Novos Critérios de Duke
A varfarina deu uma surra na apixabana; o preço da TAVR; falar no celular aumenta a pressão?
Estava mesmo na hora de mudar
Declaração da Sociedade de Doenças Infecciosas (IDSA)
O que mudou na cardiologia de 2000 para 2023? Muita coisa, não é?
E isso inclui o que conhecemos na investigação da endocardite infecciosa (EI).
Por isso, a Sociedade Americana de Doenças Infecciosas (IDSA) lançou uma declaração na qual atualiza os famosos critérios de Duke.
As mudanças incluem a forma de interpretar, como também, alguns dos critérios maiores e menores.
🛑 Antes, relembre a lógica por trás do entendimento dos critérios de Duke:
Os critérios maiores são aqueles nos quais conseguimos ver o bicho que está causando a doença (ou seja, são as hemoculturas e/ou exames de imagem positivos).
Os critérios menores são os sinais que nos indicam que tem algo ali (febre, fenômenos imunológicos e vasculares, fatores de risco, hemoculturas incompletas).
Vamos ver como ficou:
🎯Critérios Maiores:
Microbiológicos:
2 culturas positivas para microorganismos comumente causadores de EI ou 3 culturas positivas para microorganismos raros.
Sorologias positivas para Coxiella burnetti, Bartonella sp ou Tropheryma whipplei (ou apenas 1 cultura positiva).
Imagem:
Ecocardiograma ou tomografia cardíaca com evidências de endocardite; nova deiscência parcial da prótese; nova regurgitação valvar e/ou atividade metabólica anormal na valva em PET-CT.
Cirúrgico:
Presença de EI na inspeção cirúrgica.
🔎Critérios Menores:
Fatores de risco para EI, história de febre, fenômenos vasculares, imunológicos e sinais microbiológicos (culturas incompletas).
Os novos critérios ainda incluem PET-CT positivo com < 3 meses de cirurgia cardíaca e a ausculta de sopro novo no exame físico.
Como ficou a interpretação:
Endocardite definitiva: precisa ter o critério microbiológico, e pode ser acompanhado de 2 outros critérios maiores; 1 maior e 3 menores; ou 5 menores.
Endocardite possível: quando há apenas 1 critério maior e 1 menor; ou 3 critérios menores.
Endocardite descartada: quando não se encaixa como possível ou definitiva; se há outra causa para os sintomas; na ausência da recorrência dos sintomas e/ou se não encontrou endocardite na peça cirúrgica.
A mãe da anticoagulação das próteses mecânicas
Ensaio Clínico Randomizado
A apixabana tentou desafiar a mamãe varfarina como terapia não inferior na anticoagulação de pacientes com prótese valvar aórtica.
Tomou uma surra rs.
No passado, uma vizinha chamada dabigatrana já tinha cometido a mesma ousadia, no contexto de próteses mecânicas em posição aórtica, mitral ou em ambas, e também apanhou feio, no estudo RE-ALIGN.
A póbi da apixabana estava confiante por acreditar no poder da prótese mecânica On-X: as características do material e do design dela podem torná-la menos suscetível à trombose.
Nesse contexto, o PROACT Trial sugere a possibilidade de anticoagulação de intensidade mais baixa com esse perfil de prótese.
Entenda, por meio da metodologia PICOT, o contexto da briga da vez, que ficou conhecida como PROACT Xa:
P (pacientes): pacientes com uma válvula aórtica On-X implantada pelo menos 3 meses antes da randomização
I (intervenção): apixabana 5 mg duas vezes ao dia
C (controle): varfarina (RNI alvo de 2,0 a 3,0)
O (outcome): desfecho composto de trombose protética ou tromboembolismo relacionado à prótese
T (tempo): o estudo foi interrompido precocemente, após a randomização de 863 participantes, ao constatar o excesso de eventos tromboembólicos no grupo apixabana:
Até aquele momento, dos 26 eventos do desfecho composto, 20 ocorreram no grupo apixabana e 6 no grupo varfarina.
Que pancada, hein?
O veredicto foi unânime: a apixabana não demonstrou não inferioridade em relação à varfarina na prevenção da trombose valvar ou tromboembolismo em pacientes com prótese valvar aórtica mecânica On-X.
As inscrições estão sendo encerradas!
Anúncio
Sim, corre para se inscrever com o nosso cupom de 15% de desconto para que você possa participar de um dos maiores eventos científicos de cardiologia do ano. Basta digitar 12POR8 na caixa “cupom” no momento do pagamento.
