🫀 Pericardite no lúpus: Se teve uma, a chance de recorrência é alta! Entenda os fatores de risco.
🩸 Doença valvar mista: Estenose + insuficiência moderada = risco maior? O que fazer?
A nova diretriz de SCA
Diretriz (AHA/ACC)
Ei, você aí, tentando se recuperar entre um bloquinho e outro! 🥴 Acorda que saiu a nova diretriz da AHA/ACC para Síndromes Coronarianas Agudas (SCA)! 🫠
Sim, parece que ninguém explicou para os americanos o conceito de Carnaval… Mas enquanto eles soltam guideline, a gente solta um resumo afiado para você não perder o ritmo:
Na terapia antiplaquetária dupla (DAPT):
Continua sendo recomendada para todos os pacientes, preferencialmente com AAS + ticagrelor o prasugrel (naqueles submetidos a angioplastia) pelo período mínimo de 12 meses.
Porém, são propostas algumas estratégias para reduzir o risco de sangramento:
Pacientes com risco de sangramento gastrointestinal devem usar inibidor da bomba de prótons;
Para os pacientes com alto risco de sangramento, após 1 mês da angioplastia, ticagrelor pode ser mantido como monoterapia;
Nos casos de anticoagulação crônica, suspender aspirina 1 a 4 semanas após a angioplastia, mantendo preferencialmente clopidogrel.
🩸 E a polêmica do ataque com DAPT no IAM sem Supra?
A diretriz orienta considerar clopidogrel ou ticagrelor antecipadamente para reduzir eventos adversos para pacientes com IAM sem supra que farão coronariografia com > 24h.
Lipidoterapia:
Estatina de alta potência recomendada para todos os pacientes com ACS, com opção de iniciar ezetimibe concomitantemente.
Se LDL ≥70 mg/dL mesmo com estatina máxima tolerada, considerar ezetimibe, evolocumab, alirocumab, inclisiran ou ácido bempedoico.
Em pacientes de alto risco, intensificar a terapia se LDL estiver entre 55-70 mg/dL.
Angioplastia nos pacientes com ACS:
Abordagem radial é preferida para reduzir sangramento e complicações vasculares.
Imagem intracoronária (OCT/IVUS) recomendada para guiar angioplastia em lesões complexas.
Revascularização completa em ACS
Para IAM com e sem supra, estratégia de revascularização completa é recomendada;
No IAM com supra, angioplastia do vaso não culpado pode ser feita no mesmo procedimento ou de forma escalonada.
No choque cardiogênico, revascularização do vaso culpado é indicada, mas angioplastia de outras artérias não deve ser feita de rotina.
Uso de suporte mecânico
Uso de bomba de fluxo microaxial (Impella) pode reduzir mortalidade em choque cardiogênico, mas aumenta risco de sangramento, isquemia de membros e insuficiência renal.
Hemoglobina mínima
Em pacientes com ACS e anemia crônica ou aguda, pode ser razoável manter Hb acima de 10 g/dL com transfusão, desde que não estejam sangrando ativamente.
Alta hospitalar e prevenção secundária
Perfil lipídico deve ser reavaliado entre 4 a 8 semanas após início ou ajuste da estatina.
Reabilitação cardíaca recomendada – incluindo programas domiciliares para quem não pode comparecer presencialmente.
A nova diretriz reforça a importância da DAPT personalizada, do uso mais amplo de lipidoterapia intensiva, da estratégia de revascularização completa e do manejo mais criterioso do choque cardiogênico. Além disso, a prevenção secundária segue como um dos pilares fundamentais para reduzir eventos futuros.
No entanto, fora a (finalmente!) unificação da SCA em uma única diretriz, seguindo o modelo europeu de 2023, não houve mudanças substanciais em relação às condutas adotadas nos últimos anos.
