Comprimido de AAS: revestidos ou não?
Estratificação de MS na CMH e fatores de risco modificáveis
Como estratificar o risco de morte súbita na CMH
Coorte (EHJ)
Uma das maiores dúvidas no estudo do paciente com cardiomiopatia hipertrófica (CMH) é quando indicar o implante do CDI para profilaxia primária.
Há uma divergência nas recomendações europeias e americanas. Vamos entender:
🇪🇺 Os europeus:
Em 2014, a ESC publicou um escore para estratificação do risco de morte súbita em pacientes com CMH (ESC Risk-SCD score), que incluía variáveis como espessura máxima da parede, tamanho do átrio esquerdo, gradiente da via de saída, história familiar de morte súbita, história de síncope e/ou TVNS e idade.
🇺🇸 Os norte-americanos:
Na sua diretriz de CMH de 2020, a AHA recomenda o implante do CDI para prevenção primária de morte súbita (MS) em pacientes com algum dos fatores de risco (história familiar, hipertrofia > 30 mm, síncope, aneurisma apical ou FEVE < 50%) ou se presença de fibrose miocárdica extensa (> 15% da massa do VE).
Ou seja, até aí a ESC não dava bola para a presença de fibrose na ressonância magnética cardíaca (RMC), enquanto a AHA não segue o ESC Risk-SCD score.
Tiveram que vir os chineses 🇨🇳 para encontrar um meio termo: tentaram validar um modelo baseado na carga de fibrose em associação ao ESC Risk-SCD score na predição de MS na CMH.
Foram incluídos 774 pacientes com o diagnóstico de CMH submetidos a RMC, dos quais 46 (5,9%) evoluíram com morte súbita.
Na predição desse evento, o modelo que incluiu o ESC Risk-SCD + presença de fibrose extensa foi o melhor (área abaixo da curva de 0,76).
Já nos pacientes sem fibrose extensa (< 15%), aqueles com realce tardio > 5% apresentaram risco de morte súbita 7x maior que aqueles sem realce na RMC.
Assim, o estudo fortalece a importância da pesquisa de realce tardio na estratificação de risco de morte súbita nos pacientes com CMH, em associação aos demais fatores já conhecidos.
Fatores de risco modificáveis e doenças cardiovasculares (DCV)
Revisão sistemática (NEJM)
Quais os principais fatores de risco modificáveis para a ocorrência de DCV? Como eles se apresentam de acordo com o sexo e a região geográfica do globo?
Apresentamos uma síntese das descobertas fundamentais publicadas no New England Journal of Medicine na forma de artigo original que podem impactar nossa prática clínica.
Foi um estudo abrangente, no qual os pesquisadores analisaram dados individuais de 112 estudos de coorte, englobando 34 países e 8 regiões geográficas. Os principais achados foram:
Cinco fatores de risco modificáveis: HAS, tabagismo, glicemia elevada, IMC elevado e colesterol total elevado. HAS foi a mais prevalente em todas as regiões e sexos.
Implicações Clínicas: a presença desses fatores correlaciona-se com um risco elevado de DCV e morte por qualquer causa.
Vigilância e Monitoramento: a necessidade de acompanhamento contínuo desses fatores foi reiterada, visando não apenas monitorar progressos mas também identificar áreas específicas de melhoria.
Pontos de Atenção: enquanto o estudo se beneficia de uma vasta amostra e métodos padronizados de coleta, devemos estar cientes da dependência de dados auto-relatados e do potencial de confusão residual.
A pesquisa reforça a essencialidade do nosso papel enquanto cardiologistas na identificação, intervenção e educação dos pacientes sobre estes fatores de risco.
Continuemos a trabalhar juntos para minimizar o impacto das DCV em nossa população!
Comprimido de AAS revestido ou não?
Análise post-hoc de ECR
Os comprimidos revestidos (aqueles com uma camada externa de polímeros ou outras substâncias) de AAS surgiram na ideia de reduzir a irritação gástrica e consequentemente sangramento gastrointestinal. O famoso AAS protect.
A plausibilidade ganhou muita atenção, mas, por outro lado, alguns estudos sugeriam que os comprimidos revestidos poderiam ter menor eficácia na redução de eventos trombóticos.
Para avaliar a diferença entre essas apresentações, foi realizada uma análise post-hoc do estudo ADAPTABLE, um estudo pragmático de 15.000 pacientes em uso de AAS, que comparou doses de 81mg versus 325mg, em um seguimento médio de 26 meses.
Desses participantes, 10.000 relataram a apresentação do comprimido da aspirina. Cerca de 7.000 utilizaram comprimidos revestidos e 3.000 não revestidos.
Ao final da análise, não houve diferença significativa tanto no desfecho primário de eficácia (infarto, AVC e mortalidade - aHR 0.94, IC 0.8-1.09, p = 0.4), quanto no de segurança (sangramento maior - aHR 0.82, ICO 0.49-1.37. p = 0.46).
Vale a observação da tendência numérica de mais sangramento intestinal com comprimidos não revestidos, apesar de não atingir significância estatística.
Prêmio Nobel de Medicina
Caiu na Mídia
Essa semana, foram divulgados os ganhadores do Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia 2023: Katalin Karikó e Drew Weissman, os cientistas da universidade da Pensilvânia cujas descobertas sobre as modificações nas bases nucleotídicas permitiram o desenvolvimento das vacinas de mRNA contra a covid-19.
O fun fact fica por nossa conta, e, baseados em artigo de revisão publicado nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, aproveitamos para relembrar outros vencedores do prêmio Nobel por estudos que influenciaram na forma como atuamos na cardiologia:
Alexis Carrel (1912) - desenvolveu técnicas de sutura dos vasos sanguíneos e influenciarão amplamente as futuras cirurgias cardiovasculares;
Willem Einthoven (1924) - o pai do nosso querido eletrocardiograma;
Werner Otto Theodor Forssmann, André Cournard e Dickinson Richards (1956) - responsáveis pelo primeiro cateterismo.
Konrad Bloch e Feodor Lynen (1964) - descreveram o seu metabolismo do colesterol.
James Black, Gertrude Elion e George Hitchings (1988) - sintetizaram os primeiros beta-bloqueadores.
Para o Brasil, fica a frustração de Carlos Chagas, que descreveu todo o ciclo da doença que recebe o seu nome, nunca ter recebido o devido reconhecimento no prêmio.
Imagem da Semana
Reconstrução em 3D de angiotomografia do coração evidenciando a presença de aneurisma na parede inferior associado a infarto do miocárdio.
Para quem ama manchetes
🚠 No bonde das cardiomiopatias hipertróficas: nova escala de classificação ecocardiográfica do acometimento cardíaco na doença de Fabry.
🧠 Porque cardiologista também precisa saber manejar AVC: revisão do JACC sobre terapia antitrombótica nos eventos isquêmicos cerebrais.
🧒🏼 Quando e como fazer a investigação de hipercolesterolemia familiar em crianças.
🎈 Um novo balão intra-aórtico? Primeiros resultados de performance e segurança do Aortix, um dispositivo de assistência ventricular intra-aórtico.
😴 Uso do CPAP por mais de 4h em pacientes com SAOS e história de doença cardiovascular reduziu desfechos cardíacos em metanálise publicada no JAMA.
💻 Padrões de realce tardio na RMC nas cardiomiopatias não-isquêmicas: uma correlação genótipo-fenótipo.
Oi Alice! Pedimos desculpas pela falha de não ter saído com o link 😓 (alô estagiário, corre aqui! rs). Estamos enviando no seu e-mail o artigo!
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