Na edição de hoje:
🧈 Infusão de apoliproteína A1 após IAM não reduziu desfechos cardiovasculares;
🌎 Resultados de mais um trial de TAVI vs Cirurgia, dessa vez com dados de mundo real!
💊 A importante relação do Entresto com hipotensão.
CSL112 após IAM: não foi dessa vez
Ensaio clínico randomizado (NEJM)
Não foi dessa vez que tivemos uma nova opção medicamentosa para o tratamento pós-IAM.
Você já deve ter escutado falar da apolipoproteína A1, a rainha da “faxina” das nossas artérias. Esse componente do HDL tem um trabalho crucial: varrer o colesterol ruim que se acumula nas paredes dos nossos vasos sanguíneos.
Mas onde o CSL112 entra nessa história?
O CSL112 é uma versão turbinada da nossa apolipoproteína A1, derivada do plasma humano.
Esse super “faxineiro” foi testado em um grande estudo publicado no NEJM para avaliar se poderia reduzir o risco de eventos cardiovasculares após um IAM.
Para os atentos, esse trial foi apresentado no recente congresso do ACC e brevemente comentado nas nossas plataformas.
Armados com vassouras potentes (leia-se: quatro infusões semanais), os pesquisadores queriam ver se ele realmente fazia uma faxina mais eficaz.
E os resultados da grande faxina?
18.219 pacientes participaram do estudo. No fim do dia (ou dos 90, 180 e 365 dias de acompanhamento), os resultados não foram significativamente diferente entre os pacientes que receberam o CSL112 e aqueles que receberam um placebo.
Isso mesmo, os dois grupos tiveram uma taxa similar de eventos cardíacos, mostrando que talvez nossa super apolipoproteína precisa de uma estratégia diferente para ser mais eficaz.
E efeitos colaterais? Sim, temos.
Não bastassem os resultados pouco animadores, o uso do CSL112 veio com uma ligeira desvantagem: um número um pouco maior de eventos de hipersensibilidade, tipo umas reações alérgicas entre os pacientes que receberam o tratamento.
O que levamos dessa experiência?
Apesar do potencial teórico do CSL112 como um super faxineiro do nosso sistema cardiocirculatório, a prática mostrou resultados diferentes. Mas, cada pesquisa como essa é importante, pois nos ajuda a afinar nossas ferramentas e estratégias para manter nossos corações limpos e funcionando bem.
TAVI vs Cirurgia na estenose aórtica (de novo…)
Ensaio clínico randomizado (NEJM)
1 minutinho de paciência, por favor…
Sabemos que estudos que comparam TAVI vs cirurgia convencional na estenose aórtica (EAo) não são novidade para ninguém.
No entanto, ainda restam dúvidas sobre o emprego da TAVI em pacientes jovens e em população de baixo risco cirúrgico.
Nesse sentido, foi publicado no NEJM um estudo alemão que traz a rotina do uso da TAVI nesse país.
Foi um estudo de não inferioridade, multicêntrico e randomizado, cujo desfecho primário foi composto por morte ou AVC fatal ou não fatal em 1 ano.
O diferencial do estudo foi incluir 1414 pacientes com idade média de 74±4 anos e risco cirúrgico baixo e moderado, randomizados para TAVI ou cirurgia de troca valvar aórtica
Vamos aos resultados:
Desfecho primário: 5,4% TAVI vs 10% Cirurgia (p < 0,001 para não-inferioridade)
Morte: 2,6% TAVI vs 6,2% Cirurgia
AVC: 2,9% TAVI vs 4,7% Cirurgia
Complicações relacionadas ao procedimento: 1,5% TAVI vs 1% Cirurgia
Calma, calma, calma… Compreenda porque esse estudo não é apenas mais um trial de TAVI vs cirurgia:
Ele reflete de maneira mais fidedigna a prática destes centros, sendo a escolha da prótese e abordagem de acordo com a conduta dos operadores (ou seja, não é um estudo de uma marca de prótese e conduzido pelos investigadores).
Assim, fiquemos com a não inferioridade da TAVI à escolha do operador em relação a cirurgia de troca valvar aórtica.
A hipotensão secundária ao sacubitril-valsartana
Subanálise PARAGON-HF (JACC)
Dos efeitos adversos associados ao sacubitril-valsartana, sem dúvidas a hipotensão é um dos que mais nos traz receios no dia a dia clínico.
