IAM por ruptura vs erosão de placa: qual a relevância?
E mais: implante de TAVI pela enfermagem no Reino Unido, wearables na cardiologia e troponina no PS
O que a angiografia não vê, o paciente sente!
Coorte (European Heart Journal)
A caracterização da placa aterosclerótica pela tomografia de coerência óptica (OCT) é algo de cinema: imagem colorida e com definição de 10-20 µm.
Parece que sua utilização pode auxiliar a definir o prognóstico de pacientes com IAM a partir da caracterização do mecanismo de agressão da lesão culpada (ruptura da capa fibrótica ou erosão), o que não é possível à “simples” angiografia.
O estudo OPTIcal-COherence Tomography in Acute Coronary Syndrome, publicado no EHJ, estuda a caracterização das placas ateroscleróticas culpadas pela síndrome coronariana aguda (SCA) e sua implicância prognóstica.
Vamos ao estudo:
398 pacientes com SCA submetidos a estudo das placas por OCT foram acompanhados prospectivamente.
Entre eles, 62% apresentavam ruptura de capa fibrosa (CF) e em 25% a capa estava intacta (mecanismo de erosão).
O desfecho primário avaliado foi composto por morte cardíaca, SCA recorrente, internação por angina instável e revascularização em 2 anos.
Além disso, foi coletado o perfil inflamatório laboratorial no momento do procedimento índice e após 90 dias.
Resultados:
Menor ocorrência de MACE no grupo com CF intacta: (14,3% vs. 26,7%, p = 0,02)
A elevação de interleucina 6 e 1beta foram menores no grupo com CF intacta. Além disso, houve queda dos seus níveis neste grupo após 90 dias (p < 0,001).
Assim, o estudo demonstra diferentes reações inflamatórias e menores taxas de eventos em pacientes com lesões com CF intacta ao OCT.
Essa estratificação, que até o momento tinha apenas importância diagnóstica na identificação do mecanismo de lesão da placa culpada, pode levar a mudanças na terapêutica em um futuro não tão distante. Quem sabe o uso de uma terapia anti-inflamatória direcionada?
Já estamos ansiosos pelo que há de vir!
Wearable devices: uma nova era na Cardiologia!
Artigo de Revisão (The Lancet)
Você já ouviu falar em wearable devices?
São dispositivos vestíveis eletrônicos que podem ser usados como acessórios, como relógios, pulseiras, óculos e roupas, e que possuem sensores capazes de medir diversos parâmetros fisiológicos e de saúde.
E o que isso tem a ver com a saúde cardiovascular? Tudo!
Um artigo recente publicado na revista The Lancet Digital Health aborda justamente o uso de dispositivos vestíveis na área da saúde cardiovascular.
O texto explora as capacidades desses dispositivos em medir parâmetros como pressão arterial, frequência cardíaca e atividade física, e como eles podem ser úteis no monitoramento de doenças cardiovasculares.
⌚️ Smartphones, relógios inteligentes, pulseiras fitness e até mesmo roupas e óculos estão equipados com sensores capazes de medir esses parâmetros.
Mas, como esses dispositivos podem ser úteis na área da saúde cardiovascular?
Eles podem ajudar os pacientes a monitorar sua saúde em tempo real, permitindo que eles identifiquem precocemente possíveis problemas e tomem medidas preventivas.
Além disso, os dados coletados pelos dispositivos podem ser compartilhados com os médicos, permitindo que eles monitorem a saúde de seus pacientes de forma mais eficiente e personalizada.
Nem tudo são flores, queridos Dozers!
É importante ressaltar que a evidência científica atual sobre o uso desses dispositivos como ferramentas de diagnóstico e monitoramento específicos para condições cardiovasculares ainda é limitada.
Mas, com o avanço da inteligência artificial e da aprendizagem de máquina, é possível que esses dispositivos se tornem ainda mais precisos e eficientes no futuro.
Troponina única negativa e a alta do PS
Artigo de Revisão (JACC)
As discussões sobre o uso correto da troponina ultrassensível para guiar a alta do pronto-socorro continuam.
Dessa vez, o JACC trouxe uma revisão sobre a segurança da dosagem única da troponina para realizarmos o chamado rule-out (dar alta do pronto-socorro).
Uma leitura essencial para quem trabalha com emergências cardiológicas.
A revisão discute um pouco sobre os valores baixos de troponina ultrassensível e sobre como funciona o método de rule-out de dosagem única, com recomendações do seu uso.
Vale lembrar que existem diversos protocolos de rule-out com a troponina US, como: dosagem única, dosagens 0/1h, 0/2h e 0/3h.
Todos possuem a mesma missão: tentar otimizar fluxos hospitalares e dar alta com segurança para o paciente.
A revisão traz as evidências que suportam a segurança de dar alta para um paciente com uma única dosagem de troponina, na suspeita de síndrome coronariana aguda, se:
🧪 Valor abaixo do limite de quantificação (ex.: < 1,5 ng/L);
⛔️ ECG sem sinais de isquemia
⏱ > 2 horas do início da dor.
Os autores reforçam que, mesmo com a segurança do protocolo, o julgamento clínico deve estar acima da dosagem de troponina.
🚨 Também alerta que mulheres, idosos e pacientes com comorbidades cardiovasculares podem ter piores resultados com a estratégia.
E como mensagem final: esteja por dentro do kit de troponina utilizado no seu hospital, desde os limites utilizados (valores), valor preditivo negativo do método para descarar IAM e também de sua sensibilidade.
Confusão na Terra do Rei
Caiu na Mídia
“Isso é inapropriado em tantos níveis. Não é seguro para os pacientes, principalmente se considerarmos que há numerosos médicos qualificados para o implante de TAVI no Reino Unido”.
“Sério, eu não vejo isso como uma realidade, dado o potencial para tantos outros problemas que eles não saberiam como lidar”.
Essas são traduções de tweets de um professor de cardiologia intervencionista do Reino Unido, e de uma diretora de cardiologia preventiva do Smidt Heart Institute (Los Angeles-EUA), respectivamente.
Tudo isso em resposta à divulgação, há poucas semanas, da realização de um implante transcateter de valva aórtica (TAVI) por um enfermeiro, no Reino Unido.
O procedimento foi realizado por John Steel, um enfermeiro de prática avançada, no Hospital Glenfield. Foi divulgado por meio de um tweet (atualmente apagado) na página oficial do próprio estabelecimento de saúde, e gerou uma fervorosa discussão dentro das redes sociais.
Talvez um interessante tópico para discussão na mesa de bar rs.
🇧🇷 No Brasil, parece ser uma realidade bem distante de acontecer, uma vez que ainda é um procedimento pouco disponível em diversas regiões e apenas recentemente incorporado pelo SUS.
Imagem da Semana
Paredes espessadas, realce endocárdico e apical sparing no strain longitudinal. Achados ecocardiográficos de livro para o diagnóstico de amiloidose cardíaca!
Fique por dentro
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💊 Semaglutida oral para perda de peso em pacientes não diabéticos: resultado positivo!
🤦♀️ Mulheres com história de cardiomiopatia periparto têm maior risco de eventos adversos em novas gestações, mesmo após recuperação completa da função do VE.
🚙 Quais os efeitos adversos hemodinâmicos das terapias de suporte ventricular esquerdo? Descubra nessa interessante revisão do JACC.
🩸 A anticoagulação de pacientes em tratamento oncológico não se mostrou benéfica na prevenção de eventos tromboembólicos arteriais.
♻️ O ácido bempedoico reduziu desfechos em pacientes intolerantes à estatinas, em pacientes de alto risco, na prevenção primária.