Há espaço para a colchicina na DAC?
Ensaio Clínico Randomizado (Circulation)
Sim, ainda estamos insistindo nessa ideia rs. Mesmo após os resultados positivos de estudos como o COLCOT e o LoDoCo2 na prevenção de eventos cardiovasculares com o uso da colchicina, essa moda ainda não pegou.
Exemplo disso é última diretriz da AHA de DAC (2023) que coloca o uso da colchicina na prevenção secundária com um nível de recomendação apenas IIb.
Para tentar dar uma “forcinha” à colchina, essa semana foi publicado no Circulation o estudo COLOCT, que, por meio da tomografia de coerência óptica (OCT), objetivou avaliar a estabilidade das placas coronárias nos pacientes em uso dessa droga.
Incluiu 128 pacientes com síndrome coronariana aguda e placas ricas em lipídios randomizados para receber colchicina (0,5 mg/dia) ou placebo por 12 meses.
E os resultados?
A terapia com colchicina reduziu de forma significativa alguns marcadores de instabilidade (aumentou a espessura mínima da capa fibrosa das placas, reduziu o lago lipídico e diminuiu a extensão de macrofágos).
Também foram observadas reduções significativas nos níveis de proteína C-reativa de alta sensibilidade, interleucina-6 e mieloperoxidase, indicando um efeito anti-inflamatório.
Apesar de pequeno, este estudo proporciona insights valiosos sobre o papel da colchicina como um tratamento anti-inflamatório na gestão da estabilidade das placas coronárias, ressaltando a importância de considerar opções terapêuticas que visem componentes inflamatórios da DAC.
Trombose subclínica na TAVI
Artigo de Revisão (JACC)

Nem só de alegrias vive a TAVI. A intervenção em cardiopatia estrutural mais popular em todo mundo apresenta ainda pontos a serem estudados.
Dentre eles, a presença de trombose subclínica de seus folhetos acomete cerca de 10 a 20% dos pacientes que realizaram o procedimento! Realmente não é de se desprezar…
Por isso, o JACC publicou, nesta semana, uma revisão sobre o tratamento da trombose subclínica dos folhetos das próteses implantadas por intervenção percutânea! Grandes especialistas como Cabau, Mehran, Ole de Baker e Mieghem estão entre os autores. Realmente imperdível.
Pontos principais:
A trombose clínica está associada a eventos cardioembólicos, AVC, disfunção de prótese, insuficiência cardíaca e IC.
Já a trombose subclínica ainda é ponto de discussão entre os especialistas. Não sabemos exatamente seu significado clínico e relevância a longo prazo quanto a desfechos clínicos e durabilidade da prótese.
O uso de varfarina e DOACs reduz a incidência de trombose subclínica, PORÉM à custa de sangramento e morte por todas as causas.
Assim, a monoterapia antiagregante plaquetária como terapia antitrombótica padrão para pacientes submetidos a TAVI já é bem estabelecida;
Por outro lado, estudos como o GALILEO e o ATLANTIS falharam em demonstrar benefício do tratamento preventivo da trombose subclínica com anticoagulantes, sendo assim contraindicado.
O tratamento proposto para a trombose subclínica inclui, a princípio, seguimento próximo com angioTC e ecocardiograma, com indicação de tratamento anticoagulante se sinais de deterioração hemodinâmica da prótese.
Em pacientes com trombose clínica e com resposta insatisfatória a anticoagulação, deve-se avaliar a realização de trombolíticos em dose baixa e administração ultralenta. Em último caso, refazer TAVI ou trocar cirurgicamente são opções terapêuticas.
A figura central do artigo propõe um fluxograma da trombose da TAVI. Vale a pena a leitura.
Senta e levanta
Ensaio clínico randomizado (Circulation)
Imagine a cena: um grupo de trabalhadores de escritório, entre 18 e 65 anos, com PAS de 120 a 159 mmHg ou PAD entre 80 e 99 mmHg, aceitam o desafio de trocar parte do tempo sentados por atividades mais dinâmicas no ambiente de trabalho.
