Infarto em idosos: devemos angioplastar o vaso culpado?
Divergências de resultados e mais: o poder da Lp(a) e drogas antiobesidade
IAM em idosos
Ensaios clínicos randomizados (NEJM e JACC)
São mais de 35 anos da publicação do estudo ISIS-2.
Isso significa que, de lá para cá, adquirimos um conhecimento crescente acerca do tratamento do IAM, desde a trombólise e angioplastia até o manejo dos multiarteriais.
Em meio a essa onda, porém, um grupo manteve-se negligenciado: os pacientes idosos.
Se antes a baixa expectativa de vida tornava esse grupo pouco favorável para o tratamento invasivo, hoje constantemente recebemos pacientes com mais de 75, 80 anos com capacidade funcional e estilo de vida semelhantes a jovens no seus 50-60 anos.
Dessa forma, 2 estudos, publicados respectivamente no JACC e no NEJM procuraram trazer luz a algumas dúvidas no tratamento do IAM naqueles com > 75 anos:
🔥 FIRE:
Contrapôs a revascularização completa guiada por fisiologia ou apenas da lesão culpada em pacientes idosos com IAM tanto com elevação (IAMcSST) quanto sem elevação do segmento ST (IAMsSST).
A revascularização completa orientada por fisiologia reduziu tanto os desfechos primários quanto secundários em comparação com a revascularização apenas da lesão culpada, indicando um benefício consistente em todo o espectro de pacientes com infarto do miocárdio.
👴🏼 SENIOR-RITA:
Comparou a estratégia conservadora com uma estratégia invasiva (angioplastia) em paciente > 75 anos com IAM sem supradesnivelamento de ST.
A estratégia invasiva não resultou em redução significativa de morte cardiovascular ou infarto do miocárdio não fatal comparado à estratégia conservadora (HR 0.94; 95% IC: 0,77 - 1,14; P = 0,53) durante um acompanhamento médio de 4,1 anos. Houve, no entanto, redução do infarto não fatal no grupo da revascularização.
Apesar do impacto inicial da ausência de benefício, nos perguntamos se é a redução de mortalidade que procuramos nesse grupo, ou se a redução de novos infartos, hospitalização e melhora da qualidade de vida já não seriam suficientes para a abordagem invasiva nesse grupo.
Esses estudos ampliam o conhecimento sobre o manejo do IAM em uma população que frequentemente enfrenta tratamentos clínicos desafiadores devido à complexidade de suas condições de saúde.
Mesmo parecendo divergentes em uma análise inicial, destacam a importância do tratamento além do objetivo isolado de redução de mortalidade, como também do foco da melhoria da qualidade de vida nessa população.
Assim, sugerem que a personalização do manejo deve ser realizada com base nas características específicas do paciente e nas propostas de cuidado no curto e médio prazos.
O poder da Lp(a)
Metanálise (EHJ)
Sabemos o rumo que estamos tomando, mas não sabemos como desviar do nosso destino… Este texto não foi produzido para a seção de Esoterismo da DozeNews.
Estamos nos referindo à famosa lipoproteína a - Lp(a).
A Lp(a) está associada a maior risco de eventos cardiovasculares isquêmicos, mas pouco se sabe sobre sua capacidade de estratificação de risco em pacientes sob uso de estatina.
Será que o controle do LDLc reduz a capacidade de predição de eventos da Lp(a)? Este é o tema do artigo desta semana do EHJ.
Vamos entender melhor o estudo:
⚙️ Metanálise de dados individuais de 6 grandes estudos randomizados (4D, 4S, CARDS, JUPITER, LIPID, MIRACL)
🎯 Objetivo: avaliar a associação entre LDLc e Lp(a) com o risco de eventos isquêmicos fatais ou não fatal, DAC e revascularização cardíaca ou periférica.
👥 Foram incluídos ao todo 27.658 pacientes!
🏆 Resultado: o nível de Lp(a) associou-se linearmente com o risco aterosclerótico em pacientes com e sem uso de estatina.
Os altos níveis de Lp(a) são, sem dúvida, um novo parâmetro para individualização do risco de eventos isquêmicos.
Apesar disso, ainda não temos conduta específica direcionada para sua redução.
Guardemos essas informações para as cenas dos próximos capítulos…
Vai um sorinho aí?
Publi
Prescrições de anabolizantes disfarçadas de reposição hormonal, promessas de imunidade com soros coloridos, mentiras sobre medicamentos consagrados que salvam vidas (como as estatinas e os antidepressivos), solicitações de exames sem fundamento...
O charlatanismo tem encontrado solo perfeito para crescimento no nosso país.
E o pior: tem gerado ruído para uma ciência que é verdadeiramente relevante, a medicina do estilo de vida (MEV), uma área do conhecimento fundamentada nas ciências do comportamento e na medicina baseada em evidências.
Essas “pseudoMEVs” são construídas em abordagens não baseadas em evidências científicas, prontas para prejudicar a saúde de milhões de indivíduos (e encher os bolsos de outros tantos).
Esse é o momento em que todos nós, médicos, precisamos agir: participe do evento online “As pseudociências disfarçadas de Medicina do Estilo de Vida”, um especial gratuito de 7 podcasts semanais sobre o combate ao charlatanismo médico no Brasil.