Ótima oportunidade para networking e atualização, com mesas de discussões em alto nível, superando muitos congressos que vemos por aí.
A Doze apoia, divulga o curso e estará lá, entre palestrantes e ouvintes.
Veja a programação e comprove o que estamos estamos falando.
Até sexta! 🤓
Custo-efetividade da TAVR em pacientes de baixo risco cirúrgico
Subanálise do PARTNER 3
Primeiro, vamos lembrar do PARTNER 3: estudo que demonstrou o benefício da troca de valva aórtica transcateter (TARV) vs cirurgia em pacientes de baixo risco cirúrgico.
Demonstrado o benefício clínico, a dúvida que sobrou foi em relação à bufunfa (a grana, o dindin, a prata) 💸:
Foi publicada uma subanálise com 997 pacientes que participaram do PARTNER 3 para avaliar a sua custo-efetividade.
Vamos aos resultados:
Em relação ao procedimento, a TAVR mostrou que a tecnologia tem seu preço, e foi U$19.000,00 mais cara que a cirurgia.
Com isso, o custo total para implante da prótese transcateter foi U$591,00 mais caro.
No entanto, após o seguimento de 2 anos, esses gastos se inverteram: o custo dos pacientes submetidos à TAVR foi U$2030,00 menor que o da cirurgia.
Assim, a TAVR parece ser custo-efetiva em 2 anos e, provavelmente em maior longo prazo.
É importante ressaltar que a custo-efetividade apresenta intrínseca relação com a sobrevida de longo prazo, de modo que é importante o seguimento e comparação de sobrevida entre TAVR e cirurgia em 10 anos para melhor definição quanto ao desempenho clínico e de custo-efetividade de cada estratégia.
Lembre-se, também, que esses valores falam exclusivamente dos custos de cada um dos procedimentos nos Estados Unidos, sendo difícil extrapolar para a nossa realidade.
Falar ao telefone pode aumentar a pressão arterial?
Caiu na Mídia
Sabe quando alguém liga e você espera cair na caixa postal para mandar uma mensagem: “oi, me ligou?”.
Parece que agora temos uma ótima desculpa para não atender:
Uma matéria da revista Veja divulgou a associação entre uso do telefone celular em ligações por mais de 30 minutos por semana e o aumento da pressão arterial.
Essa associação veio de uma grande coorte publicada no European Heart Journal.
O estudo incluiu mais de 200 mil participantes sem o diagnóstico prévio de hipertensão arterial (HAS).
Após um seguimento de 12 anos, observaram que aqueles que usavam de forma regular o celular para ligações apresentavam maior risco de desenvolver HAS.
E esse risco aumentava proporcionalmente aos minutos semanais de uso: 30–59 mins (HR, 1,08; 95%CI: 1,01–1,16), 1–3 h (HR, 1,13; 95%CI: 1,06–1,22), 4–6 h (HR, 1,16; 95%CI: 1,04–1,29), e >6 h (HR, 1,25; 95%CI: 1,13–1,39).
A principal hipótese para explicar essa ligação é a emissão de baixos níveis de radiofrequência pelos celulares.
Vamos lembrar que esse foi um estudo observacional e que múltiplas variáveis de confusão podem justificar essa associação. No entanto, o estudo é capaz de gerar uma hipótese a ser investigada futuramente.
Na dúvida, melhor ficar à base das mensagens e áudios no Whatsapp rs.
Beijos, não me liga.
Imagem da Semana
Nessa imagem de ressonância magnética cardíaca podemos observar a presença de prolapso de ambas as cúspides da valva mitral, associado a disjunção do anel mitral no segmento anterolateral (seta vermelha) e jato regurgitante nessa topografia, em uma paciente em investigação de etiologia de morte súbita abortada.
Esse caso clínico será discutido no 81º Curso Intensivo de Cardiologia.
Fique por dentro
🌏 Statement da AHA sobre DM e DCV em mulheres asiáticas.
💻 Identificados fatores associados à pior prognóstico nos pacientes com insuficiência aórtica, através da ressonância magnética cardíaca.
💊 Estudo publicado no JACC demonstrou que o benefício cardiovascular da empaglifozina se manteve independente do nível de creatinina.
📋 Interessante revisão do JACC sobre o uso dos diversos métodos de imagem na avaliação da função do VD.