É hora de individualizar
Diferentes cortes no IAM periprocedimento e na CMH. E ainda tem polêmica AMB x CFM!
Na edição de hoje:
⚡ Infarto periprocedimento: Nem toda variação de troponina assusta, mas quando ela deve realmente preocupar? Descubra o limiar que faz toda a diferença no prognóstico! 🔬
🫀 CMH: Tamanho único para todos? Um novo estudo desafia o corte tradicional de 15 mm e propõe um modelo ajustado por sexo, idade e superfície corporal. Será que estamos subdiagnosticando pacientes? 🤔
🍷 Álcool e coração: Um drink por dia ainda faz bem? Spoiler: o risco pode ser maior, principalmente para as mulheres. Descubra o que a ciência diz! 🚫🍻
🎓 Polêmica AMB x CFM: O RQE vai ter data de validade? Entenda o que muda para os novos especialistas e por que a briga está só começando. 💥
As armadilhas do infarto periprocedimento
Coorte (Circulation)
🔥 Segunda-feira daquele jeito... Dia de maldade, hora de jogar verdades científicas na roda e, quem sabe, perder a amizade com seu amigo da hemodinâmica!
O infarto periprocedimento é um daqueles temas que rendem discussões calorosas em trials e congressos.
Afinal, qual o real impacto da injúria miocárdica no prognóstico dos pacientes?
Um estudo publicado no Circulation veio com dados robustos para tentar responder essa questão.
Pesquisadores avaliaram 1.412 pacientes submetidos à angioplastia após IAM sem supradesnivelamento de ST (IAMSSST), acompanhando a variação da troponina no período periprocedimento e seus impactos em 1 ano. Foram categorizados em:
Sem injúria periprocedimento (62,6%);
Com injúria periprocedimento (20,4%) - variação de troponina maior que 20% em relação ao basal e >5x o limite superior da normalidade.
IAM tipo IVa periprocedimento (17%) - injúria associada a uma das seguintes alterações: alterações isquêmicas do ECG, nova onda Q no ECG, alteração segmentar ou de perda de viabilidade nova em exames de imagem, imagem de fluxo ausente ou limitante à coronariografia.
E os desfechos?
Pacientes que apresentaram IAM tipo IVa foram os que tiveram pior prognóstico em 1 ano.
Pacientes com variação de troponina entre 20-40% NÃO apresentaram pior prognóstico.
Já aqueles com aumento > 40% tiveram pior desfecho, com maior mortalidade em 1 ano, validando esse limiar para pior prognóstico.
O estudo tem grande valor do ponto de vista prático e nos mostra a importância em seriar a troponina e compreender qual a dinâmica confere pior prognóstico aos pacientes!
O fato é: a injúria e o IAM periprocedimento são deletérios e conferem aumento de mortalidade em 1 ano. Mas, calma garotinho, não é toda variação de troponina que deve nos assustar!
É hora de individualizar?
Coorte (JACC)
Descrito há mais de 50 anos, o critério diagnóstico para cardiomiopatia hipertrófica (CMH) é baseado em um limiar fixo de 15 mm de espessura da parede ventricular máxima (MWT) em adultos (ou 13 mm na presença de histórico familiar).
Será que essa ideia de "tamanho único” faz sentido para todos?
Um interessante estudo publicado no JACC apresentou a análise de 3 grandes coortes – uma população referência de indivíduos saudáveis, uma população geral e uma coorte de pacientes com CMH – totalizando mais de 50 mil indivíduos.
A ideia foi testar um modelo demográfico personalizado, ajustando os limiares de MWT por sexo, idade e superfície corporal.
De cara, os autores perceberam que o critério fixo de 15 mm gerava um viés brutal: diagnosticava muito mais homens do que mulheres (89% dos classificados como hipertróficos eram do sexo masculino).
Com o novo modelo, que ajusta o corte para algo entre 10 e 17 mm dependendo do perfil do paciente, o viés de sexo caiu de 8:1 para 1:1.
A partir daí, criaram uma ferramenta gratuita (HCM Calculator) que estima a MWT esperada para um paciente, calcula os valores de limiar para hipertrofia ventricular esquerda usando limites superiores baseados na população e gera Z-scores para quantificar o desvio em relação aos intervalos de referência normais.
Veja o exemplo a seguir:
Neste exemplo com uma paciente de 35 anos com uma espessura máxima de 14 mm, que ficaria de fora da classificação habitual, pela ferramenta fica claro que ela está bem acima do corte para a mesma idade, sexo e superfície corpórea, sugerindo-se uma investigação mais profunda (caracterização tecidual pela ressonância ou até testes genéticos).
Os pesquisadores validaram os cortes ajustados em uma coorte de pacientes com CMH clínica, demonstrando que o modelo personalizado reduziu vieses de diagnóstico, especialmente entre mulheres e indivíduos de menor superfície corporal. Isso reforça que critérios fixos podem levar a subdiagnóstico em certos perfis e que um modelo mais dinâmico reflete melhor a diversidade fenotípica da doença.
No entanto, vale destacar que o diagnóstico de CMH clínico não exigia a realização de testes genéticos, o que pode predispor à inclusão de fenocópias ou até variantes da normalidade.