Recentemente, o estudo PARAGON-HF avaliou o uso dessa medicação no contexto da IC com FEVE ≥ 45%.
No entanto, não demonstrou benefício no desfecho composto por morte ou hospitalizações, apenas em subanálises (especialmente com FEVE mais baixas e mulheres). Recebe, assim, uma indicação IIb para uso da FEVE ≥ 40% na última diretriz americana.
Para entender melhor esses desfechos, foi publicado no JACC uma subanálise desse estudo que concentrou-se em avaliar os preditores de hipotensão e as consequências clínicas após sua ocorrência.
Vamos aos detalhes técnicos:
Incidência de Hipotensão: 13% dos participantes experimentaram hipotensão, sendo mais comum no grupo tratado com sacubitril-valsartana em comparação ao grupo tratado com valsartan (p < 0.001).
Desfechos após Hipotensão: Aqueles com hipotensão apresentaram um risco ajustado significativamente maior de morte cardiovascular e hospitalizações totais por IC (RR ajustado: 1,63; IC 95%: 1,27-2,09; p < 0,001).
Influência da LVEF: A fração de ejeção do ventrículo esquerdo (LVEF) modificou a associação entre o tratamento e o risco de hipotensão. Pacientes com LVEF ≥60% mostraram riscos mais altos de hipotensão induzida pelo tratamento.
Esses resultados são essenciais para a prática clínica: os dados sugerem que, enquanto o sacubitril-valsartana oferece benefícios em pacientes com LVEF abaixo do normal, aqueles com FEVE mais alta podem não se beneficiar tanto e estão mais susceptíveis a riscos como hipotensão.
Portanto, a decisão de incluir essa medicação no regime de tratamento de um paciente deve considerar cuidadosamente a FEVE, balanceando os benefícios esperados com o potencial risco de hipotensão.
A raiva mata
Caiu na Mídia
Calma, calabreso.
Uma matéria publicada no jornal o Globo destaca o aumento do risco de infarto 40 minutos após uma crise de raiva.
Esse dado vem de um estudo publicado no Journal of the American Heart Association, que incluiu 280 adultos saudáveis designados aleatoriamente para um dos quatro recordações por 8 minutos:
😡 raiva;
😢 humor deprimido;
😖 ansiedade;
😑 condição emocionalmente neutra.
Antes e depois das tarefas, a saúde endotelial foi avaliada medindo principalmente a vasodilatação dependente do endotélio (índice de hiperemia reativa).
O interessante: os autores observaram uma uma piora na função endotelial no grupo da raiva comparado ao grupo neutro.
Essa interação não foi vista nas condições de ansiedade e tristeza, sugerindo que essas emoções tiveram um impacto menor ou nenhum impacto na saúde endotelial comparadas à condição neutra.
Assim, o estudo sugere que a provocação breve de raiva prejudica significativamente a saúde das células endoteliais, especificamente afetando a vasodilatação dependente do endotélio.
Se esse fato pode levar a aumento de eventos cardiovasculares é outra história rs. Mas, sem dúvidas é um estudo interessante e gerador de hipóteses.
Imagem da Semana
Esse é o tipo de imagem para você nunca mais achar que pode confiar em um escore de cálcio = 0 em um paciente sintomático.
Placa não calcificada subocluída no terço proximal da artéria DA à angiotomografia de coronária (à esquerda) e no cateterismo cardíaco (à direita).
🥇 Temos uma completa edição da DozeNews Prime sobre o uso da angiotomografia de coronárias na prática clínica.
Um giro pelas principais publicações da semana
🚨 Para quem acompanhou as aulas do Curso de Emergências da Doze, vale a pena conferir: AVCi de causa indeterminada e as repercussões cardiovasculares - Statement europeu.
🖼️ Interessante estado-da-arte do JACC sobre a identificação de pacientes de maior risco na síndrome do prolapso da valva mitral.
🦵🏼 Revascularização do miocárdio ou dos membros inferiores: o que apresenta maior mortalidade pós operatória?
⏭️ Série do JACC sobre complicações pós-infarto:
Infarto do VD: um conto de 2 ventrículos;
💊 iSLGT2 testado com sucesso para redução da insuficiência mitral.
Muito bom