Elon Musk e a Cardiologia
Nefropatia Induzida por contraste, Impacto do twitter na citações de artigos e miocardite por COVID-19
Nefropatia por Contraste - Há mesmo um Monstro no Lago Ness.
Artigo Científico
Você já deve ter ouvido a história do monstro presente no lago Ness (ou Nessie, para os íntimos). Um “monstro” que era avistado a distância no Loch Ness, na Escócia, e levava muitos dos moradores locais a evitar aquela região (mesmo sem nunca terem visto de verdade a tal criatura). Com a nefropatia por contraste é mais ou menos isso aí. Todo mundo já adiou ou suspendeu um exame contrastado por medo da tal entidade, porém ninguém sabe explicar ao certo qual a sua relevância clínica. Para tentar avaliar a existência dessa patologia quase mitológica, o JACC publicou um estudo objetivando correlacionar a prevalência da nefropatia induzida por contraste (NIC) e suas consequências clínicas.
Foi uma subanálise do estudo ADAPT-DES (registro multicêntrico de 8582 pacientes) - que originalmente visou avaliar reatividade plaquetária durante o uso de DAPT em um contexto de angioplastia após síndrome coronariana aguda.
Cerca de 6,5% dos pacientes desenvolveram NIC. Eles tiveram maior risco de desenvolver o desfecho composto (mortalidade por todas causas, IAM, trombose de stent ou sangramento maior), com RR de 1,88 (IC 95% ; 1,42-2,49). O resultado se manteve quando analisado isoladamente cada desfecho.

Aqueles que evoluíram com NIC e também já apresentavam doença renal prévia tinham ainda pior prognóstico, comparado ao grupo com função renal preservada (RR 3,29 IC 95%; 1,92-5,67).
Com esses resultados, a Nefropatia Induzida por Contraste não parece ser só um “mito” da cardiologia. Devemos nos atentar ainda mais nos cuidados nefrológicos antes da realização de exames contrastados, principalmente naqueles que já apresentam alguma lesão renal prévia, pois os impactos clínicos são reais e, a longo prazo, aparentam ser de grande relevância.
Barulho no Twitter e impacto acadêmico dos artigos científicos na cardiologia
Artigo Científico
Logo na semana em que Elon Musk se torna o maior acionista do twitter e ainda faz oferta para a compra total da plataforma, saiu no European Heart Journal um artigo que tentou demonstrar a influência do Twitter na citação dos artigos científicos.

Para isso, 694 artigos publicados nos jornais da ESC foram randomizados entre receber divulgação no twitter dentro dos próprios canais da ESC ou não (grupo controle) para avaliar relação com número de citações e o Altmetric score (um escore que tenta medir a atenção que a comunidade científica dá a um determinado artigo).
Após um follow-up médio de quase 1.000 dias, a divulgação no Twitter esteve associada a um número maior de citações, independentemente do tipo de artigo, e do Almetric score.
Parece que o Twitter apresenta sim capacidade de influenciar a comunidade científica cardiológica, principalmente na Europa e EUA. O Musk está de olho…
Miocardite por COVID-19: prevalência, características e desfechos
Artigo Científico
Os meses passaram, as máscaras foram abandonadas e o isolamento foi encerrado… mas o COVID permanece nas manchetes das principais revistas médicas. Recentemente foi publicado no “American Heart Association” (AHA) uma coorte retrospectiva italiana, composta de registros de 23 hospitais na Europa e Estados Unidos (EUA), que buscou elucidar a prevalência, as características e os desfechos clínicos dos pacientes com miocardite por COVID-19.
A partir de uma amostra de 56.963 pacientes hospitalizados pelo COVID-19, entre 2020-2021 foram selecionados 54 pacientes, que tinham diagnóstico a partir de biópsia endomiocárdica ou achados sugestivos em ressonância magnética cardíaca (RMC) e troponina alterada.
Nesse grupo, a miocardite esteve mais relacionada em pacientes jovens, idade média de 38 anos, predomínio no sexo masculino 61,1%, sem sintomas respiratórios associados em 57,4% dos casos. Cerca de 38,9% evoluíram de maneira fulminante, exigindo suporte circulatório e cuidados intensivos. Observe que, apesar de pequena a prevalência dessa patologia no grupo estudado (2,4 casos definitivos e 4,1 casos prováveis por 1.000 hospitalizações), trouxe consequências potencialmente graves.
Esses números foram em pacientes hospitalizados por COVID. Nos assintomáticos, vamos lembrar de um estudo epidemiológico americano, publicado no JAMA em 2021, que avaliou 1597 atletas universitários com COVID-19 submetidos a RMC e demonstrou prevalência de 2,3 por 100 casos. O melhor exemplo dessa situação foi o jogador de futebol canadense Alphonso Davies que há poucos meses esteve afastado dos gramados pelo diagnóstico de miocardite pós-COVID (e comemorando em domicílio a classificação da sua seleção à Copa do Mundo).
Imagem da semana
Esse foi um “infarto com supra” trombolisado em um serviço de pronto-atendimento e referenciado para serviço terciário após “falha de reperfusão”. Homem, 42 anos, com dor torácica. E aí, também trombolisaria? 🧐
Fique por dentro
🧂 Caiu na mídia: a G1 já está soltando intepretações de novidades da ESC… checa lá o que falaram sobre o SODIUM-HF
✍️ Excelente editorial recém publicado na Circulation sobre a terapia quádrupla na IC (Gliflozinas marcando seu terreno)
🧠 Abordagem endovascular de extensos AVCs isquêmicos foi melhor que tratamento clínico em um ECR no Japão, publicado no NEJM
🩸 Teve uma brilhante revisão brasileira feita na UFRGS sobre o diagnóstico da ferropenia na IC e as evidências para o uso da carboximaltose férrica