Desigualdade social e o coração • Estatina com ou sem Ezetimiba • Impacto CV da MEV
Os egípcios voltaram
Só está faltando um empurrãozinho?
Artigo Original
É só estimular que as pessoas começam a aderir a um estilo de vida mais saudável?
Vamos testar. Foi publicado no European Heart Journal, um estudo no qual foram randomizados 1.020 participantes (idade média de 50±4 anos), dos quais 510 foram atribuídos à intervenção e 510 ao grupo controle (cuidados usuais).
Sobre a intervenção: consistiu em 9 entrevistas motivacionais durante o primeiro ano, seguido por mais três sessões entre os anos 1 e 3.
E os resultados? A intervenção foi capaz de melhorar os comportamentos de estilo de vida e métricas cardiovasculares (pressão arterial, exercício, peso, alimentação e tabagismo). No entanto, foi observada atenuação do efeito no ano 3.
Detalhe: o efeito foi pior em quem já tinha alta carga de aterosclerose, e foi mais persistente no grupo de pacientes com carga basal baixa de aterosclerose subclínica.
Já diziam nossas avós: “pau que nasce torto não se endireita”.
Os achados reforçam a importância de buscarmos metodologias que garantam engajamento por tempo prolongado de hábitos protetores da saúde cardiovascular.
Rosuva 20mg ou Rosuva 10mg + Ezetimiba 10mg?
Ensaio Clínico Randomizado
Será que associar ezetimiba à estatina de moderada potência é superior à altas doses de estatina em monoterapia?
Pensando em reduzir efeitos colaterais e mantendo a eficácia, a associação das medicações pode ser uma boa alternativa.
Para responder essa pergunta, um estudo da Coreia do Sul ganhou publicação no The Lancet, quando randomizou 3.780 pacientes com DAC comprovada, nos seguintes grupos:
Rosuvastatina 20mg
Rosuvastatina 10mg + Ezetimiba 10mg
O estudo foi desenhado para avaliar a não inferioridade da combinação, em análise por intenção de tratar, através de um desfecho primário composto de:
Morte cardiovascular em 3 anos
Eventos cardiovasculares maiores
AVC não fatal

O desfecho aconteceu de maneira estatisticamente semelhante entre os grupos: 9,1% dos pacientes em terapia combinada e 9,9% na estatina em monoterapia de alta potência.
Porém, ao avaliarmos o nível de LDL colesterol, a quantidade de pacientes com LDL < 70 mg/dl após 3 anos foi de 72% no grupo da terapia combinada para 58% na monoterapia (p < 0,0001). Além disso, a descontinuação da droga por intolerância foi maior no grupo da estatina isolada (8,2% para 4,8%; p < 0,0001).
Ao considerar a não inferioridade para o desfecho composto, a maior efetividade em deixar LDL na meta e a maior aderência dos pacientes, a associação parece ser mais eficaz que a estatina em alta dose isoladamente.
Essa é a mistura do Brasil e Egito
Artigo Original
AAAAALIBABA. Já cantava É o Tchan para contar a história da mistura do Brasil com o Egito.
E quem acompanha o DozeCast sabe que somos fãs dos egípcios rsrs.
Brincadeiras a parte, os egípcios trouxeram um belo artigo publicado nos nossos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, no qual avaliam como a desigualdade social afeta desfechos após o infarto agudo com supra de ST (IAMcST).
Avaliaram 570 pacientes com IAMcST e dividiram em 2 grupos quanto ao tempo de apresentação na emergência:
< 12h do início da dor
> 12-24h do início da dor.
Os principais preditores para a apresentação “fora do tempo” foram:
- Escolaridade (OR 4,357 (IC95% 1,087–17,47)); isolamento social (OR 4,390 (IC95% 1,158–16,64)) e desconhecimento sobre os benefícios da revascularização precoce (OR 4,396 (IC95% 1,652–11,69)).
Além disso, conforme esperado, os pacientes do grupo entre 12-24h apresentavam piores desfechos clínicos.
Ou seja, os egípcios deixaram sua lição: educar a nossa população sobre a síndrome coronariana aguda e quando procurar ajuda é essencial para melhorar os desfechos nos atendimentos.
E agora José, o contraste acabou?
Caiu na Mídia
Como se a saúde brasileira já não tivesse problemas suficientes, há algumas semanas, o mundo sofre a angústia da escassez do contraste iodado.
Tudo aconteceu porque os prolongados lockdowns pelo COVID-19 na China prejudicaram a cadeia de produção dessa substância.
A sociedade brasileira de cardiologia em conjunto com as sociedades de radiologia alertaram sobre essa temor e listaram medidas para o uso racional do contraste nas próximas semanas.
Até o JAMA trouxe um estudo apresentando algumas formas de economizar o uso da substância nas tomografias.
A GE Healthcare, uma das principais produtoras na China, informou recentemente que os trabalhos já voltaram e estão “próximo a 100%”. Ou seja, a expectativa é que as coisas possam se normalizar em um futuro próximo.
Orações fervorosas.
Imagem da Semana
Paciente de 58 anos encaminhado ao pronto-socorro após ecocardiograma realizado por sinais de IC direita. TC de tórax com imagens sugestivas de implantes secundários. Provável tumor em átrio direito.
Fique por dentro
🧈 Lipoproteína(a) associada à estágios iniciais de calcificação da valva aórtica. Tem episódio inteiro sobre presente e futuro da Lp(a) no DozeCast.
🔪 Válvula Mitral - complicada e perfeitinha? Tão complicada que estudo publicado no HEART avaliou os desfechos após cirurgia de troca da válvula e os diferentes fenótipos.
⛓ Mais um artigo sobre a queridinha da vez: a TAVI. Relação entre a melhora da fração de ejeção e maior sobrevida em 5 anos após a troca valvar.
🔪 Alô cirurgiões, também lembramos de vocês. Estudo publicado no JAMA avaliou dose alta versus baixa de ácido tranaxêmico após cirurgia cardíaca.
💊 Revisão do JAMA sobre métodos contraceptivos em mulheres cardiopatas.
📺 Artigo do EHJ mostra poder prognóstico da análise do volume extracelular pela RM no tratamento de pacientes com amiloidose cardíaca.
⚡️ Revisão no Circulation sobre manejo da FA na ICFEP e ICFER.
🔪 Revisão do JACC sobre disfunção de biopróteses aórtica e mitral.
🦠 Avaliação do risco de miocardite após vacinação contra COVID-19 por meio da ressonância magnética.