A ideia era simples: menos tempo sentado, menor PA e, de quebra, uma melhora na velocidade da onda de pulso (VOP).
Mas, como já sabemos, na teoria é uma coisa, na prática, é outra história.
O estudo RESET-BP, liderado por Bethany Barone Gibbs e sua equipe, tentou responder a essa questão de forma científica. Eles recrutaram 271 participantes, dividindo-os em dois grupos: um recebeu uma intervenção para reduzir o comportamento sedentário (CS) e o outro grupo, bem... não fez nada.
A ideia? Trocar de 2 a 4 horas sentados por tempo em pé ou caminhando, usando uma mesa que se ajusta para trabalhar em pé e um dispositivo de pulso que incentivava a movimentação.
Após três meses, esperava-se uma queda significativa na PA e na VOP, já que o grupo de intervenção conseguiu reduzir o tempo sentado em 1,15 horas por dia, aumentou o tempo em pé em quase uma hora e ainda adicionou alguns minutos de caminhada ao dia. No entanto, os resultados não seguiram o script otimista.
A redução na PA? Quase inexistente.
As diferenças na PA sistólica e diastólica entre os grupos foram mínimas e, na prática, irrelevantes (−0,22±0,90 e 0,13±0,61 mmHg).
E a tal da VOP, que esperávamos que melhorasse?
Teve até resultado contrário: ficar em pé fora do trabalho ajudou um pouco, mas, durante o expediente, piorou a VOP carótida-femoral.
No final, a intervenção, apesar de promissora, não alcançou os resultados esperados. A ideia de reduzir o tempo sentado no trabalho parece ótima, mas os resultados mostram que talvez seja necessário repensar as estratégias.
A lição é simples: mesmo as hipóteses mais promissoras podem nos surpreender. E o desafio de combater o sedentarismo continua, mas talvez seja hora de pensar fora da caixa... ou melhor, fora da cadeira.
FA nas alturas
Caiu na Mídia
O futebol foi marcado por sustos cardiológicos na última semana: na mesma noite que presenciamos o mal súbito do lateral Juan Izquierdo do Nacional-UR em São Paulo, o técnico Tite precisou ser internado no Rio de Janeiro após passar mal na altitude de La Paz no jogo do Flamengo x Bolívar.
Em relatório informado pelo próprio clube no dia seguinte, relatam a ocorrência de uma fibrilação atrial.
Nossas cabecinhas cardiológicas imediatamente geraram a seguinte dúvida: há associação entre a altitude e ocorrência de FA?
A resposta é sim. Alguns estudos já demonstraram a associação entre grandes altitudes e o risco de evolução com FA.
Entre eles uma interessante revisão do Nature Reviews avaliou as consequências cardiovasculares da exposição à altitude.
Nela, destaca-se que a hipóxia induzida por altas altitudes ativa o sistema adrenérgico, o que resulta em aumento da frequência cardíaca, além do aumento da pressão arterial pulmonar e das câmaras direitas devido à vasoconstrição pulmonar hipóxica.
Dessa forma, pode estar associada ao aumento do risco de arritmias, como fibrilação atrial nos pacientes com fatores predisponentes.
Imagem da Semana
Valvoplastia aórtica realizada por técnica biradial devido a importante doença arterial periférica femoral. Esse belíssimo caso foi apresentado no congresso da SBHCI deste ano.
Fique por dentro
🧑🏻🦽 Intervenções estruturais são importantes alternativas nos pacientes com IC avançada? Veja essa revisão publicada no JACC.
💻 O uso da imagem intravascular como guia na angioplastia, em uma interessante revisão do JACC:Asia.
⭕ Hipertensão arterial sistêmica associada à pior reserva coronariana, alterações estruturais e pior prognóstico em estudo do Circulation.
💊 Semaglutida: estudo publicado no The Lancet mostra benefício em pacientes obesos com IC.