Obesidade x IC: qual a relação?
Artigo de Revisão (JACC)
Cada vez mais próximos. Assim estamos de finalmente compreender a relação entre a obesidade e a insuficiência cardíaca (IC).
Apesar de sabermos que o acúmulo de gordura é um dos grandes vilões no desenvolvimento da IC, os mecanismos que conectam a obesidade à ICFEP ainda são um mistério em muitos aspectos.
O JACC publicou uma interessante revisão que nos deixa mais perto de entender esse problema. Para isso, baseia-se em um ponto importante: o índice de massa corporal (IMC) pode até nos dar uma ideia geral sobre obesidade, mas ele deixa de lado um detalhe crucial — onde essa gordura está localizada e como ela se comporta.
Tecidos como o adiposo subcutâneo, visceral e o epicárdico (TAE), que envolve o coração, respondem de formas muito diferentes na obesidade e podem impactar diretamente o risco de desenvolver insuficiência cardíaca.
O foco especial aqui é o TAE, por estar literalmente colado ao miocárdio. Esse tecido pode ter um papel importante na ICFEP, graças a seus efeitos inflamatórios e à pressão mecânica que exerce no coração.
🤔 Mas, o que isso significa para a prática clínica?
Precisamos olhar além do IMC e entender que, na obesidade, o “onde” a gordura se acumula importa — e muito.
Saber mais sobre como o TAE e outros tipos de gordura influenciam o coração pode abrir novas oportunidades para intervenções mais específicas e eficazes no combate à ICFEP.
Essa publicação da JACC é uma leitura obrigatória para quem quer ficar por dentro do que há de mais atual em termos de obesidade e insuficiência cardíaca, com insights que podem ajudar na tomada de decisão clínica de forma mais personalizada!

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Fatores prognósticos na estenose mitral reumática
Coorte (Circulation)
A estenose mitral (EM) de etiologia reumática é uma condição tão comum no dia a dia da cardiologia do nosso país que, muitas vezes, não nos damos conta de algumas gaps no conhecimento sobre a sua evolução.
🤨 Vamos explicar:
Segundo a última diretriz da SBC (2020), é indicada a intervenção em pacientes assintomáticos nos casos de EM importante associada a complicadores, ou seja, hipertensão pulmonar (PSAP ≥ 50 mmHg em repouso ou ≥ 60 mmHg com esforço) ou presença de FA de início recente.
Será que esses complicadores são mesmo tão relevantes para o prognóstico do paciente?
Um estudo publicado no Circulation procurou esclarecer melhor essa questão: incluiu 287 pacientes com estenose mitral reumática severa para explorar o significado prognóstico da pressão arterial sistólica pulmonar estimada (PSAP) e da fibrilação atrial (FA) em eventos adversos cardiovasculares maiores (MACE).
Durante um acompanhamento médio de 2,52 anos, MACE ocorreu em 99 pacientes (34%).
A análise não mostrou diferenças significativas nos parâmetros ecocardiográficos entre os pacientes com e sem desfechos primários, mas aqueles com PSAP > 50 mmHg apresentaram um prognóstico significativamente pior em comparação com aqueles com PASP ≤ 50 mmHg.
A FA não se mostrou um indicador prognóstico significativo.
E mais: análises estatísticas adicionais identificaram PSAP > 45 mmHg como um limiar ótimo e um preditor independente de MACE.
Esses achados sugerem que a PSAP é um indicador prognóstico mais relevante do que a fibrilação atrial para pacientes com estenose mitral reumática severa, propondo um limiar mais baixo de PSAP (> 45 mmHg) para prever um prognóstico desfavorável.
Precisamos falar sobre o infarto periprocedimento
Artigo de revisão (EHJ)
Se na semana passada trouxemos uma interessante discussão acerca da mudança dos paradigmas do infarto do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST, nessa edição é a vez de outro tipo de evento isquêmico: o infarto periprocedimento.
O European Heart Journal trouxe um excelente debate acerca de mudanças nos pontos de corte do infarto após cirurgias cardíacas.
📝Primeiro, vamos à definição atual, segundo a 4ª Definição Universal de Infarto:
Elevação de troponina ultrassensível (cTn) >10x o valor de referência, com evidência clínica ou eletrocardiográfica de isquemia, após a cirurgia de revascularização.
Aí começa o problema, uma vez que esse ponto de corte soa arbitrário, sem refletir adequadamente o risco real e a natureza do dano miocárdico.
Como um bom debate (sem cadeiradas rs), foram apresentados pontos a favor e contra essa mudança:
A favor:
Argumenta-se que uma definição atualizada deve incorporar limiares de cTn que melhor reflitam os riscos pós-operatórios e os resultados clínicos, levando a um diagnóstico mais preciso e a uma intervenção mais adequada.
