O melhor do ACC 2023
O atraso de hoje foi proposital. Graças a ele, você terá o melhor resumo da ACC 23 na telinha do seu celular 📲.
O primeiro dia
O congresso mostrou já no primeiro dia que não estava para brincadeira.
Apesar da falta de lançamento de uma nova diretriz, os americanos nos compensaram com o lançamento de grandes trials.
Já de cara trouxe uma novidade: o ácido bempedoico.
Essa medicação é um inibidor da ATP citrato liase. No fim das contas, também vai inibir a HMG-CoA redutase, igualzinho às estatinas, só que sem atingir os músculos.
O estudo CLEAR Outcomes avaliou o uso dessa medicação em pacientes intolerantes ao uso da estatina. Vamos aos dados:
16970 pacientes para receber placebo vs acido bempedoico 180 mg 1x/dia.
Tempo médio de seguimento: 40,6 meses
Reduziu o desfecho composto (morte cardiovascular, IAM não fatal, AVC e revascularização coronariana) em 1,6%, com NNT de 63 (modesto).
Ou seja: uma interessante opção às estatinas.
Mantendo a linha da dislipidemia, o estudo Yellow III avaliou o efeito do Evolocumab nas placas ateroscleróticas.
O estudo:
Objetivo: avaliar sinais de estabilidade de placas lipídicas após uso de Evolucumab em associação com estatina por 26 semanas.
As placas foram estudadas por meio de Espectroscopia Infravermelho Próximo (NIRS, um IVUS moderninho) e OCT comparativos após o período de tratamento.
114 pacientes finalizaram o seguimento e observou-se que:
Capa fibrosa aumentou de 70.9 µm para 97.7 µm
Carga de Core Lipídico Indexado NIRS caiu de 306,8 para 213,1.
Esses resultados demonstram uma “estabilização” das placas de ateroma, corroborando, assim, a redução de MACE em outros trials com inibidores de PCSK9 e estatina.
Mais estatina?? Sim! E dessa vez na prevenção de cardiotoxicidade por quimioterápicos.
O estudo STOP-CA avaliou o benefício da atorvastatina 40 mg/dia na prevenção de cardiotoxicidade em 250 pacientes com linfoma em tratamento com antracíclicos.
Desfecho: queda da FEVE ≥ 10% para um valor menor que 55% em 12 meses.
Redução absoluta do risco em 13% com o uso da atorvastatina nesse contexto.
Estudo pequeno, apenas 250 pacientes, mas já nos dá esperanças da melhora do prognóstico desses pacientes.
Luz, câmera, Triclip! 🎥
O trial Triluminate iluminou o campo da intervenção percutânea da válvula tricúspide:
Prospectivo, randomizado, controlado em 65 centros europeus, canadenses e norte americanos.
175 pacientes submetidos ao TriClip vs 175 para tratamento clínico com insuficiência tricúspide importante sintomáticos.
Desfechos compostos hierárquicos: morte ou cirurgia tricuspídea; hospitalização; qualidade de vida (avaliado pelo escore KCCQ ≥ 15 pontos).
Resultados após 1 ano:
Menor desfecho composto no grupo TriClip (HR 1,48; 95% CI (1,06-2.13); p=0.02)
Ainda demonstrou redução significativa da IT (era o mínimo que esperávamos né rs) e segurança do dispositivo.
Apesar de animador, ainda esperamos estudos com tempo de seguimento mais prolongado e desfechos duros.
Menção Honrosa
Menção honrosa REVIVED-BCIS2, que fez uma subanálise do REVIVED voltada para a avaliação da viabilidade.
Não houve melhora da recuperação do VE nos pacientes com viabilidade miocárdica submetidos a ATC. Porém, demonstrou a importância na carga de fibrose como preditor de eventos.
Segundo dia
Vamos resumir esse dia em 3 coisas: chumbo, raio X e contraste. Sim, foi um dia de glória para os hemodinamicistas.
O Evolut low risk Trial ampliou, ainda mais, os horizontes da TAVI.
Publicado em 2019, esse estudo comparou a realização de TAVI vs cirurgia convencional em paciente com baixo risco cirúrgico.
Agora foi a vez de avaliar o seguimento de 3 anos.
O estudo:
1414 pacientes randomizados para TAVI ou cirurgia convencional.
Desfecho primário: morte por todas as causas ou AVC.
Após seguimento por 3 anos, os pacientes submetidos a TAVI tiveram menos eventos que aqueles da cirurgia convencional (HR, 0.70; 95% CI, 0.49–1.00; p=0.051).
Se a grande dúvida em relação ao TAVI ainda é a durabilidade da prótese, esse seguimento a moderado prazo positivo já é animador.
Ainda são necessários estudos a longo prazo para estabelecer a terapia percutânea nessa população.
Por falar em seguimento, tivemos aquele que podemos apelidar de COAPT-extended, ou seja, os resultados do seguimento do estudo COAPT por 5 anos.
O estudo inicial do COAPT demonstrou benefício no Mitraclip® em pacientes com IM funcional em um seguimento de 2 anos.
Agora vamos ver a longo prazo:
População: 614 pacientes IM mitral secundária grave randomizados para implante do MitraClip vs tratamento clínico otimizado
Após o seguimento de 5 anos, o implante do dispositivo reduziu de forma significativa o defsfecho primário composto por morte ou hospitalização(73,6% vs 91,5% - HR, 0,53; 95% CI, 0,44-0,64)
O COAPT trial dá forças para o tratamento percutâneo da IM secundária, desde que bem indicado.
Lembrando que o trial irmão MITRA-FR não demonstrou benefício da intervenção e a batalha entre os dois é um extenso debate.
