Cobertura Congresso da AHA 2023
Ozempic reduz desfechos cardiovasculares em obesos não-diabéticos; bons resultados com os inibidores do fator XI; e muito mais
Na edição de hoje:
💉 SELECT Trial - redução de desfechos cardiovasculares com a semaglutida;
🩸 AZALEA-TIMI 71 - redução de sangramento com a anticoagulação com o inibidor do fator XI;
🛰️ ORBITA 2 - angioplastia como tratamento de angina
📚 Principais estudos dos dias 1 e 2 do Congresso da AHA
Você já sabe: se tem congresso importante pelo mundo, tem cobertura DozeNews.
Não íamos ficar de fora do último dos grandes eventos cardiológicos do ano: o congresso da AHA 2023.

Ao longo do sábado, domingo e ainda hoje pudemos acompanhar a apresentação de grandes trials. Selecionamos os principais para você ficar por dentro de todas as novidades.
SELECT Trial: o estudo mais esperado do ano!
O Congresso da AHA está entregando muito mais do que prometeu!
O evento foi palco da apresentação dos resultados do SELECT Trial, também publicados no NEJM.
Objetivo: partindo do pressuposto de que já existem evidências de que a Semaglutida, agonista GLP-1, reduz risco cardiovascular em diabéticos, os pesquisadores avaliaram a possibilidade da medicação ter efeito semelhante em pacientes com sobrepeso ou obesidade SEM diabetes, porém com alto risco cardiovascular.
População do estudo: 17.604 pacientes com ≥ 45 anos, doença cardiovascular e IMC ≥ 27 kg/m², sem diabetes.
Intervenção: Semaglutida 2,4 mg semanal (n = 8.803).
Controle: placebo (n = 8.801).
Desfecho primário: composto de morte cardiovascular, infarto não fatal, AVC não fatal.
Tempo de seguimento: ~39,8 meses.
Resultados:
Desfecho primário: 6,5% semaglutida versus 8% placebo (HR 0,80; IC 95% 0,72-0,90; P<0,001).
Descontinuação por eventos adversos: 16,6% versus 8,2% (P<0.001).
Conclusão: Semaglutida 2,4 mg semanal, comparado ao placebo, reduz morte cardiovascular, infarto não fatal e AVC não fatal em pacientes com sobrepeso/obesidade sem diabetes, porém com alto risco cardiovascular.
❗Calma, dozers!
Apesar de ser um resultado inédito e muito animador, será que já podemos incoporar na prática clínica sem críticas?
Sabemos que a etapa fundamental de generalização dos resultados até a prescrição no dia a dia exige análise crítica das evidências.
Por isso, fique ligado no episódio do DozeCast dessa semana, no qual debateremos os pontos fortes e limitações desse e dos demais estudos apresentados para que você desenvolva o pensamento crítico! Fique ligado!
AZALEA-TIMI 71: É possível anticoagular sem o risco de sangramento?
Imagine anticoagular um paciente com um risco baixíssimo de sangramento?
Sem dúvidas é o sonho de qualquer cardiologista.
E é essa a ideia dos inibidores do fator XI: teoricamente, essas medicações podem reduzir trombose sem impedir a homeostase, e, dessa forma, não aumentar tanto o tempo de sangramento.
O AZALEA-TIMI 71 foi um estudo de fase 2 que objetivou avaliar se o abelacimab (um inibidor do fator XI) seria capaz de reduzir sangramentos na anticoagulação de pacientes com FA quando comparado aos DOACs.
Randomizou 1287 pacientes com FA (idade média de 74 anos, sendo 44% mulheres) e indicação da anticoagulação para receber Abelacimab nas doses de 150 mg ou 90 mg/mês versus rivaroxabana 20 mg/dia.
O desfecho primário foi sangramento maior ou clinicamente significativo.
O tempo de seguimento foi de apenas 21 meses, uma vez que foi interrompido precocemente pela evidência clara de benefício da nova medicação.