Além disso, a manutenção da divisão clássica entre IAM com e sem supra na abordagem inicial da emergência parece cada vez mais desatualizada, especialmente diante das novas evidências sobre os diferentes padrões de apresentação da oclusão coronariana aguda (OCA). Não seria um bom momento para repensarmos esse paradigma?
Recorrência de pericardite no Lúpus – o que você precisa saber
Coorte (JAMA)
Vamos direto ao ponto: se você atende pacientes com lúpus e já se deparou com pericardite, prepare-se para um dado importante: 20,3% dos pacientes terão recorrência do quadro.
E não para por aí: quem tem uma recaída, tem grandes chances de ter outra.
O problema? Parece que o próprio tratamento pode estar contribuindo para isso.
Essa é a principal conclusão de um novo estudo do Hopkins Lupus Cohort, publicado na JAMA Network Open. Foram analisados 590 pacientes com pericardite associada ao lúpus e os pesquisadores apontaram quatro fatores críticos para a recorrência:
Idade jovem: quanto mais jovem o paciente, maior o risco. O grupo com menos de 40 anos teve o maior índice de recorrência.
Atividade elevada da doença (SLEDAI ≥3): pacientes com lúpus mais ativo apresentaram maior taxa de recidiva.
Uso de prednisona (≥20 mg/dia): aqui está o grande alerta! O uso de corticosteroides orais esteve fortemente associado à recorrência da pericardite, e a relação foi dose-dependente.
Tempo desde o primeiro episódio: a maior parte das recorrências ocorre no primeiro ano após a pericardite inicial.
O que isso muda na prática?
A pesquisa sugere que a prednisona deveria ser evitada sempre que possível, pois pode estar contribuindo para a recorrência. O achado reforça a necessidade de explorar alternativas terapêuticas, como colchicina e imunobiológicos, especialmente inibidores da interleucina-1, que têm mostrado eficácia na pericardite recorrente.
Além disso, se um paciente teve um episódio de pericardite no contexto de lúpus, ele precisa de acompanhamento rigoroso no primeiro ano, que é quando o risco de recorrência é mais alto.
Paciente não lê livro
Artigo de revisão (EHJ)
Quem nunca achou esse papo de velho obsoleto até começar a trabalhar sozinho e sofrer na pele, quietinho?…
Valvopatias já são um desafio por si só – na vida real, então, a confusão só aumenta. Afinal, estenose e insuficiência moderadas se somam? Precisamos intervir? Muitas vezes a doença mista invalida critérios clássicos e dificulta a nossa tomada de decisão.
Um artigo brilhante do EHJ buscou traçar um caminho mais claro para as doenças mistas com destaque para o renegado coração direito e para a valva mitral.
Algumas mensagens são claras:
Pacientes com insuficiência e estenose moderadas apresentam pior prognóstico. Ou seja, mesmo que isoladamente não pareçam graves, a combinação pesa na sobrecarga cardíaca.
Imagem multimodal e discussão no Heart Team são essenciais, já que os critérios clássicos muitas vezes não se aplicam.
Na válvula mitral, escore de cálcio não substitui avaliação hemodinâmica da estenose.
Velocidade e gradiente são melhores marcadores de gravidade da valvopatia do que área valvar ou grau de regurgitação.
Ainda estamos longe de diretrizes definitivas para doença valvar mista, e mais estudos são necessários. Mas uma coisa já sabemos: não dá para seguir um protocolo fixo – cada caso precisa de uma abordagem individualizada.
Então, se você achava que valvopatia já era um pesadelo, adivinhe só? Doença mista veio para complicar ainda mais! Vale a leitura da revisão.
Imagem da semana

Você não está com fome e não está vendo uma amora gigante rs.
Essa belíssima imagem é de um Mixoma Cardíaco, compartilhada pelo seguidor Marcelo Guazina. Podemos, finalmente, compreender quando descrevem o seu aspecto macroscópico como uma “massa gelatinosa, lobulada e friável”.
🎙️ Que tal aproveitar e ouvir o nome episódio do DozeCast sobre Massas Cardíacas?
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