Cobertura do maior evento de cardiologia intervencionista do ano
TCT 2022
Copa do Mundo, para quem? Para os cardiologistas intervencionistas, o evento do ano já aconteceu: o congresso Transcatheter Cardiovascular Therapeutics (TCT, para os íntimos). Rolou na semana passada, em Boston-EUA.
Para todos os cardiologistas, a DozeNews selecionou os temas de maior relevância clínica:
PROTECTED TAVR
🥛 Copo meio cheio ou meio vazio? Choose your side.
Como reduzir o risco de AVCi após um TAVI, decorrente da chuva de cálcio e debris que se descolam da prótese degenerada?
Para isso foi desenvolvido o dispositivo Sentinel™, que funciona como um filtro posicionado nas carótidas do paciente e é retirado ao final do procedimento.
Ao final do procedimento pode-se ver o material embolizado (realmente assustador).
O estudo multicêntrico randomizado PROTECTED TAVR demostrou a segurança do Sentinel mas não evidenciou redução dos AVCs ou morte relacionados à TAVI!
Importante notar que houve 60% de redução de AVCs desabilitantes (0,5% vs 1,3%; p = 0,02). Foi um desfecho secundário, mas mantém a esperança de benefício futuro para justificar o custo do dispositivo.
A Doze promoveu discussão desse artigo na comunidade Cardiograma da SD Conecta! Clica aqui e deixa sua opinião!
BEST TRIAL
🥊 Segue a luta do espaço dos stents na DAC multiarterial.
O BEST TRIAL novamente comparou a estratégia de revascularização percutânea vs cirúrgica na DAC multiarterial, dessa vez com um seguimento médio de 11,8 anos.
Apesar do baixo número de pacientes recrutados (438 PCI e 442 CABG), o desfecho principal (morte, IAM e nova revascularização do vaso-alvo) mostrou-se equivalente entre os grupos (29% PCI vs 25% CABG; HR: 1,18; CI 0,89-1,72).
Quando utilizado ultrassom intracoronariano (IVUS) para guiar a angioplastia, os desfechos maiores foram numericamente iguais aos dos pacientes submetidos a CABG, com o dobro de desfechos no grupo guiado apenas pela angiografia (22,8% vs 44,3%).
BYPASS-CTCA
🌉 Para facilitar a famosa pescaria de pontes.
Quem já acompanhou um CATE de um paciente revascularizado provavelmente notou o tempo prolongado do procedimento, maior uso de contraste e a reclamação do paciente durante e após o procedimento (sempre sobra para o clínico... rs).
Pois bem, o estudo BYPASS-CTCA (688 pts), unicêntrico randomizado, avaliou a realização de angioTC antes da angiografia invasiva em pacientes revascularizados. Desse modo, o hemodinamicista já conhece a patência e localização das pontes.
E deu certo!
• Redução de 66% no tempo do procedimento (17,4 ± 10,2 min vs 39,5 ± 16,9 min).
• Redução relativa de 92% de lesão renal aguda induzida por contraste (3,2% vs 27,9%).
• Aumento relativo de 40% no escore de satisfação do paciente.
• Redução de 80% das complicações (IAM, sangramento e AVC): 2,4% vs. 10,8%.
Se a moda vai pegar, não sabemos. Mas os hemodinamicistas ficariam menos descontentes em estudar as pontes aorto-coronarianas.
RADIANCE
🤞🏼 Desacreditar jamais!
Não é o Athletico-PR, mas a denervação renal, outrora desacreditada, parece estar dando as caras novamente.
O estudo RADIANCE demonstrou que a denervação renal com ondas de ultrassom através do dispositivo Paradise System (Recor Medical) em pacientes hipertensos não controlados e sem uso de medicações anti-hipertensivas (sim, estranho... por isso um estudo piloto), resultou em queda de 7,9 mmHg na pressão arterial média.
Após 8 anos da publicação do HTN-3 (trial que jogou o balde de água fria no procedimento), parece que a denervação ainda quer provar seu valor.
Controle glicêmico e os desfechos cardiovasculares
Ensaio Clínico Randomizado
“Nossa, doutor(a), mas eu nem como doce!”.
Resposta padrão de 99% dos pacientes que chegam no consultório com diabetes mal controlado rsrs.
