Exames complementares na DAC: novas orientações
Marcapasso bicameral sem fio; e quando iniciar DOAC após AVCi por FA.
Novas recomendações quanto aos exames de imagem na DAC
Recomendação ACC
Dentre as dúvidas na cabeça do cardiologista, “como investigar doença coronária (DAC) no meu paciente” com certeza é uma das mais recorrentes.
Com o objetivo de organizar melhor a estratégia de investigação, o ACC publicou uma atualização dos seus “Critérios de Uso Apropriado” na investigação da DAC estável.
Esse documento funciona como uma diretriz, mas se baseia em situações clínicas e a conduta para elas sob a opinião de um grupo de especialistas.
A ideia é apresentar alguns contextos clínicos comuns no dia a dia do cardiologista e quais os métodos recomendados.
Vamos trazer alguns dos pontos mais interessantes do artigo e que ainda são causa de dúvida para muitos de nós:
A grande maioria concorda que não há indicação de exame em paciente assintomático, com exceção do escore de cálcio para estratificação de risco.
Sim, o teste ergométrico ainda tem espaço na investigação de DAC. Principalmente em pacientes < 50 anos com sintomas atípicos, e antes do início de atividade física ou reabilitação cardiovascular.
Na investigação em pacientes com IC ou arritmias, tantos os testes funcionais (cintilografia, ecocardiograma ou ressonância magnética com estresse) como os anatômicos são semelhantes nas recomendações.
Não há recomendação de realização de exames de imagem de controle após revascularização cirúrgica ou percutânea.
Esse é o tipo de artigo interessante para uma rápida revisão e até para consulta da recomendação quando você se deparar com alguma das situações descritas.
É sem fio? Me vê dois!
Estudo de segurança
Se hoje em dia já é tudo sem fio, por que a gente continua sofrendo com esses marca-passos cheios de eletrodos dentro do coração?
Parece até conversa de bar rs. Mas com certeza a indústria já pensou nisso.
Inclusive, a modalidade unicameral sem fio com estímulo ventricular já foi testada com bons resultados contra os marca-passos convencionais VVI.
Veja o exemplo:
Essa semana, foi publicado um estudo no NEJM que avaliou o implante do marca-passo sem fio bicameral (isso mesmo, átrio e ventrículo são estimulados de forma sincronizada a partir de dois dispositivos).
A segurança e eficácia do dispositivo foram avaliadas de forma prospectiva:
Foram incluídos 300 pacientes, e avaliado um desfecho de segurança (complicações graves secundárias ao implante do dispositivo ou no seu funcionamento) em 90 dias:
Houve sucesso no implante em 295 (98,3%) pacientes e o desfecho de segurança foi atingido em 90,3% (acima da meta de 78%).
Quanto à performance do dispositivo, 97,3% obtiveram sincronia AV em >70% do tempo (superior à meta de 83%).
Foi dada a largada para o marca-passo bicameral sem fio como ferramenta futura na arritmologia.
Após bons resultados de segurança e performance, aguardamos estudos demonstrando benefício clínico.
A regra não é clara!
Ensaio Clínico Randomizado
Sabe aquele caso de AVC isquêmico em paciente com FA e que você deseja iniciar DOAC para prevenção de novos eventos e que sempre surge a dúvida de qual seria o momento ideal pra começar a anticoagulação?
Pois então… Pelo menos nesse cenário, "a regra não é clara, Galvão!"
Para sanar essa dúvida que divide opiniões entre cardiologistas, neurologistas clínicos e neurocirurgiões, foram publicados no NEJM os resultados do estudo ELAN.
Foi um estudo aberto, que incluiu 2013 pacientes de 103 centros de 15 países, com o seguinte desenho:
P (pacientes): pacientes com FA que tiveram AVC isquêmico.
I (intervenção): anticoagulação precoce com DOAC (dentro de 48 horas após um AVC menor ou moderado ou no dia 6 ou 7 após um AVC maior).
C (controle): anticoagulação tardia (dia 3 ou 4 após um AVC menor, dia 6 ou 7 após um AVC moderado, ou dia 12, 13, ou 14 após um AVC maior).
O (outcomes): desfecho primário composto por de AVC isquêmico recorrente, embolia sistêmica, sangramento extracraniano maior, hemorragia intracraniana sintomática, ou morte vascular.
T (tempo): 30 dias após a randomização.
E os resultados?
A incidência do desfecho primário variou de 2,8 pontos percentuais mais baixa a 0,5 pontos percentuais mais alta com uso precoce em comparação com o uso tardio de DOACs (ou seja, sem significância).
Caros amigos da Rede Doze, parece que precisaremos acionar o VAR para respostas definitivas rs.
Mas fica a mensagem principal de que é possível iniciar DOAC mais precoce, de forma segura, tendo como base a gravidade do AVC avaliada por imagem. Haja coração!
Gliflozinas sob os holofotes
Caiu na Mídia
Sabemos que as gliflozinas têm sido as grandes estrelas da cardiologia nos últimos anos.
Então, quando surge mais uma com bons resultados, ninguém perde tempo em aprová-las.
O FDA acabou de aprovar a sotagliflozina (uma gliflozina que age como antagonista da SGLT1 e da SGLT2) para pacientes com insuficiência cardíaca (IC FEr e ICFEp) ou DM2, doença renal crônica ou outros fatores de risco cardiovascular, sob o nome comercial de Infepa.
Os dois principais estudos que demonstraram o benefício dessa medicação em redução de eventos cardiovasculares em pacientes com IC foram o SOLOIST-WHF e o SCORED.
Ainda não há sinais dessa medicação no Brasil ou de sua liberação pela Anvisa. Mas vamos aguardar!
Imagem da Semana
Vamos iniciar uma série chamada “a vida por um fio”. Contamos com sua ajuda para nos enviar (plataformadozeporoito@gmail.com 📩) aquela projeção de cinecoronariografia que assusta a todos. Como essa lesão de tronco da coronária esquerda acima 🙅🏼♂️.
Fique por dentro
🪨 Estado-da-arte do JACC sobre o manejo da trombose de prótese mecânica.
💎 Lembra que falamos do estudo PARAGLIDE na edição da semana passada? Saiu o estudo oficial dele no JACC.
🥗 A visualização das lesões (seja na angiotomografia como no ultrassom de carótidas) ajuda o paciente a aderir à mudança do estilo de vida.
🥛 300. E não é o filme. Esse foi o ponto de corte do EC que equivale em risco de MACE a pacientes com diagnóstico estabelecido de doença cardiovascular.
⚡️ O papel da ressonância magnética na estratificação de risco de MACE e eventos arrítmicos em pacientes candidatos a implante de CDI para profilaxia primária na cardiomiopatia isquêmica.
💊 Dapaglifozina associada a redução do uso de diuréticos em pacientes com ICfep e com disfunção moderada: DELIVERY trial.
👵 Boa e velha furosemida apresenta resultados similares a torsemida: TRANSFORM-HF trial.
🌟 Nasce uma estrela? Nova droga para tratamento de amiloidose transtirretina (anticoporo humano recombinante NI006) não demonstrou eventos cardíacos adversos ainda em estudo fase 1.