Novos heróis da ICFEP
Uma dupla de sucesso chega para combater a IC FEP... Enquanto um novo vilão surpreende.
A dupla superpoderosa da IC FEP
Ensaio Clínico Randomizado (JACC)
Enquanto as medicações do “quarteto fantástico” brilham no tratamento da IC FER, já era hora de encontrarmos nossos heróis da IC FEP.
O estudo SOGALDI-PEF é o primeiro ensaio clínico randomizado a testar de forma dedicada a combinação de dapagliflozina (SGLT2i) com espironolactona (MRA) versus dapagliflozina isoladamente em pacientes com IC com fração de ejeção preservada ou levemente reduzida (HFpEF/HFmrEF).
O estudo:
Ensaio crossover randomizado, open-label com endpoint cego.
Incluiu 108 pacientes com mediana de idade de 76 anos, FEVE média de 59%, 45% com diabetes, 56% com FA no ECG.
Comparou 12 semanas de dapagliflozina sozinha versus dapagliflozina + espironolactona.
Desfecho primário: variação do log NT-proBNP.
Resultados principais:
A combinação reduziu mais o NT-proBNP do que a dapagliflozina sozinha (–0.11 log-unidades; p = 0.035).
Odds de atingir ≥20% de redução no NT-proBNP foi 2,27 vezes maior com a combinação (p = 0.016).
Redução adicional na PAS (–5,2 mmHg) e na razão albumina:creatinina urinária.
Mas… maior queda de eGFR (–6,4 mL/min/1,73m²) e maior incidência de hipercalemia (>5,5 mEq/L em 4,8% dos pacientes).
⚠️ Ponto importante! Efeitos colaterais não desprezíveis:
Hipotensão sintomática em 8,6% com a combinação.
Queda de função renal ≥30% em 20% dos pacientes.
Hipercalemia mais frequente do que com espironolactona isolada.
E aí? Vale a pena?
A redução do NT-proBNP com a combinação é real, mas os eventos adversos também. Em pacientes idosos e frágeis, como no SOGALDI-PEF, a disfunção renal precoce pode assustar o clínico e levar à suspensão da terapia.
Como o próprio artigo ressalta: NT-proBNP cai, mas ainda não sabemos se isso se traduz em benefícios clínicos reais em “desfechos duros”.
O vilão da vez
Coorte (Circulation)
Já discutimos o suficiente os heróis… mas o que falar sobre o grande vilão da vez?
Nada de Lex Luthor ou Galactus, se você tem acompanhado as últimas publicações da cardiologia já sabe que a nova grande vilã no enredo cardiovascular tem nome e sobrenome: a lipoproteína a (aka, Lp(a)).
A Lp(a) está roubando a cena nas publicações científicas, e com razão: não só marca presença na progressão da aterosclerose coronariana, como também está sendo fortemente associada à doença arterial periférica (DAOP) e doença carotídea (mesmo em pacientes em prevenção primária e com LDL controlado).
💣 Saiu no Circulation um estudo com mais de 460 mil pacientes do UK Biobank, acompanhados prospectivamente. O objetivo foi avaliar se níveis elevados de Lp(a) (>150 nmol/L) preveem o surgimento ou a progressão de doenças ateroscleróticas extracardíacas.
Vamos aos resultados:
Na prevenção primária:
A cada aumento de 75 nmol/L de Lp(a), o risco de DAOP sobe 18%.
E o risco de doença carotídea sobe 17%.
Na presença prévia de DAOP:
Lp(a) elevada se associou a 57% mais risco de eventos isquêmicos nos membros
Na doença carotídea prévia:
Tendência a mais AVCs, embora sem significância estatística isolada.
⚠️ O efeito foi independente de LDL, HDL e triglicérides.
Nem mesmo os ajustes por outros fatores de risco clássicos conseguiram apagar a força da Lp(a), ela segue sendo uma marcadora inflamatória com papel ativo na doença.
A Lp(a) é mais do que um biomarcador exótico, é um vilão silencioso que acelera a aterosclerose mesmo com o LDL nos trinques. Se você ainda não incluiu esse exame no seu arsenal de prevenção, talvez esteja na hora de repensar.
🎙️ E se quiser se aprofundar mais no assunto, dá o play no DozeCast sobre inflamação e risco residual e a DozeNews Prime sobre Lp(a).
Os rins avisaram…
Coorte (EHJ)
A gente vive tentando prever descompensações na IC com fração de ejeção reduzida, mas talvez a resposta esteja onde você menos olha: na trajetória da função renal.
É, os amigos nefrologistas devem estar sorrindo nesse momento 🤝.
Saiu no European Heart Journal um estudo robusto, com dados dos trials EPHESUS, EMPHASIS-HF e da coorte real de Barcelona, que investigou as trajetórias da função renal (eGFR) antes e depois de eventos de IC com fração reduzida, como hospitalizações ou óbitos por IC.
Os números impressionam:
Antes do evento: queda média do eGFR de ~5 mL/min/1.73m²/ano nos 12 meses que antecedem a internação.
Depois do evento: a função renal continua caindo, mas em ritmo mais suave (~3 mL/min/ano).
Sem evento: queda muito mais discreta (~1 mL/min/ano).
