HDL do mal • Fatores de risco na infância • Ablação septal por radiofrequência
O que se planta uma hora se colhe
O lado sombrio do HDL
Coorte
“Ou você morre um herói ou vive o suficiente para se tornar o vilão”. Será que nosso “colesterol bom”, o HDL, vai mudar de lado?
Novo estudo publicado no JAMA resolveu questionar se o HDL é sempre tão bom assim, e comparou pacientes com valores de HDL > 80 mg/dL vs 40-60 mg/dL.
Coorte prospectiva com quase 14000 pacientes, que avaliou desfecho primário de morte por qualquer causa.
Após 8 anos de seguimento, observaram que níveis muito elevados do HDL (> 80 mg/dl), estiveram associados a maior mortalidade por todas as causas (HR 1,96; IC 95% , 1,42-2,71) e cardiovascular (HR 1.71; IC 95%, 1,09-2,68).
É verdade que não sabemos muito bem como isso vai implicar no ponto de vista clínico, já que ainda não são claros motivos que levem a níveis de HDL tão altos.
Mas já é um alerta para prestarmos mais atenção nesse lípide.
O que se planta, é o que se colhe! Fatores de risco cardiovasculares na infância e suas replicações futuras.
Coorte
Vai lá, dê Cheetos com Coca-Cola para o seu filho, vai dar super certo.
Essa semana foi publicado no New England Journal of Medicine uma coorte prospectiva envolvendo 38 mil crianças entre 3-19 anos, com seguimento de 35 anos, identificando os principais fatores de risco cardiovasculares (sim, aqueles já bem conhecidos):
IMC
Pressão arterial
Colesterol total
Triglicerídeos
Tabagismo
Cada um desses, isoladamente, estiveram associados a piores desfechos no futuro, com destaque para o risco para eventos fatais quando todos eles combinados (RR 3.2 IC 95% 2,4-4,1).
Com isso devemos lembrar dos comentários do papa da cardiologia Eugene Braunwald que há tempos bate o martelo na prevenção primordial: evitar o surgimento dos conhecidos riscos ou tratá-los de maneira correta no momento que surgirem.
Agir logo cedo, como na obesidade infantil, por exemplo, pode ser a chave para longevidade.
Ablação septal por radiofrequência como opção de tratamento para miocardiopatia hipertrófica obstrutiva
Proof of concept
Hoje já sabemos as opções terapêuticas disponíveis em caso de falha medicamentosa para controlar sintomas no paciente com MCH obstrutiva (idealmente com gradiente > 50 mmHg):
Miectomia (ressecção cirúrgica de 0,5-2mm do septo basal)
Ablação alcoólica do septo
A primeira requer uma cirurgia aberta, bem invasiva.
A segunda consiste em ocluir quimicamente alguns ramos septais coronarianos responsáveis pela irrigação do septo basal (isso, causar um infarto) - o que pode gerar um infarto bem maior do que o esperado.
Uma alternativa que vem sendo estudada é o uso da ablação por radiofrequência do septo (queimar mesmo), na tentativa de diminuir seu tamanho e o consequente gradiente.
E o Dante Pazzanese vem sendo um dos pioneiros no assunto. Nessa semana foi publicada a experiência inicial do Instituto, comandada pelo eletrofisiologista Dr Bruno Valdigem, com um N de 12 pacientes.
O resultado foi excelente: queda progressiva do gradiente máximo ao longo de 12 meses, de uma média inicial de 96,8 para 36,1 mmHg ao fim do período, acompanhado de melhora da classe funcional.
Animador, não é mesmo?
É um ótimo começo para a terapia, mas que ainda precisa passar por muitas etapas metodológicas (estudo com grupo controle, randomizado etc etc) para demonstrar seu verdadeiro potencial e indicarmos seu uso.
O frio chegou né? Lembre-se das repercussões de temperaturas baixas no coração.
Caiu na mídia
Infelizmente não é raro encontrarmos notícias de pessoas em situação de rua que falecem devido a repercussão do intenso frio atual.
Muitas vezes o frio pode causar repercussões fatais na condução elétrica cardíaca.
Visto principalmente quando temperaturas corpóreas abaixam para valores < 35°C, vemos uma progressiva bradicardia e o surgimento nas derivações precordiais do ECG a famosa onda “J de Osborne”.
Esse achado é diretamente proporcional ao grau de hipotermia e juntamente temos o acréscimo de todos intervalos eletrocardiográficos. Esses pacientes muitas vezes acabam evoluindo para PCR em ritmos chocáveis, como FV/TV.
Imagem da Semana
Reconstrução 3D de imagem tomográfica que evidencia coarctação de aorta crítica em paciente feminina de 8 anos. Além disso, essa criança apresenta valva aórtica bivalvular - não é agenesia de anjo do guarda, essa associação (coarctação de aorta + valva aórtica bivalvular) pode estar presente em pelos 20% dos casos da valvopatia.
Fique por dentro
💊 Prevenir é melhor que remediar? Estudo publicado no JACC demonstrou que pacientes utilizando estatina previamente ao primeiro evento coronariano demonstraram menor risco de evoluir para IC e maior sobrevida.
🩸 Anticoagulante pós TAVI para prevenir eventos trombóticos? Essa semana foi a vez da Apixabana de não conseguir se demonstrar semelhante à terapia convencional (os resultados já tinham sido apresentados na ESC do ano passado). Teve até editorial sobre o tema.
⚠️ O MASTER-DAPT demonstrou, no final do ano passado, que em pacientes com alto risco de sangramento é seguro reduzir a DAPT para apenas 01 mês. Porém será que isso também se aplica a pacientes de alto risco isquêmico? Essa subanálise do estudo publicada essa semana no EHJ demonstrou manutenção dos bons resultados do artigo mesmo após intervenções complexas.
✍️ Revisão no JACC sobre a aplicabilidade de ISGLT-2 no contexto de SCA iniciado precocemente durante a internação.
⚖️ Comparativo entre técnicas para valve-in-valve utilizando próteses auto-expansíveis ou balão expansível em pacientes com disfunção protética leve.
🔪 Qual o momento ideal para cirurgia cardíaca durante a gravidez? Metanálise comparando desfechos maternos e fetais entre pacientes submetidos a parto cesariano antes e depois da cirurgia cardíaca sugeriu melhor prognóstico quando realizado parto cesáreo antes da cirurgia, se feto viável.