Autora: Maria Júlia Souto (cardiologista e especialista em imagem cardiovascular pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia)
08 de maio de 2024. Naquele dia, Dr Raphael Rossi nos provocava com uma DozePrime que ecoou: “Estamos diante da era da desprescrição?”.
Nesta ocasião o tema era o mesmo que discutiremos hoje, o uso de beta-bloqueadores (BB) no pós-IAM. Mas, à época, há quase um ano e meio, as dúvidas ainda falavam mais alto que as certezas.
Tanto que, mesmo na mais recente diretriz de DAC da SBC (2025), ainda se percebe certa hesitação em uma recomendação clara sobre o papel dos BBs. A classe continua como recomendação I para o controle de sintomas, mas o texto é econômico quando o assunto é seu papel após o evento agudo.
Pois bem, o que antes era dúvida começou a mudar, e rápido. Nos últimos meses, tanto no congresso da ESC quanto no da AHA, novos dados vieram à tona.
O REBOOT e o BETAMI, somados a uma metanálise incluindo pacientes com FEVE entre 40–49%, não mostraram benefício dos BBs em nenhum cenário.
E, como se fosse o ponto final dessa história, a metanálise dos cinco principais estudos, apresentada no congresso da AHA 2025 e publicada no NEJM, selou o veredito: mais uma vez, nenhum ganho clínico consistente.
Assim, a proposta desta DozePrime é simples (mas não menos provocadora): revisar as evidências mais recentes sobre o uso dos beta-bloqueadores após o IAM e entender, de forma prática, se finalmente chegou a hora de retirar essa receita automática da prancheta.
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