Cuidados paliativos na cardiologia

Nem sempre é sobre o fim

Autora: Maria Júlia Souto (cardiologista e especialista em imagem cardiovascular pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia

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Você ainda associa cuidados paliativos àquele momento em que “não há mais nada a fazer”?

Pois é… Você não está sozinho. Essa visão ainda é dominante entre médicos, pacientes e até gestores de saúde.

Durante muito tempo, os cuidados paliativos foram erroneamente reduzidos ao estereótipo do “conforto no fim da linha” — algo reservado apenas à fase terminal, muitas vezes ativado quando tudo já parecia perdido.

Mas a ciência (e a própria cardiologia) estão pedindo uma mudança urgente nesse olhar.

O novo posicionamento da American Heart Association traz um recado direto: cuidados paliativos não são apenas para os momentos finais, e sim uma abordagem fundamental ao longo de todo o curso das doenças cardiovasculares avançadas. O foco não é a morte, e sim a qualidade de vida, desde os primeiros sinais de sofrimento.

Na prática, todo paciente com doença cardíaca complexa, sintomática, progressiva — e mesmo com sobrevida longa — pode e deve ser beneficiado por uma abordagem paliativa precoce, coordenada, humana e baseada em evidências. E que nós, cardiologistas, temos um papel ativo nisso. Não se trata de esperar o paliativista entrar em cena, mas de incorporar esses princípios no nosso cuidado cotidiano.

Nesta edição da Prime, vamos mostrar como os cuidados paliativos cabem (e precisam caber) na rotina da cardiologia moderna — da insuficiência cardíaca com dispositivos de assistência à angina refratária, do manejo de sintomas à desativação ética de dispositivos, da comunicação difícil à inclusão de populações historicamente negligenciadas.

Nosso objetivo é deixar pra trás o rótulo de que “paliativo é desistir”.

Ou você muda sua visão sobre os cuidados paliativos com esta edição, ou o seu dinheiro de volta! (mentira rs, o chefe não permitiria).