Gordura pericoronária?
Será que a regra do rule-out de SCA serve para todos? Novas técnicas de conservação para transplante cardíaco.
A regra do rule-out de SCA vale para quem tem DAC?
Coorte
Você leu o nosso presentinho do meio de semana, não foi?
Então você sabe que a grande vantagem da troponina ultrassensível (US) é o rule out precoce, sugerido na diretriz da ESC de síndrome coronariana aguda sem supra e adaptada na diretriz da SBC.
Não leu? 🥺
Ok, vamos relembrar: em pacientes de baixo risco cardiovascular com dor torácica aguda, orienta-se dosagem de troponina US na admissão e 1h após.
Se os valores se mantiverem sem alterações ou abaixo do valor de referência, existe a possibilidade de alta precoce.
A pergunta que fica é: será que essa regra vale também para pacientes com histórico de DAC?
Foi isso que essa coorte publicada no JAMA Cardiology procurou descobrir:
Foram 1430 pacientes com suspeita de SCA sem supra-ST incluídos no estudo, dos quais 449 tinham histórico de DAC.
O follow-up foi de 30 dias para avaliar o desfecho primário de morte cardiovascular ou IAM.
O valor preditivo negativo (VPN) para a ocorrência do desfecho primário em pacientes sem história de DAC foi de 98,9%; já naqueles com história de DAC foi de 96,6% (p=0,04).
O poder de exclusão do risco de SCA pela regra do rule out 0/1h cai em pacientes com histórico de DAC (mantendo, ainda, um bom VPN).
Assim, não é que não possa ser utilizada essa tática em pacientes com alto risco cardiovascular, mas precisa ser feito com mais cautela.
Gordurinha pericoronária
Artigo de Revisão
Pneuzinho, pochete, pança? Nada disso, a gordura localizada que precisamos nos preocupar é outra: a pericoronária.
Vamos explicar:
A angiotomografia de coronárias (angio-TC) fornece um método não-invasivo para quantificar a inflamação coronariana: a avaliação da radiodensidade do tecido adiposo pericoronário (PCAT).
Esse método tem sido utilizado como um marcador de risco cardiovascular.
A edição dessa semana do JACC nos trouxe uma bela revisão sobre o tema. Nela, os autores resumem o papel do PCAT na imagem cardiovascular e exploram as implicações clínicas e a sua aplicabilidade como um novo biomarcador de risco cardiovascular.
Vamos aos highlights!
• O tecido adiposo pericoronário responde à inflamação vascular e, por meio das vias das quimiocinas (grande família de pequenas citocinas), pode promover a progressão da aterosclerose e a instabilidade da placa.
• PCAT medido por angiotomografia de coronárias é um marcador de doença cardiovascular.
• As armadilhas na avaliação do tecido adiposo pericoronário por angio-TC envolvem heterogeneidade na aquisição e medição de imagens que devem ser abordadas para garantir a adequada aplicação na prática clínica.
Vale lembrar que não é toda angiotomografia de coronárias que permite a avaliação da PCAT. Esse ainda é um método pouco disponível na maior parte dos centros.
Mas, com certeza, é um tema que vamos ouvir bastante ser discutido nos próximos anos!
Transplante cardíaco por doação após morte circulatória
Coorte
Prepare-se, pois esse próximo estudo vai parecer coisa do século 23.
Um estudo publicado no The Lancet avaliou os desfechos clínicos de paciente que receberam transplante cardíaco por meio da técnica de Doação após Morte Circulatória (DCD).
Calma, vamos entender:
A doação habitual do coração para transplante ocorre após morte encefálica. No entanto, alguns países têm realizado a DCD, com um potencial de aumento em 30% do total de doações.
O que é a morte circulatória? Ela é estabelecida em pacientes sem critérios para morte encefálica, mas com completa ausência de circulação e respiração espontâneas por, pelo menos, 5 min.
A partir daí a preservação do coração pode ser feita fora do corpo ou dentro do corpo através da perfusão normotérmica regional toraco-abdominal.
Compreendido isso, vamos ao estudo:
Retrospectivo e multicêntrico, incluindo serviços dos EUA, Reino Unido, Espanha e Bélgica.
Comparou 157 doações após uso de perfusão toraco-abdominal e 673 doações após morte cerebral determinada (padrão).
O uso dessa técnica significou um aumento em aproximadamente 23% nos transplantes cardíacos.
Além disso, a taxa de sobrevida após 30 dias, 1 ano e 5 anos foi semelhante entre os grupos.
Apesar de ainda bem distante da nossa realizada brasileira, é importante conhecermos essa técnica que pode ajudar a aumentar os transplantes cardíacos em um futuro próximo.
Qual a melhor hora para treinar
Caiu na mídia
É nesse momento que o maromba responde: “qualquer hora”.
No entanto, uma matéria do Jornal Folha de São Paulo propõe que a melhor hora para treinar seja à tarde.
Tudo isso baseado em uma grande coorte publicada no Nature Comunications, que seguiu mais de 90.000 pacientes por um período de 7 anos por meio de acelerômetros.
No fim, observaram que atividade física regular moderada a intensa esteve associada a maior sobrevida e menos doenças cardiovasculares e morte por câncer.
Desse grupo, aqueles que faziam atividade à tarde (entre 11h-17h) tiveram os melhores resultados.
Concluíram aquilo que já sabíamos: malhar no chamado horário de herdeiro é muito melhor. É sinal que a qualidade de vida está em dia rsrs.
Brincadeiras à parte, é importante destacar os numerosos fatores de confusão presentes nesse estudo, incluindo a população selecionada, o tipo de atividade física, o tempo de sono etc.
Imagem da Semana
Cateterismo cardíaco evidenciando fístula coronário-cavitária. Observe a artéria coronária direita ectasiada devido ao alto fluxo para o VD!
Fique por dentro
🪨 O que você faz ao ser notificado de que seu paciente tem cálcio nas coronárias? Estudo mostra o aumento de prescrição de estatinas e pesquisa de doença coronariana com o achado incidental de cálcio coronariano após TCs não cardíacas. Benefício clínico? Ainda é cedo para dizer.
☢️ Importância da investigação de MINOCA: essa metanálise traz o valor prognóstico e diagnóstico da realização da ressonância magnética cardíaca nesses casos.
🫀 Sacubitril-Valsartana na prevenção de IC FEP? Estudo randomizado publicado no JAMA Cardiology demonstrou a redução do tamanho do átrio esquerdo em pacientes em risco de evolução para a cardiopatia.
💊 DapaglifoSIM! Subanálise do estudo DECLARE-TIMI 58 demonstra menor número de internações em pacientes DM em uso de Dapagliflozina. É… parece ser chover no molhado. “Me vê 2, por favor”.
🧈 Estudo de Copenhagen com 68.090 associa a Lp(a) com doença aterosclerótica, IAM e estenose aórtica, independentemente do valor de proteína C reativa.
👨🏼⚕️ Estudo randomizado chinês demonstra que a atuação de agente de saúde comunitário é efetiva no melhor controle de HAS.