Na edição de hoje:
🧠 SMART Trial: Medtronic vs Edwards na prótese da TAVI;
💻 Estratificação invasiva no IAMSSST questionada: ressonância com importante valor pré-CATE;
📲 Smartphones podem identificar IC com precisão através da sismocardiografia
Briga de gigantes
Ensaio clínico randomizado (NEJM)
Vai entrar nessa briga? As principais próteses de TAVI disputam braçada a braçada (como diria Galvão Bueno rs) pelo mercado gigantesco que envolve o principal tratamento da estenose aórtica em um mundo cada vez mais dominado por idosos ativos.
Para se ter uma ideia, são mais de 90 mil TAVIs implantadas anualmente nos EUA.
Uma das preocupações é o tratamento de pacientes com anel valvar pequeno, nos quais há maior risco de um orifício efetivo reduzido, acarretando maiores gradientes, disfunção de prótese e mismatch.
Este cenário é a grande aposta de próteses autoexpansíveis supranulares, as quais conferem maior área efetiva e menores gradientes.
O SMART trial comparou o tratamento de pacientes com anel aórtico menor que 430 mm² com o dispositivo Evolut (Medtronic) vs Sapien (Edwards Lifesciences) (as duas pioneiras e principais próteses utilizadas no mundo, dos trials: Partner, CoreValve e Evolut).
Vamos ao estudo:
Foram incluídos 716 pacientes com risco cirúrgico pelo STS médio de 3,3%.
O objetivo foi avaliar a não inferioridade de resultados clínicos e superioridade em relação à disfunção de bioprótese da prótese autoexpansível em relação à balão-expansível em pacientes com anel aórtico < 430 mm².
Resultados:
Não-inferioridade da autoexpansível para morte, AVC desabilitante ou hospitalização por IC (9,4% autoexpansível x 10,6% balão-expansível)
Superioridade da autoexpansível para disfunção de bioprótese (9,4% autoexpansível x 41,6% balão-expansível)
Mismatch em 30 dias: 11.2% autoexpansível x 35.3% balão-expansível (P<0.001).
Mesmo os mais otimistas em relação às próteses supranulares não esperavam uma diferença tão grande!
Vejam: 32% de diferença absoluta de disfunção de prótese!
Apesar de sabermos da importância do resultado hemodinâmico imediato para o sucesso clínico de longo prazo, até hoje não havia nenhum estudo comparando cabeça a cabeça (ou braçada a braçada, como queiram…) o resultado destas próteses no cenário desafiador de anéis pequenos.
O resultado clínico não inferior, neste caso, não ameniza a derrota do grupo balão-expansível, uma vez que disfunção de bioprótese é um desfecho muito relevante.
Este é um assunto muito intrigante e que deve fomentar mudanças de conduta no planejamento dessas intervenções.
E se essa moda pega?
Estudo prospectivo (JACC: Cardiovascular Imaging)
Ressonância magnética cardíaca (RMC) antes do cateterismo cardíaco (CATE) no infarto do miocárdio sem supradesnivelamento do ST (IAMSSST) pode ser uma realidade?
Sabemos da importância da RMC no diagnóstico diferencial de outras etiologias (como miocardite, síndrome de Taktosubo, MINOCA) no contexto da suspeita de IAMSSST.
No entanto, pensar em um cenário no qual solicitemos a RMC antes mesmo do CATE soa como “brincar com a epidemiologia” (estima-se que apenas 6% dos casos são de coronárias não-obstrutivas). Ou seja, por que pedir um exame pensando em etiologias menos prováveis quando podemos já resolver de cara a condição muito mais prevalente?
De qualquer forma, os ingleses resolveram testar essa opção em um pequeno estudo prospectivo, em pre-print no JACC:
Incluíram 100 pacientes com suspeita de IAMSSST submetidos a RMC antes do cateterismo (média de tempo para a RMC de 33 horas pós-admissão e 4 horas antes da angiografia).
E os resultados foram surpreendentes: 29% deles não tinham IAM (17% por causas não-isquêmicas (cardiomiopatias, Takotsubo, miocardite) e 11% eram normais.
Nos pacientes que tinham lesões obstrutivas no CATE, 10% não apresentaram áreas de IAM na RMC; e em outros 10% a RMC foi capaz de indicar a coronária de fato culpada pelo evento isquêmico.
Dito isso, os autores argumentam que a realização de RMC ajudou a mudar o diagnóstico e/ou tratamento em quase 50% dos casos.
Um estudo sujeito a inúmeras críticas, desde o n pequeno e de uma população específica, até o real benefício clínico dessa abordagem adicional e o risco do atraso da realização do cateterismo.
🤔 No entanto, conseguiu atingir a publicação no JACC por um motivo: deixa uma bela pulga atrás da orelha, ao nos fazer questionar essa conduta “automática” de enviar diretamente para estratificação invasiva todos os casos. Quem sabe selecionar um pouco melhor aqueles possam ter uma abordagem diferente?