É sugerida a realização de novas pesquisas para estabelecer bases evidenciais mais robustas para os limiares de cTn, que não se baseiem exclusivamente em resultados de mortalidade, mas também considerem a morbidade e a qualidade de vida pós-operatórias.
Em outras palavras: qual seria um corte de cTn no seguimento do pós-operatório imediato que leva a piora significativa da função cardíaca com consequente repercussão na morbimortalidade?
Contra:
Há uma preocupação de que mudanças prematuras baseadas em novos dados possam levar a definições clínicas que não sejam adequadamente validadas, resultando em confusão e possíveis danos aos pacientes devido a diagnósticos e intervenções desnecessários.
A situação clínica de pacientes submetidos à cirurgia cardíaca é complexa, e a redefinição deve levar em conta fatores como variações entre os tipos de procedimentos e o estado basal do paciente. Argumenta-se que o foco em limiares prognósticos poderia simplificar excessivamente essa complexidade.
A única certeza disso tudo é que vale a leitura do artigo para formar a sua opinião.
Sem dúvidas uma discussão difícil e que, como dito acima, envolve um contexto de alta complexidade com diferentes metodologias que é a cirurgia cardíaca. Sem dúvidas precisamos de mais estudos clínicos que possam nos aproximar de uma definição mais objetiva e confiável para o infarto periprocedimento.
Vitória contra o charlatanismo
Caiu na Mídia
Em meio à guerra contra as más prescrições, o comunicado da Anvisa contra os “chips da beleza” soa como uma vitória.
Nele, a agência nacional proíbe a manipulação, a comercialização e a propaganda dos implantes hormonais manipulados, eliminando todos aquele sem avaliação de segurança e eficácia.
🔍 O que são os chips da beleza?
A gestrinona, hormônio com efeitos androgênicos e antiestrigênicos, surgiu como interessante opção no tratamento da endometriose.
Mas, como sempre, os fins estéticos tomaram conta e bagunçaram tudo: passaram a incluir outras drogas como testosterona, estradiol, oxandrolona, metformina etc.
Uma vez que não são validados, não sabemos ao certo nem o que, nem o quanto de cada substância tem no chip.
Em relação aos riscos cardiovasculares estamos igualmente no escuro: pouquíssimos estudos demonstraram segurança a longo prazo do seu uso.
Dessa forma, a última diretriz de Saúde Cardiovascular no Climatério e na Menopausa publicada esse ano pela SBC concorda com orientações já publicadas por outras sociedades médicas (FEBRASGO, SOBRAC, sociedade de endocrinologia e diversas entidades internacionais) na contraindicação ao uso dos implantes hormonais.
Sem dúvidas uma pequena vitória na tentativa de organizar a bagunça das prescrições desenfreadas que a medicina vive.
Imagem da Semana

Belíssimo caso clínico: mFR na avaliação de um quadro de MINOCA, evidenciando ausência de comprometimento funcional das lesões nos vasos epicárdicos, porém revelando doença da microvascular (índice de resistência microvascular acima de 25).
O seu giro preferido pelas publicações internacionais 🌎
🫁 Artigo de revisão do JACC destaca inovações na terapia por cateter para embolia pulmonar de alto risco, ressaltando a falta de evidências robustas e propondo estratégias para otimizar o uso de dispositivos.
🧠 Coração e cérebro. Como as doenças cardiovasculares podem aumentar o risco de demência? Veja esse interessante consenso publicado pela AHA.
🛜 Publicação no NEJM revela que sistema de marcapasso e desfibrilador subcutâneo sem fio supera metas de segurança e eficácia, oferecendo uma alternativa promissora para prevenção de arritmias.
📜 Revisão do JACC destaca o papel da imagem multimodal na identificação de pacientes com disjunção anular mitral em risco de arritmias, ressaltando a necessidade de mais dados para guiar o manejo clínico.
🩸 JACC com tudo nessa semana: outra revisão destaca a importância de estratégias personalizadas de terapia antitrombótica para reduzir o risco de sangramento em pacientes de alto risco submetidos a intervenções cardíacas percutâneas.
🏃🏼♂️ Valorize os weekend warriors! Estudo publicado no Circulation demonstrou resultados semelhantes em prevenção cardiometabólica quando comparada a atividade física aos finais de semana vs regular.
💪🏼 Estudo do Circulation explora os efeitos dos agonistas do receptor GLP-1 na massa muscular durante a perda de peso, sugerindo uma resposta adaptativa com melhora na qualidade muscular e sensibilidade à insulina.
🫀 Melhora da fração de ejeção ventricular esquerda após intervenção coronária percutânea está associada à redução da mortalidade em pacientes com LVEF reduzida, mas não em pacientes com LVEF preservada.
🧈 Estudo revela que a atenuação do tecido adiposo pericoronário não prevê eventos cardíacos adversos maiores em longo prazo em pacientes com doença arterial coronariana.