Começo de ano animado é assim
Diretriz nova, LDLc no escore de cálcio e revisão de doença da microcirculação
Diretriz sobre Dispositivos Cardíacos
Diretriz Brasileira
Deu nem tempo de começarmos a descumprir nossas promessas de ano novo, e a Sociedade Brasileira de Cardiologia já lançou uma nova diretriz: Diretriz Brasileira de Dispositivos Cardíacos Eletrônicos Implantáveis.
Pelo menos aquela promessa de estudar e se atualizar, nós vamos te ajudar a cumprir rsrs.
Vamos dividir por dispositivo implantável para facilitar?
Marca-Passo (MP) convencional e suas programações:
A diretriz destrincha
bastanteas principais situações, incluindo doença do nó sinusal, bloqueios atrioventriculares, hipersensibilidade do seio carotídeo, síncope vasovagal.
Sem grandes novidades por aqui. Deixa essa discussão para os arritmologistas.
Terapia de ressincronização cardíaca (TRC):
A recomendação Ia continua sendo pacientes com ICFEr sintomática em ritmo sinusal, com BRE e QRS ≥150ms, com FEVE ≤ 35%.
Mais uma definição importante: se indicação de MP por BAV em pacientes com IC FEr < 40%, há indicação já de TRC.
Cardiodesfibrilador Implantável (CDI):
Esse aqui subiu de categoria: se na nossa diretriz de IC a recomendação IA é apenas para cardiopatia isquêmica e IIa A para não-isquêmica com FEVE ≤ 35%; nessa nova diretriz os não-isquêmicos escalaram para indicação I B.
Muito legal foi terem destrinchado outras cardiopatias específicas, como cardiomiopatia hipertrófica, doença de Chagas, miocárdio não-compactado e cardiopatia arritmogênica.
A diretriz finaliza com recomendações quanto à monitorização dos dispositivos, realização de procedimentos e exames como ressonância magnética, além da prevenção e tratamento das infecções.
Revisão do conceito de risco cardiovascular do LDLc
Coorte
Começo de ano é sempre bom para refletir e rever conceitos (o que pode ser perturbador).
Mas, vale a pena refletir sobre o conceito de risco cardiovascular “heterogêneo”: fatores de risco não apresentam importância igual em todos os indivíduos.
E o questionado da vez foi o nosso arquirrival: o LDLc.
Um registro dinamarquês (sim, sempre eles) avaliou se o LDL elevado em pacientes com escore de cálcio (CAC) zero seria assim tão perigoso.
Como funcionou:
Foram 23.132 pacientes submetidos a angioTC de coronárias para avaliação de DAC e acompanhados por 4,3 anos.
Resultados:
LDLc não relacionado a eventos (IAM e AVC) em pacientes com CAC = 0.
LDLc associado a aumento de eventos em pacientes com CAC>0.
Fatores de risco independentemente associados a IAM e AVC em pacientes com CAC = 0: diabetes, HDL baixo e tabagismo.
LDLc parece ser um vilão que não trabalha sozinho: em pacientes não idosos com escore de cálcio zero, o LDLc não é (a médio prazo) importante indicativo de eventos cardiovasculares.
O trabalho reforça o papel modificador do escore de cálcio na avaliação de risco e tomada de decisões compartilhada sobre intensificar ou não tratamento hipolipemiante.
Vasoespasmo e distúrbios da microcirculação: doem no paciente e no cardiologista
Artigo de Revisão
Você também sente uma leve angina junto ao paciente com suspeita de vasoespasmo e distúrbios da microcirculação, pela dificuldade no diagnóstico e no tratamento?
O BMJ nos presenteou com um belo artigo de revisão traçando o caminho das pedras dessas patologias!
Vamos direto para os highlights:
As principais causas de isquemia miocárdica sem DAC obstrutiva são vasoespasmos e distúrbios da microcirculação.
O diagnóstico pode ser feito a partir do teste de função coronária (TFC), que consiste em provocação de espasmo e medições da reserva de fluxo coronário (RFC) e da resistência microvascular (RMV) no cateterismo.
Classificação dos distúrbios de acordo com os resultados do TFC: espasmo epicárdico; espasmo microvascular; vasodilatação prejudicada devido à diminuição da RFC (com fluxo de repouso normal ou aumentado); e vasodilatação prejudicada devido ao aumento da RMV.
O tratamento farmacológico depende do subtipo diagnosticado:
BCC e nitratos de ação prolongada para espasmos epicárdicos e microvasculares;
Betabloqueadores, ivabradina, IECA/ BRA e estatinas para pacientes com baixa RFC ou alta RMV.
Para paciente com angina refratária, ranolazina e estimuladores de guanilato ciclase solúvel e antagonistas de receptor de endotelina podem ser tentados de forma off-label.
Larguem os livros, o BBB começou
Caiu na Mídia
Quem não acompanha o BBB que atire a primeira pedra, não é?
Já na primeira semana tivemos algumas pérolas que valeriam para uma edição inteira.
A campeã da vergonha alheia, até o momento, é a senhorita Bruna Griphao (e não é pelo papelão com o Gabriel-Anitto).
Conhecida por pregar hábitos saudáveis e ter um "corpo exemplar”, a sister pegou todos de surpresa ao se demonstrar uma bela fumante.
Viemos lembrar que corpo sarado não é sinal de saúde e que o tabagismo é um dos principais fatores de risco para eventos coronarianos, principalmente em jovens (< 45 anos).
Estudo publicado no JACC, em 2019, demonstrou que, nesse grupo, tabagismo, sexo masculino e história familiar são os principais fatores de risco associados a síndrome coronariana aguda. O prognóstico desses pacientes no estudo foi ruim, com evolução a morte em 6,3% deles em uma média de 8 anos.
A lição que fica é óbvia: não adianta ter um corpão exemplar, e ao mesmo tempo estar usando substâncias tóxicas como anabolizantes, álcool, drogas e cigarro (incluindo os pen-drives).
Imagem da Semana
Belo flap em aorta ascendente no ecocardiograma transtorácico, durante avaliação de paciente com suspeita de dissecção de aorta Stanford A.
Fique por dentro
🦴 Algum ortopedista por aí? Estudo publicado no NEJM demonstrou não-inferioridade do AAS vs HBPM na profilaxia de TEV após fratura pélvica e de acetábulo.
💊 Mais uma evidência positiva para a nova medicação queridinha: Mavacamtem melhorou os parâmetros no teste cardiopulmonar em pacientes com cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva.
💦 Estado da arte publicado no JACC identificou a albuminúria como marcador de risco na IC.
🦠 Inibidores da PCSK9 contra COVID? Estudo randomizado com apenas 60 pacientes demonstrou que o uso dessa medicação no COVID grave reduziu morte, necessidade de intubação orotraqueal e níveis de IL-6.
🫀 TAVR vs SAVR: metanálise com 8698 pacientes (8RCTs) demonstrou não-inferioridade da TAVR em comparação à cirurgia, independentemente do risco cirúrgico.
🏃🏻♀️ Cardiovascular Health Study: atividade física relacionada a menos distúrbios de condução.
💉 ORION-3: Inclisiran mantém redução de LDLc a longo prazo.
🧠 Terapia cognitivo comportamental associada a maior aderência à reabilitação cardiovascular, melhor qualidade de vida e menor taxa de readmissão hospitalar.