Fim do reinado do AAS
Trombólise no idoso com IAM, AAS vs iP2Y12 e placa de aterosclerose em atletas de endurance
O AAS está perdendo o seu reinado?
Metanálise (JACC)
Não é raro vermos estudos que tentam “destronar” o AAS como principal antiagregante na prevenção secundária cardiovascular.
O ataque, dessa vez, veio por parte do estudo PANTHER: uma grande metanálise publicada no JACC que comparou a monoterapia ideal em pacientes com diagnóstico de DAC: inibidor da P2Y12 vs AAS.
Foram incluídos na análise 7 grandes estudos randomizados, totalizando 24.325 pacientes.
O desfecho primário avaliado foi composto por morte cardiovascular, IAM e AVC.
Nos primeiros 2 anos de seguimento, observou-se uma redução do desfecho primário em 12% nos pacientes em monoterapia com um inibidor da P2Y12 (HR: 0,88; 95% CI: 0,79-0,97), à custa de redução de IAM (sem diferença em relação à mortalidade ou AVC).
Vale destacar, ainda, que não houve diferença quanto a episódios de sangramento entre os grupos.
Sem dúvidas são resultados que chamam atenção para o benefício da manutenção da monoterapia com o inibidor da P2Y12. No entanto, é preciso destacar que, além da certa heterogeneidade entre os 7 trials, alguns deles, como o CAPRIE, foram publicados há quase 3 décadas.
Parece que para “fechar a tampa do caixão” do AAS, seria necessário um ensaio randomizado mais atual.
Você tem medo de trombolisar?
Ensaio Clínico Randomizado (Circulation)
Sabemos de todas as indicações para trombolisar o paciente com IAMcSST.
Mas, quem não fica com aquele medinho todas as vezes, pensando nos amedrontadores cenários com relação ao risco de sangramento?
O trial STREAM 2 tentou reduzir um pouco a tensão do risco hemorrágico, ao demonstrar a possibilidade da trombólise com uma dose reduzida de Tenecteplase em pacientes idosos.
O trabalho:
Foi um estudo open-label, multicêntrico (49 centros, 10 países), randomizado 2:1: 400 pacientes para terapia fármaco-invasiva vs 200 pacientes para angioplastia ATC primária
Esquema de trombólise:
Tenecteplase 30mg + AAS 150-325mg + Clopidogrel 300mg + Enoxaparina 0,75mg/kg (se ≤ 75 anos)
Foram incluídos pacientes > 60 anos com IAMcSST dentro de até 3h do início da dor, incapazes de receber estratificação invasiva em pelo menos 1h do contato médico.
Resultados:
Redução > 50% do supra-ST: 85,2% fármaco-invasiva x 78,4% ATC primária
Não houve diferença em relação ao desfecho composto (morte, IC, choque e reinfarto) em 30 dias.
Apenas 4 pacientes (1,5%) da terapia fármaco-invasivo apresentaram sangramento intracraniano.
Esse estudo demonstra que a trombólise com Tenecteplase dose reduzida é opção interessante no tratamento de IAMcSST de pacientes idosos sem acesso imediato à estratificação invasiva.
Exercício de endurance e aterosclerose coronariana
Estudo transversal (EHJ)
Sabe aquele tri-atleta que chega no seu consultório e, na avaliação pré-participação, você identifica uma lesão proximal grave de DA?
Ele pode não estar sozinho ✋🏼.
Na dúvida sobre a prevalência de placas ateroscleróticas e de suas características em praticantes de atividades físicas intensas e prolongadas, pesquisadores da Bélgica analisaram angiotomografias de coronárias de atletas e não atletas.
O estudo dividiu os participantes em 3 grupos, todos do sexo masculino, acima de 45 anos, saudáveis, sem doença cardiovascular e de baixo risco:
Atletas que praticaram atividades durante toda a vida (iniciado antes dos 30 anos de idade);
Atletas que iniciaram a atividade apenas após os 30 anos;
Não atletas (≤ 3 horas de atividades semanais).
Foi definido como atleta de endurance aquele que praticava ≥ 8h de ciclismo, ≥ 6h de corrida ou ≥ 8h de triathlon. Se identificou?
O desfecho primário foi a presença ou não de placas de aterosclerose na angiotomografia.
Praticantes de atividades de endurance durante toda a vida estiveram associados a um maior número de placas ateroscleróticas quando comparados com indivíduos saudáveis não atletas (OR 1,86, IC 1,17-2,94).
👀 Olho no detalhe: a composição das placas também chamava atenção, com mais placas não calcificadas e em localizações proximais, características essas sabidamente associadas à maior risco.
Os autores destacam as limitações referentes ao tipo de estudo (transversal, observacional) e do viés da população estudada (homens, belgas e brancos), alertando o devido cuidado ao extrapolar os achados.
Qual o veredito da Doze após esse estudo? Ainda é cedo para dizer e mais estudos e coortes precisam ser realizadas, principalmente avaliando desfechos duros (IAM, morte).
Mas o recado pode estar sendo dado: excessos nunca caem bem, não é mesmo?
Ozempic associado a pensamentos suicidas?
Caiu na Mídia
O atual queridinho da perda de peso, o Ozempic, foi tema da mídia na última semana por uma referida associação a pensamentos suicidas.
Não só ele: a associação europeia de medicamentos (EMA) está investigando os agonistas do GLP1, que incluem as marcas Ozempic, Saxenda e Wegovy, além das substâncias dulaglutide, exenatide e lixisenatide. A programação é realizar essa avaliação entre julho a novembro de 2023.
Esses efeitos adversos já são descritos nas bulas das principais medicações. Segundo o FDA (a associação americana), dos mais de 1200 episódios de reação adversa descritos com a semaglutida, apenas 60 foram de pensamentos suicidas.
Já no Brasil, a Anvisa não declarou nenhum alerta de segurança em relação aos efeitos adversos das medicações.
Assim, é importante ligar um sinal de alerta em relação a esse risco, já descrito previamente. No entanto, não há definição concreta que contraindique o uso das medicações nos pacientes que precisam delas.
Imagem da Semana
A imagem dessa semana retrata um paciente com hipertensão pulmonar do tipo 1, com 10 anos de evolução de doença e consequentes dilatações severas de câmeras direitas. Atualmente no aguardo de transplante duplo coração-pulmão.
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