Novas evidências sobre o risco de embolia na endocardite
E mais: Faustão na lista para o transplante cardíaco; SPRINT nos idosos; fluorquinolonas x risco de síndrome aórtica;
O risco embólico da endocardite
Coorte prospectiva (EHJ)
Uma coorte europeia de endocardite com 2.371 pacientes buscou trazer uma resposta importante para nossa rotina de enfermaria na cardiologia:
Quais os principais preditores de embolização em pacientes internados com endocardite infecciosa de válvulas esquerdas?
Para responder essa pergunta, o estudo acompanhou esses pacientes por 01 mês, avaliando as variáveis que estiveram associadas de maneira independente com novo evento embólico ou mortalidade em 30 dias.
Já um detalhe para a incidência do desfecho: 21,1% apresentaram nova embolia ou morte no período.
Algumas das principais variáveis identificadas foram:
Vegetação > 10 mm (número que já era conhecido e agora ganhou reforço; HR 1,38);
História de IC (HR 1,53);
Se choque cardiogênico, HR 2,07;
Creatinina > 2 mg/dl (HR 1,59);
Evento embólico na admissão (HR 1,89);
Se AVC hemorrágico, HR 4,57;
Abuso de álcool (HR 1,45);
Cirurgia não realizada (HR 1,3).
Uma análise fria dos resultados pode sugerir vieses de novos eventos embólicos ao incluírem a mortalidade no desfecho.
De qualquer maneira, são informações válidas e que podem servir como ferramentas na hora de indicar tratamento cirúrgico no seu paciente internado com endocardite infecciosa.
O SPRINT cabe para idosos frágeis?
Subanálise SPRINT (Circulation)
Um idoso frágil vai à consulta em uso de múltiplos anti-hipertensivos.
Nossa primeira reação é questionar o benefício clínico disso tudo, em detrimento dos riscos associados.
Na tentativa de sanar de vez a nossa dúvida, uma subanálise do SPRINT Trial avaliou se a presença de fragilidade interfere na proteção do tratamento anti-hipertensivo rígido.
❗Para lembrar: o SPRINT Trial foi publicado em 2015, e demonstrou o benefício do controle intensivo da PA (< 120 mmHg) em pacientes de alto risco cardiovascular.
Essa subanálise incluiu 9306 pacientes, sendo que 2560 (26,7%) foram considerados frágeis pelo índice estabelecido no estudo (índice de fragilidade > 0,21). O desfecho primário foi composto por síndrome coronariana aguda, IAM, AVC, internação por IC ou óbito.
Resultados:
Após um seguimento médio de 3,22 anos, observou-se que pacientes frágeis apresentaram maior ocorrência de desfecho primário independente do grupo de controle da PA (intensivo ou padrão).
Os pacientes frágeis beneficiaram-se de forma semelhante aos não-frágeis com o controle intensivo da PA, sem aumento de eventos adversos.
É, amigos… para desgosto de alguns geriatras parece que o controle intensivo da PA em pacientes frágeis traz os mesmos benefícios da população em geral.
Mas atenção a essa população: os frágeis apresentam maior ocorrência de desfechos cardiovasculares!
Hipertrofia ventricular no ECO: e agora?
Workshop
A incidência de amiloidose e cardiomiopatia hipertrófica vem aumentando nos últimos anos.
E curiosamente, isso não se deve a um maior número de pacientes com a doença e sim por aumento do seu diagnóstico - inclusive situações que podem ser “freadas” ou revertidas.
Dessa maneira, realizar um fluxograma de diagnósticos diferenciais quando nos deparamos com essa alteração é fundamental para não deixar escapar nada no seu consultório.
Nessa missão de desmistificar o diagnóstico de hipertrofia ventricular que surgiu o Workshop de Amiloidose, já na sua quarta edição e com excelentes repercussões nas edições anteriores.
Ela ocorrerá novamente no dia 02/09/2023, sábado das 08h às 16h, e só abrirá nova turma daqui um ano.
É o melhor treinamento do país sobre diagnósticos na hipertrofia ventricular.
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Fluorquinolonas e síndromes aórticas?