Assista abaixo ao vídeo do pronunciamento de inauguração da série e junte-se ao lado certo dessa batalha.
Drogas antiobesidade: onde estamos?
Revisão (The Lancet)
Nos últimos anos, o surgimento dos superagentes farmacológicos – os famosos agonistas GLP-1, GIP e glucagon – vêm mudando o jogo do tratamento da obesidade.
Além de mandar embora até 20% do peso em algumas pessoas, eles estão começando a fazer pela obesidade o que o trio arroz, feijão e bife faz pelo nosso almoço: resolvem de tudo um pouco, de glicemia até saúde do coração.
Com moléculas como semaglutida e tirzepatide, a história é outra. Esses agonistas da GLP1 e da GIP + GLP1, respectivamente, trabalham não só no controle glicêmico, mas ainda ajudam a baixar pressão arterial, melhorar o colesterol e até reduzir a inflamação.
Segurança para o coração e rins? Pode acreditar: estudos como o LEADER, SUSTAIN e REWIND mostraram que essas drogas podem realmente reduzir eventos cardíacos maiores, especialmente em quem tem diabetes e risco cardiovascular alto.
E os rins? Esses parceiros também saem ganhando, com menos chances de complicações, o que dá aquele respaldo para prescrever sem medo.
O futuro (quase) sci-fi dos tri-agonistas:
Agora, pensa na cena: uma pílula que faz o papel de um exército multitarefa! É isso que os tri-agonistas, como o retatrutide, prometem. Podem, em alguns casos, alcançar resultados comparáveis aos da cirurgia bariátrica.
Alguns estudos indicam, ainda, que essas terapias, além de ajudarem no peso, têm uma pegada protetora em doenças como fígado gorduroso e neurodegenerativas.
Dica final: a jornada de quem vive com obesidade é longa e precisa de suporte contínuo. Além da prescrição de drogas, precisamos orientar sobre a importância do trabalho multidisciplinar e sempre da mudança do estilo de vida.
As novas drogas são incríveis, mas ainda não existe pílula mágica que faça o trabalho sozinho.
Sal integral?
Caiu na Mídia
E por falar em charlatanismo…
Uma matéria publicada no jornal Estadão alertou sobre a moda da vez nas redes sociais: recomendar a ingesta de sal “integral”, ou seja, qualquer tipo menos o sal refinado, diluído em 1 litro de água.
A ideia seria que o sal refinado perde nutrientes no processo de refinamento, ao contrário dos produtos integrais, que teriam uma composição mais natural, preservando elementos como magnésio, cálcio e potássio — isso supostamente auxiliaria no controle da pressão arterial.
De onde será que as pessoas tiram essas ideias?
Temos uma hipótese: da necessidade crescente de aparecer nas redes sociais e assim vender os seus produtos.
Surpreendendo um total de 0 pessoas, um dos “famosos” médicos a divulgar isso, com mais de 1,2 milhão de seguidores no Instagram, é o mesmo que está sendo acusado por divulgar a inexistência do câncer de mama (não faremos o desfavor de divulgar aqui a página desse indivíduo).
Ficamos com a missão de orientar os nossos pacientes sobre a verdade com base na evidência científica, e cobrar maior fiscalização e ação por parte dos conselho federal e regional de medicina contra esses divulgadores de falsas verdades médicas.
Um giro pelas demais publicações do globo 🌎
💉 Como iniciar e titular o diurético venoso na IC descompensada? Interessante estudo do JACC:Advance revela que pacientes com doses altas de diuréticos orais em casa são menos propensos a receber doses iniciais ideais de diuréticos IV em insuficiência cardíaca aguda.
⚡ Estudo do JACC aponta que o tamanho do aneurisma apical aumenta o risco de arritmias letais em pacientes com miocardiopatia hipertrófica, enquanto pequenos aneurismas apresentam baixo risco a longo prazo.
💻 Revisão do JACC destaca o papel da ressonância magnética cardíaca na avaliação do remodelamento ventricular após infarto, facilitando a adoção de novas terapias anti-inflamatórias e antifibróticas.
🏥 Como evitar a hospitalização recorrente em pacientes com worsening heart failure? O ensaio clínico AT HOME-HF apresentou interessantes resultados com o uso da furosemida subcutânea.
🤰🏽 Quais os mecanismos responsáveis pelo aumento do risco cardiovascular na mulher gestante e puérpera? Revisão do EHJ aponta que obesidade materna durante a gravidez aumenta o risco cardiovascular na prole, mediado por estresse oxidativo e disfunção mitocondrial, e discute intervenções para mitigar esses efeitos.
🤖 A inteligência artificial no mundo dos ensaios clínicos? Estado-da-arte do JACC destaca o potencial da inteligência artificial para automatizar ensaios clínicos cardiovasculares, acelerando processos e reduzindo custos, mas alerta para riscos de vieses e privacidade.
🚶🏻 Estudo ProPASS confirma que mesmo pequenos aumentos em atividades físicas diárias, como exercícios ou caminhada rápida, estão associados a reduções na pressão arterial em adultos.
Pessoal do site, parabéns pelo trabalho. Conteúdo de qualidade e disposição das informações!