Precisamos rever as indicações de CDI na profilaxia primária?
Artigo de revisão (JACC)
Papai Noel já está batendo à nossa porta, Mariah Carey já foi devidamente descongelada e toca em todas as lojas de departamento, as passas já estão separadas na cozinha.
Sim, é fim de ano! E por que não utilizar esse momento para alguma reflexões?
O tratamento da insuficiência cardíaca (IC) sempre é tema de extensos debates, especialmente quando falamos das indicações de implante de CDI para a profilaxia primária.
Uma coisa é certa: o tratamento da IC evoluiu E MUITO no últimos 20 anos (época da publicação de estudos que embasam o implante de DCI na profilaxia primária, como o SCD-HeFT (2005) e MADIT II (2002)).
Dessa forma, alguns autores têm questionado o real benefício do implante do CDI nos pacientes com IC FER, no contexto de tratamento atual.
O estado da arte publicado no JACC: Heart Failure traz à tona os principais pontos desse debate:
Enquanto falamos de um tópico sensível que é a prevenção de morte súbita nos pacientes com IC, a indicação do CDI parece ser quase indiscutível. No entanto, não podemos esquecer que essa não é uma terapia completamente inócua, e é susceptível a diversas complicações, desde processos infecciosos a choques inapropriados.
Por outro lado, quando falamos do pleno benefício do quarteto fantástico na melhora de sobrevida dos pacientes com IC, falamos do uso adequado e otimizado dessas medicações. Sabemos ainda estar longe disso na maior parte dos pacientes, quando falamos de “mundo real”.
Além disso, ainda precisamos lembrar das limitações dos principais estudos e indicações: a sub-representação de grupos como mulheres e não-caucasianos e o uso apenas da fração de ejeção como corte (não há beneficio em diferentes fenótipos com base em outros marcadores, como a fibrose miocárdica?).
Assim, percebemos ainda estar distantes da indicação perfeita na prática.
A dica é não nos “cegarmos” às indicações presentes nas diretrizes e ensaios clínicos, precisamos ter censo crítico e conhecer as evidências para individualizar a prescrição.
A campeã no tratamento da obesidade
Ensaio clínico randomizado
Se no futebol, o Botafogo mostrou sua hegemonia sobre os demais times do Brasil, no combate à obesidade também tivemos uma grande campeã no apagar das luzes: a tirzepatida.
Na corrida por tratamentos mais eficazes para a obesidade, a Lilly divulgou resultados do estudo SURMOUNT-5, que comparou o Zepbound® (tirzepatida) com o Wegovy® (semaglutida).
A tirzepatida, um medicamento de ação dupla nos receptores GIP e GLP-1, demonstrou superioridade ao promover uma perda de peso média de 20,2% contra 13,7% com o Wegovy, o que representa uma diferença relativa de 47%.
Os números impressionam:
Participantes que usaram tirzepatida perderam em média 22,8 kg, enquanto os usuários de semaglutida perderam 15,0 kg.
Além disso, 31,6% dos pacientes no grupo da tirzepatida atingiram perda de peso acima de 25%, comparado a 16,1% no grupo da semaglutida.
E os efeitos colaterais?
A tirzepatida manteve um perfil de segurança similar ao observado em estudos anteriores, com efeitos adversos principalmente gastrointestinais, leves a moderados.
Como fica o futuro do tratamento da obesidade com a tirzepatida?
Além de sua aplicação no controle do peso, estudos estão em andamento para avaliar o impacto da tirzepatida em condições como insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada e apneia obstrutiva do sono.
Após o sucesso dos agonistas GLP1, a tirzepatida tem tudo para ser
mais umdivisor de águas no tratamento da obesidade, proporcionando uma inovação que pode transformar o cenário de saúde e ampliar as possibilidades de uma vida mais saudável e equilibrada.
Absurdos em longevidade
Publi
Viva 120 anos sem dores e blindado do câncer e da demência. Resultado Garantido.
É assustador como os braços do charlatanismo não param de crescer e de conquistar espaço no Brasil. Enquanto uma maioria silenciosa se mantém fiel à ética médica, se esforçando para entregar o que há de melhor e mais atualizado para os pacientes, não se pode negar que existe uma minoria de médicos fazendo muito barulho com condutas pra lá de absurdas.
Um dos assuntos que eles mais usam para enganar seus pacientes e vender seus protocolos anti científicos é a Longevidade. O sonho de viver até os 90 ou 100 anos cheio de saúde, com funcionalidade, autonomia e qualidade de vida, é um prato cheio para os picaretas aplicarem seus esquemas altamente lucrativos.