Por fim, os novos critérios propostos são um avanço na personalização do diagnóstico da CMH, mas sua adoção na prática clínica exigirá validação prospectiva e a construção de um consenso entre as diretrizes internacionais.
Na prática, o limiar de 15 mm ainda é a forma mais simples e validada clinicamente para o diagnóstico da CMH. No entanto, avaliação mais individualizada por meio dos critérios demográficos e testes genéticos são o caminho para um diagnóstico mais preciso.
Álcool e Coração: o limite entre o prazer e o risco
Coorte (American Journal of Preventive Cardiology)
Se você ainda acredita que “um drink por dia faz bem ao coração”, é hora de revisar essa ideia!
Um estudo robusto com mais de 432 mil adultos entre 18 e 65 anos mostrou que o consumo excessivo de álcool aumenta o risco de doença arterial coronariana (DAC) – e o perigo é maior para as mulheres.
O estudo, realizado pelo Kaiser Permanente Northern California, utilizou dados de um programa sistemático de triagem de álcool e acompanhou os participantes por quatro anos. O consumo foi classificado em abaixo ou acima dos limites recomendados pelas diretrizes dos EUA (≤14 doses/semana para homens e ≤7 doses/semana para mulheres).
Quem bebeu acima dos limites teve um risco 26% maior de desenvolver DAC.
Entre os homens, o aumento no risco foi de 19%.
Entre as mulheres, o risco foi alarmante: 43% maior!
Beber muito em um único dia (binge drinking) não foi associado diretamente ao risco, mas combinado com o consumo semanal elevado, amplificou o problema.
Ao contrário do mito do “efeito cardioprotetor” do álcool, evidências mais recentes indicam que o consumo de álcool está associado a maior risco cardiovascular, especialmente em mulheres de meia-idade. A explicação pode estar em diferenças fisiológicas no metabolismo do álcool e em seu impacto sobre pressão arterial, inflamação e metabolismo lipídico.
🍻 Então, qual a medida certa?
O estudo reforça que a moderação é essencial – e, para muitos, reduzir o consumo pode ser o melhor caminho. Além disso, sociedades médicas ao redor do mundo, incluindo a OMS e diretrizes canadenses, vêm reduzindo o limite considerado “seguro” para o consumo de álcool, especialmente em relação ao risco de câncer e doenças cardiovasculares.
Seja por saúde cardíaca ou por qualidade de vida, a pergunta certa não é “quanto posso beber sem risco?”, mas sim “o que ganho ao reduzir ou eliminar o álcool da minha rotina?”.
RQE com data de validade
Caiu na Mídia
Mais uma polêmica nas sociedade médicas.
Mas intervir no charlatanismo nas redes sociais ninguém quer, né? rs
Vamos à novidade: a Associação Médica Brasileira (AMB) lançou uma exigência para médicos especialistas que forem certificados a partir de 15 de março de 2025. Agora, quem obtiver o título via provas das sociedades médicas precisará renovar o Certificado de Atualização de Título de Especialista (CATE) a cada 5 anos.
Ou seja, os novos especialistas terão que acumular 100 pontos em congressos, cursos e programas de educação continuada dentro de 5 anos para manter o CATE válido. Quem não alcançar a pontuação poderá recuperar o certificado cumprindo as atividades pendentes ou refazendo a prova de título.
💣 O CFM não gostou!
O Conselho Federal de Medicina (CFM) criticou a medida, argumentando que o CATE não pode se tornar um requisito para o exercício da especialidade, pois a Lei 3.268/1957 não prevê essa exigência.
Em nota, o CFM garantiu que nenhum médico com RQE ativo terá sua especialidade questionada ou revogada por falta do CATE e que a regulação do exercício da medicina é prerrogativa exclusiva do CFM (😮💨).
A AMB, por sua vez, defende que a atualização periódica é essencial, já que a medicina está em constante evolução. O CATE, segundo a entidade, não interfere no título de especialista, apenas comprova que o médico segue atualizado com os avanços da área.
Apesar da nobre defesa da atualização médica contínua, a falta de um acordo estruturado com o CFM e a forma como a exigência tem sido imposta fazem do CATE um certificado vazio, sem grandes benefícios práticos. Está longe de ser a solução ideal para manter os especialistas sempre atualizados.
Se o objetivo realmente é garantir atualização médica, que tal investir em tornar os cursos, congressos e simpósios mais acessíveis para todos? A educação médica continuada deveria ser estimulada pelo interesse e pela qualidade do conteúdo, e não por uma imposição burocrática.
Resumo da ópera: se você já tem título de especialista antes de março de 2025, nada muda. Mas para os novos especialistas, a atualização periódica agora faz parte do pacote. A briga entre AMB e CFM promete render…
E se os residentes cobrassem os seus direitos?
Caiu na Mídia (parte 2)
Esse vídeo vai em homenagem aos residentes que acabam a residência essa semana, todos aqueles prestes a iniciar e aos que continuam a saga rs.
Noite da sabedoria no meio do Carnaval tem que respeitar, hein?!
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