Coorte / Caso-controle (JAMA Cardiology)
Nos últimos anos, diversos estudos têm associado o uso de fluoroquinolonas (ciprofloxacino, levofloxacino, norfloxacino etc) com o risco de evolução com aneurisma de aorta e síndromes aórticas agudas.
Em 2019, a Anvisa publicou uma recomendação na qual contraindica o uso dessa classe antibióticos em pacientes com fatores de risco para essas complicações (hipertensos, síndromes como Marfan e Ehlers-Danlos, idosos).
Apesar dessa associação ter sido descrita em diversas coortes e metanálises, a causa para esses eventos não está clara.
Para entender melhor a relação entre esses antibióticos e as síndromes aórticas, foi publicado no JAMA: Cardiology um interessante estudo sobre esse tema.
Ele incluiu pacientes para os quais foram prescritas as fluorquinolonas ou cefalosporina (grupo coorte), como também aqueles hospitalizados por aneurisma ou dissecção de aorta (grupo caso-controle) entre 1997-2019.
Os resultados:
No grupo da coorte, com mais de 3 milhões de pacientes, ao comparar o uso da fluorquinolona vs cefalospirina, não houve associação da quinolona com a evolução com complicações aórticas quando ajustado para fatores confundidores (HR: 1,03; 95% CI, 0,91-1,17).
Já no grupo do caso-controle, com quase 100 mil pacientes, houve associação das fluorquinolonas com síndromes aórticas, quando comparado a uso de nenhum antibiótico. Porém, quando comparado ao uso de outros antibióticos, essa associação com aortopatias perde significância.
Dessa forma, o estudo sugere que a associação das fluorquinolonas com aneurisma e dissecção de aorta pode ser afetado por fatores confundidores.
Ainda é pouco para confirmar a segurança do uso desses ATBs nos grupos de risco. No entanto, deixa o alerta para a necessidade de mais estudos antes de excluirmos essas drogas completamente do nosso arsenal terapêutico.
Faustão na lista do transplante cardíaco
Caiu na Mídia
Essa semana fomos todos pegos de surpresa ao ser noticiado que o apresentador Fausto Silva, o Faustão, está internado em tratamento de insuficiência cardíaca (IC).
A situação ficou ainda mais séria na noite do domingo: o hospital Albert Einstein lançou uma nota na qual informa sobre o atual estado de saúde do apresentador e que ele foi incluído na fila para o transplante cardíaco.
Apesar das poucas informações sobre o quadro, a situação tem 2 particularidades que geram dúvidas e que valem a discussão sobre a indicação de transplante, segundo a última diretriz da SBC:
A idade > 70 anos, que é uma contraindicação relativa à inclusão da fila, podendo ser realizada em casos individualizados;
O paciente dialítico, que pode ser transplantado, em casos onde a terapia renal substitutiva se faz necessária em contexto de IRA de origem cardiorrenal.
Torcemos pela recuperação do querido apresentador 🤍.
E aproveitamos para reforçar a importância da doação de órgãos, tanto na conscientização das famílias, como no cuidado do paciente em morte encefálica.
Imagem da Semana
Na onda dos preditores de eventos embólicos publicados no EHJ, dê uma olhada nesse AVC de artéria cerebral média causada por embolização séptica que aconteceu na semana passada, em um paciente internado por endocardite infecciosa.
Fique por dentro
🚨 Na concordância das evidências atuais: realização de cateterismo após PCR extra-hospitalar em pacientes sem supra no ECG não demonstrou melhores desfechos.
🩺 Um interessante caso clínico sobre dor torácica ambulatorial descrita no Circulation que compensa a leitura.
👩🏼🚀 O que acontece com o coração durante um voo espacial? Veja esse estudo que avaliou o treinamento em 13 astronautas.
⚖️ Comparação entre as diretrizes americana e europeia de valvopatias.
🧯 Inflamação e IAM no EHJ: o bom, o mau e o feio.
👶🏻 Estudo multicêntrico avalia tratamento de pacientes com transposição congenitamente corrigida das grandes artérias (ccTGA).
Com direito a editoral no EHJ.