Nova diretriz de Ergometria
Diretriz SBC
O bom e velho teste ergométrico ainda tem espaço em meio à diversidade de métodos complementares que dispomos hoje na cardiologia?
Podemos garantir com tranquilidade que a resposta é SIM!
E para reforçar esse ponto, a sociedade brasileira de cardiologia acabou de publicar uma completa diretriz (e põe completa nisso: leves 139 pgs 😮💨) que contempla os testes ergométrico e cardiopulmonar.
Resumir esse artigo seria trabalho para uma DozeNews Prime (lançamos a ideia e saímos correndo - quem sabe né? rs). Vamos destacar os pontos mais relevantes do ponto de vista prático para o cardiologista clínico:
Quais as indicações classe I para solicitação do teste ergométrico na doença coronária?
Para o diagnóstico de DAC estável em pacientes com probabilidade pré-teste intermediária;
Diagnóstico diferencial de dor torácica na emergência em paciente de baixo risco, estáveis clínica e sendo dor há 9-12 horas (sem alterações no ECG e troponina negativa);
Prescrição de exercício e avaliação seriada em programa de reabilitação; ou naqueles com sintomas atípicos e anormalidades no ECG de repouso para liberação de atividade física de alta intensidade;
Pós IAM, não complicado, antes da alta hospitalar, para estratificação de risco e adequação terapêutica;
Avaliação prognóstica na DAC estável.
Investigação de DAC em pacientes sintomáticos, diabéticos e com ECG interpretável.
Observe que, indo de encontro a diversas diretrizes internacionais de coronariopatias, a SBC mantém o teste funcional sem imagem como classe I no diagnóstico de DAC. Cada um com a sua realidade, não é?
Além disso, vale destacar o papel do TE na avaliação funcional em diversas outras condições, como valvopatias, arritmias, IC e até na HAS.
Interessante também é a indicação da realização de pelo menos 1 teste ergométrico até os 40 anos em indivíduos com história familiar de DAC precoce.
Já as indicações do teste cardiopulmonar seguem bastante a linha do teste ergométrico, porém nos casos em quem haja a necessidade de avaliação de variáveis ventilatórias e metabólicas.
A diretriz segue com diversos aspectos técnicos como contraindicações e quando interromper os exames; uso de cada um do métodos nos mais diversos contextos das patologias cardiovasculares; aspectos dos laudos e análise das diferentes variáveis.
Esse é um documento que vai além do objetivo de atualização, e serve também de consulta para dúvidas nos mais diferentes cenários.
Prolapso da valva mitral (PVM): explorando além da ponta do iceberg!
Artigo de Revisão (EHJ)
No vasto universo da cardiologia, um enigma tem desafiado especialistas e intrigado clínicos: o PVM.
Conhecido por muitos como uma condição benigna, esconde em suas sombras uma forma arrítmica potencialmente fatal, cuja prevalência ainda nos escapa.
Recentemente, um farol de conhecimento brilhou sobre este mistério através de um consenso de experts publicado no European Heart Journal, trazendo novas esperanças e direções para navegar este mar incerto!
Imagine um iceberg, no qual a ponta visível representa os casos de PVM diagnosticados, mas sob a superfície, esconde-se uma massa imensa de casos arrítmicos, silenciosos mas perigosos, prontos para emergir inesperadamente na forma de morte cardíaca súbita.
É aqui que o nosso conto toma uma virada decisiva: a declaração do consenso dos especialistas não apenas ilumina o caminho para identificar estes pacientes ocultos, mas também propõe métodos inovadores para estratificar o risco através de manifestações clínicas, numa tentativa de prever e prevenir o imprevisível.
Nos últimos dez anos, um novo protagonista surgiu na narrativa do PVM arrítmico: a imagem cardíaca.
Como um detetive seguindo pistas, a tecnologia de imagem avançou, revelando os segredos mais profundos do coração. Achados patológicos sugerem que a fibrose dos músculos papilares e da parede ventricular esquerda inferobasal são os vilões desta história, marcadores de um desfecho maligno esperando no escuro.
A ressonância magnética cardíaca, embora um recurso precioso, está além do alcance de muitos.
A ecocardiografia com speckle-tracking emerge como uma heroína, abrindo portas para uma investigação mais profunda e guiando pacientes através do labirinto de diagnósticos para a segurança da avaliação avançada.
Veja na figura resumo do artigo original como podemos transformar o invisível em visível, navegando com segurança através das águas tempestuosas da cardiologia moderna, em busca de um futuro onde o temido iceberg do PVM seja não apenas visível, mas navegável e, finalmente, vencível.

Zona de perigo: anti-arrítmicos na FA recente?
Análise retrospectiva (JACC)
Quem nunca quis prescrever um anti-arrítmico (AAR) e se deparou com um arritmologista ou simplesmente um colega mais experiente que jogou um balde de água fria?
Muitas vezes na vontade de tratar uma taquiarritmia podemos ter efeitos adversos como síncope ou até indicação de marca-passo (MP), principalmente em pacientes idosos.
Apesar do racional de evitarmos a administração de anti-arrítmicos em pacientes, há alguma evidência sobre o possível efeito deletério destes?
Pois é… Um estudo coreano, publicado essa semana no JACC, avaliou a ocorrência de síncope e necessidade de MP em pacientes com a prescrição de AAR primeiro episódio de fibrilação atrial (FA).
Foi um estudo retrospectivo que incluiu dados do Korean National Health Insurance Service System de 2013 a 2019, no qual 770997 pacientes foram registrados com primeiro episódio de FA
Resultados:
Pacientes em que foram prescritos AAR até 1 ano do início da FA apresentaram maior ocorrência de síncope e indicação de MP.
3,5x mais ocorrência de síncope ou uso de MP.
2,0x mais chance de síncope
5x maior chance do uso de MP
A velha história do menos é mais… Deve-se sempre avaliar o risco de bloqueios avançados e eventos adversos, embora não haja uma ferramenta clara de precisão para definição desses riscos.
Por ora, o bom e velho cabelo branco ainda deve ser valorizado.
Wegovy além da perda de peso
Caiu na Mídia
Não dá para negar que os agonistas da GLP1 foram os queridinhos da cardiologia em 2023.
É só lembrar do trial SELECT , publicado no ano passado, que demonstrou redução de eventos cardiovasculares com o uso da semaglutida em pacientes obesos não diabéticos.
Pegando carona nesses resultados, o FDA liberou, essa semana, o uso do Wegovy (a semaglutida que chega às doses de 2,4mg, testada no SELECT trial) no tratamento de pacientes obesos não diabéticos com o objetivo de perda de peso e redução do risco cardiovascular.
A medicação, que custa cerca de U$ 1300,00 nos EUA 💸, ainda não está disponível no Brasil.
E você acha que para por aí?
A Novo Nordisk, empresa responsável pela fabricação do Wegovy e do Ozempic, está em fase de testes de uma nova medicação: a amicretina, um coagonista de longa duração do GLP1, cujos primeiros resultados demonstraram uma perda de 13% do peso nas primeiras 12 semanas de uso.
Aguardemos os próximos capítulos!
Imagem da Semana
Da série imagens que você nunca vai querer presenciar no seu plantão: um aneurisma de aorta torácica descendente roto. Note o extravasamento do contraste na fase arterial (figura A) , que se mantém na fase tardia (figura B), e a formação de hemotórax.
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