Exageros a parte, sabemos a dificuldade que é o controle glicêmico do paciente no consultório. E, hoje, a nossa receita tem que ir muito além da metformina + gliclazida.
E foi dessa dificuldade que surgiu o GRADE Study: mais de 5000 pacientes com DM tipo 2, já em uso de metformina, randomizados para receber insulina glargina vs glimepirida vs liraglutida vs sitagliptina.
E daí saíram 2 estudos publicados no NEJM:
Glycemic Outcomes: avaliar o desfecho primário de hemoglobina glicada (HbA1c) < 7%;
Microvascular and Cardiovascular Outcomes: como o nome já diz, avaliou desfechos microvasculares e cardiovasculares.
A insulina glargina e a liraglutida tiveram resultados semelhantes em relação ao controle glicêmico, e foram melhores que as demais medicações.
Mas o que nos interessa é que não houve diferença em relação a desfechos cardiovasculares e complicações microvasculares (como albuminúria ou neuropatia) entre os grupos, após seguimento de 5 anos.
Mais um estudo que não conseguiu demonstrar o benefício do controle estrito da glicemia em diabéticos na redução de eventos cardiovasculares.
Porém, lembramos que o estudo não foi desenhado para esse objetivo. Ainda precisamos de mais trials com essas novas medicações e metas melhor definidas de controle glicêmico para auxiliar nossas condutas.
A guerra e suas consequências na ciência
Caiu na Mídia
Já são mais de 200 dias de guerra na Ucrânia. Na semana em que o presidente russo, Vladimir Putin, demostrou não haver previsão para o fim desse terror ao convocar mais de 300 mil reservistas e fazer ameaças do uso de armas nucleares contra o ocidente, nos perguntamos qual as consequências desse momento sombrio para a ciência.
A revista Nature publicou um editorial que resume como esse período bélico tem afetado a produção científica.
Os principais impactos são na Ucrânia, onde mais de 20 mil pesquisadores tiveram que abandonar seus centros de pesquisa, ou os tiveram completamente destruídos.
Já na Rússia, os pesquisadores sofrem com as sanções estabelecidas pelos países ocidentais, incluindo o cancelamento de projetos em conjunto com os EUA e países europeus.
Assim, além dos prejuízos socias, culturais e econômicos de um período de guerra, voltamos várias casinhas em relação à ciência.
Make love, not war ✌🏼.
Imagem da Semana
Paciente em investigação de etiologia de IC com Fração de Ejeção Reduzida, realizou ressonância magnética cardíaca com critérios positivos para síndrome do Miocárdio Não-Compactado: relação do miocárdio não-compactado pelo compactado > 2,3 na diástole; massa do miocárdio não-compactado > 20% da massa total do VE.
Lembre-se: além da imagem é importante correlacionar com aspectos clínicos para fechar o diagnóstico da síndrome. Aprenda mais sobre o tema ouvindo o episódio #49 do DozeCast!
Errata: Imagem da Semana Passada
Pedimos desculpas, Dozers. Nosso redator deu uma de R1: fez besteira. A imagem da semana passada era um belo Takotsubo medioventricular: há acinesia da região média do VE e hipercinesia das porções basais e apicais.
Fique por dentro
Ainda tem mais do TCT 2022
💊 RIVARAD: uso de Rivaroxabana 10mg por 7 dias após o CATE reduziu a taxa de trombose de artéria radial, com aumento de complicações hemorrágicas.
⚡️ Dispositivos de oclusão de apêndice atrial: Amulet foi superior ao Watchman com algumas ressalvas com relação a complicações.
🔉 Ultrassom para punção de acesso femoral? Falhou em demonstrar redução de sangramento e complicações. Esse comentário publicado no JAMA ainda defende fortemente a técnica.
⛓ FAVOR III: o Quantitative Flow Ratio (QFR), avaliação funcional realizada pela angiografia por alguns softwares, mostrou redução de desfechos em 2 anos.
🫀 CLASP IID trial: comparação entre dispositivos para insuficiência mitral - Pascal x Mitraclip.
💊 Saiu no JACC o MASTER-DAPT! Estudo apresentado no ESC que demonstrou benefício da manutenção da DAPT por apenas 1 mês após angioplastia com stent farmacológico em pacientes de alto risco de sangramento.