Entresto na IC FEP?
Posicionamento da SBC sobre a doença isquêmica na mulher; o uso da TAVI na valva aórtica bivalvular; há risco no uso dos smartwatches?
Há esperança para uso do Entresto para IC FEP?
Ensaio Clínico Randomizado
Nesse final de semana, tivemos o congresso europeu de insuficiência cardíaca e, com ele, algumas novidades.
Em 2019, com o estudo PARAGON-HF, tivemos uma resposta sobre o uso do Sacubitril-valsartana na IC com FE > 45%: sem redução de morte ou hospitalização, porém com alguns subgrupos com possibilidade de benefício (mulheres e FE < 60%).
Com essas hipóteses de benefício em alguns grupos de doentes, o campo para o estudo da medicação permaneceu em aberto.
Assim, o PARAGLIDE-HF foi apresentado no congresso, mantendo as esperanças dessa droga na insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (IC FEP).
O estudo teve como objetivo avaliar a redução de NT-ProBNP com o uso do Sacubitril-valsartana, quando comparado à valsartana isoladamente, nos pacientes com IC e FE > 40%.
Foram 466 pacientes randomizados e foi observado uma redução do desfecho em 15% (RR 0,85, IC 95% 0,73-0,999; p = 0,049) - quaaase caiu na não significância rs.
Ainda é muito pouco. Esse estudo teve como desfecho uma alteração laboratorial, que por mais relevante que tenha sido, pode não estar associado à redução de eventos cardiovasculares. Além disso, incluiu um pequeno número de pacientes, e apresentou resultados bem limítrofes.
Mas, será que deixa uma fagulha de esperança para mais estudos com essa droga na IC FEP?
A doença isquêmica cardíaca na mulher
Posicionamento SBC
Foram muitas décadas de estudos na cardiologia que subestimam a importância e as diferenças da doença cardiovascular na mulher.
Acha que é exagero (como sempre acontece quando apontamos as diferenças da participação feminina em diversos contextos)?
Conseguimos citar rapidamente 5 dos principais estudos em doença arterial coronária que tinham menos de 30% de participantes do sexo feminino: COURAGE, SYNTAX, FREEDOM, STICHES, até o recente ISCHEMIA.
Felizmente, começamos a reconhecer essa sub-representação feminina nos principais trials e revisões, e passamos a estudar melhor a doença isquêmica na mulher:
A SBC publicou um interessante posicionamento sobre este tema, em um documento escrito majoritariamente por mulheres.
Vamos destacar alguns pontos principais:
As diferenças começam na hora de investigar a doença cardiovascular: apesar da dor torácica ser o principal sintomas em ambos os sexos, as mulheres são mais propensas a apresentar sintomas atípicos.
Além disso, está mais relacionada a eventos como estresse emocional que à atividade física.
Em relação à etiologia, a doença coronariana (DAC) obstrutiva é a principal causa de isquemia no sexo feminino, porém, nessa população, mecanismos não-obstrutivos (vasoespasmo, disfunção microvascular, embolia/trombose) são muito mais comuns que nos homens.
Como resultado de todas essas diferenças (e da falta de estudos), as mulheres são menos submetidas a angioplastia primária na síndrome coronária aguda e têm maior mortalidade hospitalar - vai continuar chamando tudo de piti? rs
Em relação à investigação da doença isquêmica estável, precisamos ter um olhar mais crítico em relação aos resultados dos principais exames:
o teste ergométrico tem menor sensibilidade nessa população;
a cintilografia miocárdica pode apresentar falsos positivos decorrentes de atenuação mamária e tem menor acurácia em corações pequenos.
O documento ainda traz relevantes pontuações em relação à doença aterotrombótica na gestação e à contracepção oral.
Fatores de risco cardivascular não convencionais, como parto pré-termo, doença hipertensiva da gestação, diabetes gestacional e depressão devem sempre ser lembrados.
Fica a dica de leitura desse belíssimo documento. Um compilado de recomendações preciosas para reduzir os erros na avaliação da doença cardiovascular na mulher.