Quanto maior o número de eventos, mais íngreme e sustentado o declínio.
⚠️ E mais: a piora do eGFR andou lado a lado com a piora da classe funcional NYHA, sugerindo que a função renal pode refletir a congestão subclínica antes mesmo de o paciente descompensar.
🛡️ E a inibidor da aldosterona? You shall not pass!!
O estudo demonstrou que os pacientes que receberam eplerenona nos trials, a queda do eGFR após o evento foi menos acentuada, sugerindo um efeito protetor da MRA mesmo após hospitalizações.
Mensagem prática:
Esquece um pouco o valor isolado do eGFR, comece a olhar para a curva. Se o rim começa a cair, o coração pode estar prestes a seguir junto.
Canetas verde-amarelas
Caiu na Mídia
As “canetinhas emagrecedoras” voltam a ser notícia por aqui, mas dessa vez com motivos nacionais:
Na corrida bilionária dos análogos de GLP-1, o Brasil acaba de entrar com força total: a EMS, maior farmacêutica nacional, anunciou o início das vendas das primeiras canetas de liraglutida 100% produzidas no país.
Com mais de R$ 1 bilhão investido na nova fábrica de peptídeos em Hortolândia (SP), a empresa lança dois produtos:
Olire (para obesidade)
Lirux (para diabetes tipo 2)
Os nomes são novos, mas o princípio ativo é conhecido: a liraglutida, o mesmo do Saxenda, que antecedeu a febre da semaglutida (Ozempic, Wegovy). Embora mais antiga, ainda tem seu valor no controle de peso e glicemia.
As canetas começam a ser vendidas a partir de 4 de agosto nas principais redes de farmácias do Sul e Sudeste, com expansão gradual. Serão 150 mil unidades iniciais e previsão de meio milhão até agosto de 2026.
Os preços? Partem de R$ 307 por caneta e podem chegar a R$ 760 o kit com 3.
Enquanto isso, os olhos do mercado já miram março de 2026, quando a patente do Ozempic expira, e a Hypera promete entrar na briga com sua própria semaglutida.
A nova era dos análogos de GLP-1 é (também) made in Brazil.
Fique por dentro
⏰ Segue a dúvida: anti-hipertensivo tem hora? Em estudo randomizado com 720 pacientes na China, a administração noturna de olmesartana + amlodipina reduziu de forma mais eficaz a pressão sistólica e diastólica noturna, melhorando o ritmo circadiano sem aumentar risco de hipotensão. Publicado no JAMA Network Open, o estudo reforça o potencial da cronoterapia como aliada no controle da PA.
📚 Nem tudo que reluz é ouro na cardiologia baseada em evidências! Revisão publicada nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia alerta sobre armadilhas como “medical reversals” e vieses na apresentação dos resultados (spin). O texto propõe o uso de métodos bayesianos para contextualizar melhor as evidências, defendendo uma postura crítica frente à avalanche de novos dados. Mais do que acreditar, é preciso questionar.
🩸 Recomeçar cedo o anticoagulante após sangramento: proteção ou risco? Estudo dinamarquês com mais de 10 mil pacientes com FA mostrou que reiniciar DOACs em até 60 dias após sangramento grave pode reduzir risco de AVC, mas aumenta chance de novo sangramento. A monoterapia com DOAC foi a estratégia com melhor proteção contra AVC, ainda que com risco hemorrágico elevado. A decisão deve ser individualizada, o timing importa!
📞 Telereabilitação cardíaca: AHA divulga orientações e padrões para serviços de reabilitação que utilizam serviços de telemedicina! Vale a pena conferir!
🫀 Aldosterona: o elo inflamável entre coração e rins! Revisão do JACC destaca os efeitos nocivos da aldosterona na IC e DRC e aponta novas estratégias além dos antagonistas clássicos, como inibidores da aldosterona sintase e agonistas parciais do receptor mineralocorticoide.
⚡️ Está na hora de repensar quem realmente precisa de CDI! Revisão publicada no JACC propõe um novo modelo dinâmico de estratificação de risco, incorporando inteligência artificial e aprendizado de máquina para identificar quem mais se beneficiaria da prevenção primária com CDI.
☢️ Nova estratégia de medida para TAVR reduz necessidade de reintervenção! Estudo com 377 pacientes propôs abordagem multiplanar com medidas supra-anulares para escolha da prótese transcateter, especialmente eficaz em válvulas bicúspides. A estratégia levou ao downsizing em até 89% dos casos e reduziu significativamente o número de reimplantes (valve-in-valve) em comparação ao método tradicional baseado apenas no anel.
⏳ Quanto antes, melhor: não demore para indicar o ressincronizador! Estudo sueco com mais de 9 mil pacientes mostrou que implantar o CRT em até 3 meses após otimização da terapia medicamentosa na IC reduz mortalidade cardiovascular. Já atrasar o implante por mais de 9 meses aumentou risco de morte e internações por IC. Tempo é terapia!
😴 Soneca fora de hora pode custar caro! Estudo com mais de 86 mil adultos do UK Biobank mostrou que cochilos mais longos, irregulares e concentrados entre 11h e 15h estão associados a maior risco de mortalidade.