Sopa de eletrólitos no tratamento da Fibrilação Atrial (FA)
Artigo Original
Reversão de FA ou Flutter Atrial com reposição intravenosa de potássio e magnésio: ciência ou alquimia?
Se você é daqueles que já sai prescrevendo antiarrítmicos para pacientes com FA na emergência, calma!
Parece que um pouco de potássio e magnésio podem ajudar a evitar a administração de antiarrítmicos e seus efeitos adversos.
Estudo de coorte baseado em registro de 2546 episódios de FA e 573 de Flutter atrial;
Objetivo: avaliar a reversão espontânea de ritmo em pacientes com FA e Flutter com e sem administração de K e Mg;
Intervenção: administração de potássio e magnésio EV;
Resultados:
FA: reversão espontânea do ritmo ocorreu 2x mais que o grupo controle (19,2% vs 10,4%).
Flutter Atrial: sem diferença entre os grupos (13% no grupo K/Mg vs 12.5% no controle).
Olho no detalhe: benefício foi demonstrado em pacientes com K sérico abaixo de 3,99 mEq/L nos pacientes com FA.
E quanto foi administrado? Fizemos essa conta para você: foram utilizados 24 mEq de potássio, ou seja, 1 ampola de KCL 19,1% (25mEq) e ao redor de 1,5 ampola de sulfato de magnésio 10% (próximo a 145,8 mg de Mg no estudo).
Estamos discutindo esse artigo lá no Cardiogram, com diferentes especialistas. Dá uma conferida!
Nova diretriz brasileira sobre Doença de Chagas
Diretriz Brasileira
Essa semana tivemos uma novidade da Sociedade Brasileira de Cardiologia: nova diretriz sobre a cardiomiopatia da Doença de Chagas (ainda no formato pré-print).
A última diretriz sobre o tema era de 7 anos atrás, em conjunto com a Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Dessa vez o foco foi apenas nas alterações cardiovasculares.
A nova diretriz começa com um interessante histórico sobre a batalha enfrentada por Carlos Chagas e seu mentor Oswaldo Cruz, no começo do século XX.
Ela demonstra a dificuldade de compreensão da comunidade médica da época quanto à descoberta da Doença de Chagas, principalmente pela epidemiologia da doença, que acometia pessoas de maior vulnerabilidade social e cursava com impacto físico e socioeconômico.
Pautado em princípios da Medicina Baseada em Evidências, o material está muito completo e excelente para estudo e consulta.
Alguns dos tópicos mais comentados:
Epidemiologia: transmissão, carga econômica, distribuição (63% dos casos na América Latina) e situação brasileira;
Patogênese: fase aguda e crônica, imunidade, genética, dano miocárdio, fibrose, doença microvascular coronariana e denervação;
História Natural: miocardite, forma indeterminada e síndromes clínicas (IC, arritmias, tromboembolismos);
Diagnóstico: identificação de infecção, ECG, Rx, ECO e outros exames complementares;
Estratificação de risco: prognósticos das formas, escore de Rassi;
Tratamento etiológico: quando e como combater o parasita;
Condutas terapêuticas: diuréticos, iSRAA, beta bloqueadores, espironolactona, amiodarona, ivabradina, digoxina, iSGLT2, transplante, CDI, ablação e prevenção de eventos cardioembólicos (ufa!).
Vale muito deixar o PDF disponível e de fácil acesso. E claro, já existe um DozeCast resumido sobre a Doença de Chagas!
Determinantes sociais da morte súbita
Artigo Original
Pleno 2022 e ainda há diferenças étnicas em relação aos cuidados na saúde? Parece que sim.
Grande coorte norte-americana publicada no NEJM avaliou se o atendimento de uma PCR presenciada no ambiente extra-hospitalar difere quanto a raça, grupo étnico e local do atendimento.
Foram mais de 110 mil episódios analisados entre 2013-2019.
Surpreendendo um total de 0 leitores: negros e hispânicos tiveram menor chance de receber a RCP que brancos, independente se o evento ocorreu em casa (38,5% vs 47,4%) ou na rua (45,6% vs 60%).
E mais, essa diferença foi independente da localização do evento, ou seja, em bairros de maioria branca ou não.
Principais reflexões a tirar desse artigo:
Primeiro, a taxa total de RCPs no ambiente extra-hospitalar foi baixa (entre 40-60% a depender da etnia e do local).
Há, ainda, um aparente racismo estrutural nos EUA, que levou a uma maior hesitação na hora de iniciar a RCP em negros e hispânicos.
Necessidade de mais treinamento em RCP para a população leiga em todas as comunidades.
Fica a dica do belo editorial que saiu sobre o tema.
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Morto de susto
Caiu na Mídia
31/10. Dia das bruxas, o famigerado Halloween.
E essa data nos fez perguntar: será que há maior risco de eventos cardíacos pelas brincadeiras de susto nessa época?
Talvez seja um dia para não pegar aquele plantão de PS cardiológico.
Uma matéria publicada pela American Heart Association tentou tirar essa dúvida.
E a resposta é o que já esperávamos: talvez sim, mas teria que ser um belo de um susto.
Basicamente porque o risco de evento cardíaco seria secundário a uma grande descarga adrenérgica, que teria que ser alta o suficiente para conseguir induzir um aumento de frequência cardíaca e pressão arterial a ponto de levar a um evento isquêmico ou arrítmico.
Outra opção, até menos compreendida, seria o risco de induzir uma Síndrome de Takotsubo.
Bom, vamos pegar leve nos sustos. Vai que né.
Imagem da Semana
Paciente de 37 anos, sexo masculino, admitido com infarto com supra no pronto-socorro. Cinecoronariografia demonstrando dissecção de Tronco de Coronária Esquerda 😖.
Fique por dentro
🧬 No The Lancet foi publicada análise secundária do estudo ACTIBATE, denotando as alterações biomoleculares benéficas da atividade física em adultos jovens previamente sedentários.
🧠 Você se recorda do conceito de memória cardíaca? Pois bem, após estimulação com marca-passo podem existir alterações transitórias das correntes de despolarização e do ECG (inversão de T, por exemplo) por consequência. Antes considerada benigna, pode estar relacionada a potencial arritmogênico!
🔪 Não acredite 100% no STS e Euroscore! Editorial da Circulation discute a importância da avaliação física e mental de pacientes submetidos a revascularização miocárdica.
🤷🏾♀️ Como eliminar as disparidades em morbimortalidade cardiovascular contra as mulheres negras? Necessária revisão publicada no JACC dessa semana traz essa abordagem.
🩸 Ainda em relação a disparidades étnicas, grande coorte publicada no JAMA Cardiology demonstrou diferenças na anticoagulação a longo prazo em pacientes negros com FA.
⚡️ Interessante revisão do HEART Journal sobre as estratégias de prevenção de morte súbita na Cardiomiopatia Hipertrófica.
🩸 Sangramentos maiores em pacientes anticoagulados devido à FA apresentam piora de desfecho clínico.
🏃🏽 Qual a intensidade e gasto energético da atividade física para benefício cardiovascular? Estudo do EHR aborda a questão.
🩸 Artigo do EHR discute a importância da deficiência de ferro em diversos contextos de doença cardiovascular: doença coronariana, disfunção ventricular e IC FEP.
🫀 Estudo francês (análise do FAST-MI) revisa a incidência e importância prognóstica da fibrilação ventricular (FV) após IAM após 20 anos de observação em 5 centros na França.
⚡️ Metanálise mostra a importância do “basic life support” (BLS) e do desfibrilador no suporte a paradas cardíacas relacionadas à atividade física.