Resultados:
Redução do desfecho primário em 67% no grupo da abelacimab 150 mg (HR 0.26; 95% CI 0.11-0.61); sendo uma redução de 74% para sangramentos maiores e de 93% para sangramentos gastrointestinais.
Taxas similares foram observadas na dose de 90 mg/mês
Sem dúvidas resultados que nos deixam bastante entusiasmados quanto ao potencial da nova medicação!
No entanto ainda há um longo caminho: aguardamos estudos fase 3, como o LILAC-TIMI 76, para avaliar o benefício dessa medicação na população (nesse caso em pacientes com FA e contraindicação para anticoagulação).
ORBITA 2: angioplastia é tratamento para angina?
Tudo em nome da ciência, desde que mantenha-se a aprovação no comitê de ética!
E o comitê de ética aprovou o estudo ORBITA, que realizou procedimento invasivo cego. Ou seja, o paciente não sabia se foi ou não submetido a angioplastia coronariana.
Para quem não sabe, esse estudo ousou questionar se o alívio dos sintomas após angioplastia coronariana (ATC) seria influenciado pelo efeito placebo. Nele, esse procedimento não melhorou tolerância ao exercício em pacientes com angina.
O ORBITA 2 incluiu pacientes com dor torácica sem uso de antianginosos + obstrução severa em pelo menos 1 vaso (≥ 70% no CATE ou angioTC) + isquemia comprovada (algum método funcional ou FFR).
Desenho do estudo:
Parada da tomada de medicações anti-anginosas 2 semanas antes;
Realização do procedimento (ATC ou placebo)
Avaliação seriada da ocorrência de angina e prescrição de antianginosos
Resultados:
301 pacientes randomizados: 151 ATC x 150 PLACEBO
Redução do escore de angina: 2,9 x 5,6 (OR, 2,21; 95% Cl, 1,41 - 3,47; P<0,001)
Conclusão: pacientes submetidos a angioplastia apresentaram melhor situação de saúde relacionada a angina.
Ufa… por um instante achei que meu mundo da DAC havia desabado rs. A angioplastia continua tendo benefício para tratar dor torácica!
Seguimos compreendendo cada vez melhor a DAC, mas ainda temos lacunas muito grandes a serem preenchidas.
Fique por dentro
Vamos citar, ainda, outros estudos de grande relevância que foram apresentados no congresso que você precisa conhecer:
Dia 1:
💊 DAPA-MI Trial: dapagliflozina oferece benefícios significativos em desfechos cardiometabólicos em pacientes com IAM, mas não afeta a mortalidade cardiovascular ou hospitalizações por IC.
🩸 MINT Trial: estratégia transfusional liberal não reduziu significativamente o risco de re-infarto ou morte em 30 dias.
💉 KARDIA-1: zilebesiran, uma medicação que reduz a produção de angiotensina no fígado por interferência com o RNA, aplicada a cada 3-6 meses foi eficaz na redução da PAS.
🤰🏻 POP-HT: um programa de telemonitoramento remoto no auxílio do controle da pressão arterial foi associado ao melhor controle da HAS em mulheres pós-parto que apresentaram HAS gestacional ou pré-eclâmpsia.
Dia 2:
🫀 ARTESIA Trial: em pacientes com FA Subclínica (assintomática e detectada por dispositivos de monitorização prolongada como marca-passos) a anticoagulação com apixabana preveniu eventos tromboembólicos, mas à custa do aumento de sangramento.
⚡Cardioversão elétrica dupla vs simples em obesos com FA: a cardioversão dupla resultou em maior sucesso na reversão para o ritmo sinusal, sem aumento na taxa de complicações ou desconforto pós-procedimento.
Como o Dia 3 está acontecendo nesse momento, traremos as novidades do último dia de congresso no nosso Instagram. Fique de olho!
Lembre-se: quinta-feira tem episódio do DozeCast com as atualizações do evento e a análise crítica dos principais estudos.