AngioTC vs CATE • Queda da TFG com gliflozina • Reposição de cálcio e estenose aórtica
Deu treta no Heart Team
Prescrevi gliflozina e piorou a creatinina. E agora?
Artigo Científico
Era fim de 2019 e as gliflozinas chegam ao seu auge com o lançamento do DAPA-HF, estudo que comprovou seu benefício no tratamento da IC, independentemente do diagnóstico de diabetes.
Chegamos a 2022, e tem gente querendo “jogar água no chopp” dos entusiastas da nova droga.
Subanálise do DAPA-HF buscou avaliar se a introdução da dapagliflozina poderia reduzir inicialmente a taxa de filtração glomerular (em semelhança aos iECAs, mas por mecanismos distintos).
E aí? Pacientes em uso da DAPA apresentaram as seguintes diferenças em relação ao placebo:
Queda em média de 4,2 ml/min/1,73m2 na TFG nos primeiros 14 dias, em comparação a 1,1 ml/min/1,73m2 no placebo.
Odds ratio de 2,36 (95%IC 2,07-2,69) em relação ao placebo para apresentar uma queda inicial > 10% da TFG.
Mas não é para se assustar.
Apesar da queda, o hazard ratio para os eventos cardiovasculares foi menor no grupo em uso de dapagliflozina que apresentou a queda > 10% da TFG.
Resumindo, foi observada a queda na função renal sim, mas com melhores resultados clínicos.
A queda da TFG aparentemente mostra em quem a medicação funciona mais e, pelo visto, com maior benefício do seu uso.
Não interrompa a medicação se a creatinina do seu paciente subir um pouco! Rsrs
Vamos abrir um parênteses da edição aqui para um link fácil caso queira revisar as gliflozinas
Uma “vitaminazinha” não faz mal a ninguém, será?
Artigo Científico
Toda hora surge uma modinha nova na medicina. A da vez é repor Vitamina D e Cálcio nos idosos.
Foi por isso que esse editorial do BMJ discutiu um estudo da mesma revista que avaliou se a suplementação dessas vitaminas em idosos > 60 anos com estenose aórtica traria pior desfecho.
Lembrando, a principal causa de estenose aórtica é degenerativa, ou seja, a valva se enche de cálcio nas suas cúspides.
Estudo retrospectivo, mais de 2000 pacientes com idade média de 74 anos e diagnóstico de estenose aórtica leve a moderada, que foram divididos em 3 grupos:
Sem suplementação;
Suplementação de Vitamina D;
Suplementação de Vitamina D e Cálcio
Fizeram seguimento por 69 meses, e o desfecho primário foi composto por morte por todas as causas, morte cardiovascular e troca valvar.
Os grupos que suplementaram cálcio, principalmente em associação com vitamina D, apresentaram piores desfechos.
Se liga nas limitações: estudo retrospectivo, heterogeneidade dos grupos, doses inespecíficas.
Já fica pelo menos uma sugestão do malefício dessa suplementação, e a lição para suplementar vitaminas só em quem tem indicação clara.
Angio-TC vs Cateterismo Cardíaco - se não for para polemizar a gente nem vem
Artigo Científico
Sabe aquele artigo que causa gritaria em reunião científica do hospital? Dedo na cara, fim de amizade, xingamentos à mãe? Esse é o DISCHARGE Trial.
O artigo foi lançado em março, e já causou muitas brigas em grupos de whatsapp entre hemodinamicistas e cardiologistas de imagem; mas o NEJM lançou, essa semana, um editorial para colocar mais lenha na fogueira (aprende aí, Boninho!).
Relembrando o artigo:
3561 pacientes com dor torácica e risco intermediário de DAC encaminhados para investigação - randomizados para Angiotomografia de Coronárias ou Cateterismo Cardiaco;
Seguimento de 3,2 anos; Desfecho primário = morte cardiovascular; IAM ou AVC.
Angio-TC foi igual a CATE para o desfecho primário, mas o último apresentou mais complicações relacionadas ao procedimento, como sangramento.
E a polêmica? O artigo tem algumas limitações, que são apontadas pelo editorial (e por todos os hemodinamicistas rsrs):
O ponto de corte para risco intermediário foi de 10-60% (??) (é, não sabemos de onde tiraram esse valor);
> 35% dos paciente tinham dor não-anginosa (dificilmente alguém manda direto para CATE por uma dor que não convence);
Apenas ~25% em cada grupo tinham DAC obstrutiva (o risco estava mais para baixo que para intermediário).
Apesar desses apesares, ainda podemos tirar de positivo do estudo a segurança na investigação inicial com Angio-TC; como já haviam mostrado trials como o SCOT-HEART e o PROMISE.
Nova medicação para emagrecer
Caiu na Mídia
Não só de ex-BBBs no Nosso Camarote vive a mídia.
O Tirzepatide ganhou espaço na última semana pela divulgação de resultados preliminares do seu estudo fase 3 - demonstrou um potencial para redução de peso em torno de 22,5% (em média, uma perda de quase 25 kg). Uau!
O Tirzepatide é um análogo duplo da GLP-1, ou seja, além de agir nessa via, age também na GIP - basicamente o primo rico do liraglutide e semaglutide.
Já temos alguns estudos oficiais demonstrando semelhança no benefício entre as duas classes no controle de diabetes.
Não vale a pena ainda ir para a fila da farmácia. Vamos aguardar o estudo oficial para maiores detalhes e compreender os seus efeitos (inclusive, colaterais).
Imagem da Semana
A avaliação da volemia no paciente em tratamento para IC é bem complexa. O ultrassom point-of-care ajuda muito com a famosa análise da veia cava inferior. Mas você conhece a avaliação da veia jugular interna? A relação do seu diâmetro em valsalva dividido pelo diâmetro em repouso tem boa correlação com NT-ProBNP e classe funcional. No caso da foto, com resultado próximo de 5, sugere que cabe volume! 💧
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