A busca por um ponto de corte na CMH apical
Coorte (JACC: Cardiovascular Imaging)
Cardiologistas e sua busca incansável pelo critério diagnóstico perfeito…
E a cardiopatia estudada da vez foi a cardiomiopatia hipertrófica (CMH) apical.
Entenda a problemática: o diagnóstico da CMH baseia-se na presença de uma espessura miocárdica ≥ 15 mm ou ≥ 13 mm se história familiar.
No entanto, na CMH apical nem sempre identificamos uma espessura ≥ 15 mm, e o seu diagnóstico é feito a partir de outros achados como o padrão em ás de espadas, dilatação atrial, alterações eletrocardiográficas e fibrose miocárdica.
Dessa forma, um estudo publicado no JACC: Cardiovascular Imaging procurou identificar um ponto de corte para a espessura miocárdica máxima nos segmentos apicais, e, assim, definir melhor um critério diagnóstico para a CMH apical.
Vamos ao estudo:
Foram incluídos 104 pacientes com diagnóstico de CMH apical (72 deles com espessura miocárdica máxima ≥ 15 mm; e 32 com espessura < 15 mm), e 4112 controles saudáveis submetidos a ressonância magnética, a partir da qual foi medida a espessura máxima em cada um dos 16 segmentos cardíacos.
Obtiveram um corte de 5,2-5,6 mm/m² com uma acurácia de 0,94 para o diagnóstico de CMH apical (o que equivale a uma espessura miocárdica máxima de 11 mm).
Assim, o artigo nos apresenta uma medida de espessura miocárdica indexada à superfície corpórea que pode ser utilizada com maior acurácia junto aos demais parâmetros clínicos para o diagnóstico da CMH apical.
Ablação por Catéter na IC avançada
Ensaio Clínico Randomizado (NEJM)
O ano era 2018 e o estudo CASTLE-AF foi publicado, demonstrando benefício de realizar a ablação da FA em pacientes com insuficiência cardíaca.
Apesar de vieses metodológicos, a prática ganhou força nos últimos anos.
E agora, apresentado na ESC e publicado na última semana no NEJM, o benefício parece se estender também (e com amplo efeito) para pacientes já em estágios avançados da IC.
O estudo, aberto e unicêntrico (Alemanha), incluiu 97 pacientes com FA sintomática e IC avançada - inclusive já referenciados para centro de transplante.
Eles foram randomizados entre realizar a ablação por catéter ou manter terapia médica otimizada (TMO) isoladamente.
Resultado: o trial foi interrompido por eficácia com 1 ano após o término da randomização.
Com um seguimento de 18 meses, o desfecho primário composto de mortalidade, necessidade de um dispositivo de assistência ventricular ou de transplante de urgência ocorreu em 8% no grupo ablação versus 30% no grupo TMO (IC 0.11-0.52, p < 0.001, NNT 5).
Ao avaliarmos a diferença de mortalidade isoladamente, ela também foi estatisticamente inferior no grupo ablação (6% vs 20%, IC 0.12-0.72). A cada 7 pacientes tratados com ablação neste centro alemão, 1 vida foi salva.
A mortalidade é um desfecho importante para ser avaliado isoladamente por se tratar de um estudo aberto
Os resultados são animadores e provavelmente o suficiente para guiarmos a prática no momento.
❗️Vale uma ressalva:
A história já nos ensinou a importância de estudos grandes, multicêntricos e cegos (inclusive para procedimentos invasivos) para reduzirmos o risco de vieses.
Por ora, aguardaremos cenas dos próximos capítulos com empolgação.
Novos insights sobre DM2 e risco cardiovascular!
Você já se perguntou sobre a relação entre diabetes tipo 2 (DM2) e doenças cardiovasculares (DCV) em pacientes recém-diagnosticados?
Temos algumas descobertas publicadas recentemente no JACC que podem mudar sua perspectiva:
1. 📇 Pacientes com DM2 recém-diagnosticados têm maiores riscos de DCV do que a população geral, em ambos os sexos e em todas as faixas etárias.
2. 🧑🏼🦱 Esta diferença é mais acentuada entre os mais jovens. Por exemplo, pacientes entre 40 e 49 anos têm quase o dobro do risco em comparação com seus pares na população geral!
3. ⚠️ Homens com DM2 atingem um risco de 5% de DCV aos 43 anos, 12 anos antes dos que não têm DM2! Mulheres com DM2 chegam a este risco aos 51 anos, uma década antes das sem DM2.
Por que isso é relevante?
Quanto mais precocemente detectarmos alterações metabólicas, maiores são as chances de intervenções focadas em prevenção primária de DCV.
Isso não quer dizer que devemos esperar o diagnóstico de DM2 pra intervir sobre estilo de vida. Fica clara a importância de nos adiantarmos diante dos primeiros sinais de disfunção metabólica dos nossos pacientes!
Um "meio mundo” de obesos
Caiu na Mídia
Na semana em que é celebrado o dia nacional de prevenção a obesidade (11/10), foi divulgada uma notícia no Jornal O Globo que destaca o alerta da OMS quanto à evolução da obesidade no mundo:
Estima-se que até 2035 teremos mais de 4 bilhões de pacientes obesos ou em condição de sobrepeso no planeta, ou seja, mais da metade da população atual.
Para nós, cardiologistas, essa é uma notícia preocupante pela associação do sobrepeso com as doenças cardiovasculares.
E serve como um alerta a mais para estarmos atentos em cada consulta sobre as orientações aos pacientes sobre os riscos e cuidados com a obesidade.
Imagem da Semana
Corte em 4 câmaras de Ressonância Magnética Cardíaca de paciente com diagnóstico de cardiopatia arritmogênica do VD. Observe a disfunção dessa cavidade em comparação ao VE, e o movimento discinético da sua parede (seta).
Quer aprender mais sobre essa cardiopatia e os critérios diagnósticos? Veja a nossa Prime da semana! ⬇️
Fique por dentro
🔹 É da Doze! Estudo do dozer Marcos Meniconi, publicado esse mês nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, demonstrou a segurança de um protocolo de TAVI minimalista visando alta hospitalar em até 48 horas.
📜 Uma revisão para tirar as nossas dúvidas quanto às indicações de revascularização completa em pacientes multiarteriais com síndrome coronariana aguda.
💊 Regressão da placa aterosclerótica observada por meio do IVUS em pacientes em tratamento anti-lipemiante esteve associada a redução de eventos cardiovasculares.
🖥️ Uso da angiotomografia de coronárias em pacientes em investigação de dor torácica na emergência foi mais eficiente que a estratégia clínica habitual no estudo PRECISE.
🔊 Estudo publicado no JACC: Asia demonstrou benefício na realização da TAVI guiada por ecocardiograma intracardíaco transjugular, na redução de bloqueios atrioventriculares.
🚑 A transferência direta de pacientes pós-PCR - em ambiente extra-hospitalar e sem supra-ST - para hospitais cardiológicos não reduziu mortes.