Por isso, em defesa da medicina baseada em evidências e dos valores mais elevados da nossa profissão, a MevBrasil - a maior escola de medicina do estilo de vida do país - convidou o cardiologista do Instituto Dante Pazzanese, Dr Diandro Mota, para participar de um dos episódios especiais da série de podcasts "As Pseudociências Disfarçadas de Medicina do Estilo de Vida". O assunto: longevidade!
O resultado desse papo você confere pelo link abaixo. Mais de 500 colegas especialistas já usufruíram do conhecimento compartilhado, então prepare o papel e caneta porque o conteúdo ficou de altíssimo nível:
Cresce o número de médicos no Brasil
Caiu na Mídia
Se na edição da semana passada discutíamos questões referente aos salários médicos, hoje trazemos uma notícia igualmente polêmica:
O jornal Folha de São Paulo publicou uma matéria que destaca que o número de médicos atuantes no Brasil cresceu 23,6% desde 2019.
Quando avaliado pelo número de médicos para cada 10 mil habitantes, o Brasil (22,5) mantém-se em patamar semelhantes a países como o Canadá (25) e Republica Dominicana (22,3), e abaixo de outros como Argentina (40,8) e Reino Unido (31,7).
Em termos de atuação, esse número cresceu principalmente fora do ambiente do SUS, que aumentou em 29,7% (estatística relevante, se considerarmos que aproximadamente 71,5% da população brasileira depende exclusivamente SUS, segundo levantamento de 2019).
Além disso, se você ainda acha que o aumento no número de médicos pode representar melhorias no atendimento à nossa população, vamos precisar jogar água no seu chopp:
As disparidades regionais na distribuição geográfica da categoria, um dos grandes problemas do atendimento no nosso país, continuam: enquanto o Sudeste detém 29,2 médicos para cada 10 mil habitantes, regiões como norte e nordeste detêm apenas 13 e 16,5, respectivamente.
Esses números sugerem que só o aumento do número absoluto de médicos está longe de ser solução para melhorias na saúde.
Qual a sua opinião? Precisamos manter esse aumento no número total de médicos, ou precisamos de outras alternativas?
Um giro pelas demais publicações da semana 🎄
🍌 Como tratar hipertensão sem aumentar o risco de quedas? Revisão publicada na European Heart Journal propõe soluções para idosos frágeis com hipotensão ortostática.
🪡 PCI ou CABG para doença do tronco da coronária esquerda: qual tem mais sangramento e impacto na mortalidade? Sub-análise do estudo EXCEL revela insights importantes.
🏥 Doença valvar descompensada na UTI: revisão publicada no JACC Advances destaca alta gravidade, desafios terapêuticos e necessidade de mais estudos.
🚧 Dissecção coronariana espontânea: revisão do JACC Advances destaca lacunas no conhecimento e propõe registros e colaborações multicêntricas para avanço no manejo e pesquisa.
⛓️💥 Estudo multicêntrico publicado no The Lancet demonstrou que TAVI com PCI guiado por FFR é superior a SAVR com CABG em pacientes com estenose aórtica grave e doença coronariana complexa. Resultados incluem menor mortalidade (0% vs. 10%) e menos sangramentos graves (2% vs. 12%).
👴🏼 Idosos com FA que descontinuaram anticoagulantes tiveram risco 22% maior de morte e 38% maior de eventos cardiovasculares graves em um ano, enquanto o risco de sangramento foi maior apenas no início do acompanhamento, conforme estudo retrospectivo publicado no The Lancet.
🩸 Revisão publicada no JAMA Cardiology questiona o uso contínuo da aspirina para prevenção secundária de eventos cardiovasculares, destacando dados recentes que reavaliam seu benefício após décadas de recomendações baseadas em evidências inconclusivas.
🩸 Suspender ou manter aspirina no perioperatório? Estudo ASSURE-DES, publicado no JACC, demonstrou que pacientes com stents farmacológicos há mais de 1 ano submetidos a cirurgias de baixo a médio risco apresentaram taxas semelhantes de morte, infarto e trombose de stent, independentemente da continuidade ou suspensão da aspirina no perioperatório.
🔬 Estudo publicado no European Heart Journal destaca avanços no entendimento da estenose aórtica calcificada, a valvopatia mais comum em idosos. A pesquisa foca em estudos multiômicos (genômica, transcriptômica, proteômica e metabolômica) para identificar alvos terapêuticos e desenvolver tratamentos, enfatizando diferenças sexuais, contribuições renais e lipídicas, além de ensaios clínicos em andamento para prevenir ou tratar a doença.
🚬 Statment da American Heart Association alerta para os riscos cardiovasculares de produtos de nicotina oral sem fumaça, como sachês e gomas, especialmente em pacientes com doença cardíaca isquêmica ou cerebrovascular. Embora seu impacto sobre biomarcadores varie, a ausência de dados sobre novas formulações, como nicotina sintética, é preocupante.