Reconhecimento de IC através do smartphone: é sério isso?
Estudo multicêntrico (JACC: Heart Failure)
Imagine poder diagnosticar e monitorar IC usando apenas um smartphone!
A sismocardiografia, que mede vibrações cardíacas transmitidas à parede torácica, está surgindo como uma ferramenta promissora que pode transformar a maneira como lidamos com essa doença.
Um estudo multicêntrico, publicado no JACC: Heart Failure, explorou se a sismocardiografia em smartphones pode diferenciar indivíduos saudáveis de pacientes com IC estágio C.
Essa tecnologia acessível pode ser um divisor de águas na prática cardiológica, proporcionando diagnósticos rápidos e precisos.
Como foi feito o estudo?
Pacientes com IC, tanto internados quanto ambulatoriais, foram recrutados na Finlândia e nos Estados Unidos.
Os internados foram avaliados em até 2 dias após a admissão, enquanto os ambulatoriais foram avaliados em clínicas.
Utilizando análise de regressão logística e validação por método de agregação bootstrap, os pesquisadores desenvolveram e testaram algoritmos para detecção de IC.
No estudo, participaram 217 pacientes com IC (174 internados e 172 ambulatoriais) e 786 indivíduos saudáveis. A idade média dos pacientes com IC era de 64 anos, sendo 64,9% homens. A FEVE média era de 39%, e o NT pró-BNP mediano era de 5.778 ng/L.
O principal:
Os algoritmos de sismocardiografia mostraram alta precisão diagnóstica, com uma área sob a curva ROC de 0,95, sensibilidade de 85%, especificidade de 90% e precisão de 89%.
As razões de probabilidade positiva e negativa foram 8,50 e 0,17, respectivamente. Esses resultados não variaram significativamente entre diferentes subgrupos de pacientes.
Pois é, meus amigos! Avaliar a função cardíaca usando smartphones é não só viável, mas também altamente eficaz!
A sismocardiografia pode distinguir pacientes com IC de indivíduos saudáveis com precisão impressionante, abrindo portas para um futuro onde diagnósticos rápidos e acessíveis estão ao alcance de todos.
Ozempic da shopee?
Caiu na Mídia
A empresa Hims & Hers, já conhecida pela produção de medicações de menor custo nos Estados Unidos, tem um novo alvo: produzir uma versão econômica da semaglutida.
Em matéria publicada no jornal o Globo, afirmam-se valores na faixa de R$ 250,00 para a versão de baixo custo.
Seria lindo, se não fosse o que as nossas avós chamam de “imitação barata” rs.
Na realidade o que essa empresa faz é produzir versões manipuladas das conhecidas substâncias, porém sem a aprovação do FDA ou de qualquer outro órgão regulador.
Dessa forma, o FDA destacou que os produtos contém semaglutida sódica e o acetato de semaglutida, que não demonstraram ser seguros e eficazes.
Em outras palavras, não é que seja bom nem ruim. Na realidade, a inexistência de grande estudos com essas drogas manipuladas faz com que não saibamos nem se ao menos funcionam e muito menos o quão seguro elas serão.
E já sabemos muito bem dos riscos do uso de medicações não testadas adequadamente.
Imagem da Semana
When you see it… Uma bela linha de dissecção coronária (seta vermelha) vista por meio do ultrassom intravascular (IVUS).
Esse é um exemplo prático da importância da investigação de etiologias não obstrutivas para síndrome coronariana aguda por meio do exames de imagem intravascular.
Na DozeNews Prime revisamos os fluxogramas diagnósticos de MINOCA, e também o papel dos métodos de imagem intracoronária.
Acesse o news.dozeporoito.com/prime e veja todos resumos já publicados.
Fique por dentro
👴🏽 Revisão dos cuidados paliativos no espectro da IC.
💻 O acompanhamento de pacientes por meio da telemedicina após uma SCA associou-se a redução de re-hospitalizações nesse ensaio clínico randomizado.
💊 Estado-da-arte do JACC sobre o uso dos iSGLT2 no contexto intra-hospitalar.
👻 Atenção ao lado direito! A evolução com disfunção de VD associou-se a pior prognóstico na evolução de pacientes com insuficiência tricúspide.
🕵🏼 Escore de cálcio nos sintomáticos? A inclusão desse exame à avaliação clínica de pacientes com dor torácica de probabilidade pré-teste baixa ajudou a reclassificar melhor aqueles que não precisam de investigação adicional.
🏓 Os escores HFA-PEFF e H2FPEP demonstraram apenas uma acurácia moderada para o diagnóstico de IC FEP em pacientes com FA sintomática.
🔮 AHA de olho no futuro:
⛽ Miocardiopatia alcoólica é o assunto da revisão do EHJ desta semana.
🚰 Cuidado com uso sem indicação de diuréticos de alça: avaliação de pacientes com doença cardiovascular.