Registro BIVOLUTX - A TAVI na Valva Aórtica Bivalvular
Coorte
Primeiramente, bem que os autores podiam ter escolhido um título melhorzinho e mais fácil de falar né? rs
Apesar do nome, foi uma coorte bastante relevante apresentada no Euro-PCR que aconteceu essa semana:
Foi um registro europeu prospectivo de pacientes com válvula aórtica bivalvular (BAV) submetidos a implante percutâneo de valva aórtica (TAVI).
A grande relevância aqui se dá ao fato de que ainda são poucos os estudos que demonstram os resultados da abordagem transcateter em pacientes com BAV.
Então, preste atenção nos resultados:
Foi um registro multicêntrico que envolveu 14 instituições europeias e canadenses.
Foram incluídos 149 pacientes com BAV submetidos a TAVI com prótese auto-expansível EVOLUT.
Os objetivos primários foram avaliar a performance da prótese em 30 dias e comparar duas formas para escolha do tamanho da prótese (esse último mais relevante para os colegas da hemodinâmica).
Observaram bons resultados:
Área valvar média de 2,1 cm² e Gradiente Médio de 7,2 mmHg;
Nenhum paciente apresentou refluxo maior que moderado em 30 dias.
Marca-passo indicado em 9,1% dos pacientes.
Outros desfechos:
Mortalidade em 30 dias: 2,6%
Mortalidade em 1 ano: 11%
As duas formas de avaliação para escolha do tamanho da prótese obtiveram resultados semelhantes.
A realização de TAVI com a prótese EVOLUT em pacientes com BAV está associado a resultados satisfatórios.
No entanto, ainda faltam informações sobre distúrbios de condução e eventos isquêmicos neste perfil de paciente.
A imagem central resumo bem os principais resultados desse estudo:
Riscos nos smartwatches?
Caiu na Mídia
É só olhar o pulso das pessoas ao nosso redor para perceber o quanto o uso dos relógios inteligentes, os smartwatches, se disseminou nos últimos anos.
Tamanha é a relevância desses aparelhos que a sociedade europeia de arritmia (ESHA) publicou um guia, em 2022, para o seu uso na prática.
No entanto, nem tudo são flores: uma matéria publicada na revista VEJA, com a participação do nosso dozer Diandro Mota, traz um alerta sobre modelos que trazem uma nova tecnologia: a bioimpedância.
Esse recurso, utilizado na avaliação da composição muscular, óssea e de gordura do usuário, pode interferir no funcionamento dos dispositivos cardíacos implantáveis (marca-passos, ressincronizadores e cardiodesfibriladores).
Este alerta vem de um estudo publicado na revista Heart Rhythm que demonstrou que a baixa corrente elétrica emitida pelo relógio para avaliação da bioimpedência pode ser responsável por essa interferência.
Além disso, a matéria ainda alerta que a monitorização feita pelos relógios não substitui a acurácia da avaliação médica completa.
Imagem da Semana
Pequenas fístulas da artéria descendente anterior com circulação venosa pulmonar em paciente de 5 anos de idade transplantada há 2 anos.
Observe, ao final do vídeo, a veia pulmonar esquerda sendo preenchida pelo contraste e desaguando no átrio esquerdo.
Fique por dentro
🙆🏻♂️ Saiu a publicação no NEJM do TRILUMINATE, já comentado aqui na News após sua apresentação no ACC 23, onde o dispositivo percutâneo para insuficiência tricúspide foi eficaz em reduzir regurgitação e melhorar qualidade de vida.
📚 E no embalo do reparo percutâneo, o NEJM também trouxe uma bela revisão de insuficiência tricúspide.
🏃🏼♀️ Coorte publicada no JAMA Cardiology demonstrou que pacientes com cardiomiopatia hipertrófica que praticavam exercícios físicos vigorosos não apresentaram maior risco de arritmias complexas.
🫀 Interessante estudo publicado no JACC elucidou as alterações hemodinâmicas que ocorrem durante a síndrome de Takotsubo.
🧪 Será que estamos usando o corte certo do valor da troponina? Um estudo norte-americano observou que os limites superiores de 4 ensaios de troponina na população estudada eram mais baixos que o p99 proposto, e variavam conforme o sexo e a idade.
💹 Isquemia residual após angioplastia de TCE esteve associado com aumento do risco cardiovascular.
🥛 EURO4c-PCR group: como tratar lesões muito calcificadas?