Agora é a vez dos hemodinamicistas Nutella - sem julgamentos.
O estudo RENOVATE-COMPLEX-PCI avaliou o benefício do uso da imagem intravascular (ultrassom intravascular (IVUS) e tomografia de coerência óptica (OCT)) na angioplastia de lesões coronárias complexas.
Como funcionou:
1639 pacientes com lesões coronárias complexas randomizados para angioplastia guiada por IVUS ou OCT vs angioplastia convencional.
Desfecho primário: morte por todas as causas, infarto do miocárdio ou nova revascularização da coronária-alvo.
Após um seguimento médio de 2,1 anos, o uso da imagem intravascular reduziu em 4,6% a ocorrência do desfecho primário (HR, 0,64; 95% CI, 0,45–0,89; p=0,008).
Em suma, se disponível, o uso de imagem intravascular reduz o risco de complicações após a angioplastia em lesões complexas. A Nutella venceu 🌰.
Para finalizar o dia do TCT, digo, do congresso da ACC, mais um estudo intervencionista.
O BIOVASC Trial foi mais um estudo que avaliou o benefício da angioplastia completa vs angioplastia escalonada, esta dentro de 6 semanas, para pacientes com síndrome coronariana aguda.
1525 pacientes randomizados para as duas estratégias.
Desfecho primário: morte por todas as causas, IAM, revascularização ou AVC.
Após 1 ano, não houve diferença entre os grupos para o desfecho composto. Porém, a estratégia de revascularização completa foi não-inferior à estratégia convencional (HR 0,78, 95% CI 0,55–1,11, p de não-inferioridade = 0,0011).
E mais, ainda reduziu a taxa de infartos (1,9% na revascularização completa vs 1,2% na escalonada).
Assim, em pacientes multiarteriais em SCA, se há a estabilidade clínica e a disponibilidade no local para realização da revascularização completa no primeiro, essa parece ser a melhor estratégia.
No mundo digital
Como nem tudo é hemodinâmica nessa vida, o segundo dia do congresso ainda teve sua ala tecnológica 🤖:
BETTER CARE-HF: o uso de sistema eletrônico de alertas aumentou em 2,5x a prescrição de antagonistas do receptor mineralocorticoide para pacientes com IC FER.
NUDGE-FLU: sistema eletrônico de mensagens auxiliou a aumentar a adesão à vacinação contra influenza em cidadãos dinamarqueses com mais de 65 anos.
PCDS Statin: lembretes em prontuários eletrônicos emitidos por inteligência artifical aumentaram em 10% a prescrição de estatinas, indicadas com base nas diretrizes.
Menção Honrosa
Mais uma munição para o debate contra os “Doutores do Cinto Brega” (direitos autorais da expressão ao nosso amigo Dr. Silvio Póvoa): dieta semelhante à cetogênica aumentou riscos cardiovasculares (9,8% vs 4,3% de eventos em relação à dieta padrão).
Terceiro Dia
Medir troponina no relógio? O primeiro passo foi dado no último dia do ACC 23.
Estudo apresentado no ACC 23 e publicado no EHJ Digital Health avaliou a acurácia de um sensor transdérmico de troponina.
238 pacientes foram submetidos à análise de troponina por um espectrofotômetro de infravermelho (já viu esse termo hoje, né?) transdérmico, apresentando uma área sobre a curva de 0.9 (excelente método)!
Foram poucos pacientes, mas já com um grande potencial pela velocidade e facilidade do método. Em breve, no Apple Watch rs ⌚️.
Nova técnica de ablação de FA promissora em estudo de fase 2 publicado no Circulation (PULSED AF Pivotal Trial): ablação por pulsos elétricos que causam eletroporação.
Foram 300 pacientes com FA paroxística ou persistente, refratárias ao tratamento clínico, submetidos ao procedimento.
A eficácia em 1 ano foi de 66,2% para FA paroxísitca e 55,1% na persistente, efeito consistente com outras tecnologias de ablação.
A parte boa: taxa baixa de complicações! Apenas 0,7% dos pacientes apresentaram alguns dos desfechos de segurança.
Atividade física intensa em pacientes com cardiomiopatia hipertrófica (CMH).
Pode isso, 🏃🏼♂️😮💨?
O LIVE-HCM Trial foi uma coorte que avaliou 1.534 pacientes com CMH, com questionários sobre hábitos e sintomas.
44% dos pacientes estudados relataram fazer atividades intensas (muito, né?), porém sem correlação com sintomas ou eventos cardiovasculares (HR 1.01, IC 90% 0.73 - 1.71), quando comparado a atividades físicas moderadas ou sedentarismo.
Vale aguardar o estudo na íntegra para identificar melhor o perfil desses pacientes com CMH.
Nova opção para pacientes com HAP sintomáticos: STELLAR trial
Estudo multicêntrico e duplo-cego, publicado no NEJM, randomizou 163 pacientes em terapia padrão para HAP, para receber Sotatercept ou placebo.
O desfecho analisado foi a melhora no teste de 6 minutos de caminhada.
O uso da medicação aumentou em 34.4m versus 1.0m no grupo placebo. Consideramos um excelente resultado! E o NEJM também.
Uma verdadeira luz (rs) no fim do túnel para uma doença tão difícil de ser tratada ⭐️.
Menção Honrosa
Inibidor de PCSK9 via oral promissor em estudo de fase 2: randomizado, duplo-cego e placebo controlado, chegando a reduzir em até 60% os níveis de LDL, nas doses de 18 e 30mg.
Estudo pragmático demonstrou o impacto de uma intervenção coordenada e multifatorial para a prescrição de 3 classes de medicamentos (estatina, iECA/BRA e iSGLT2) em adultos com diabetes tipo 2 e doença aterosclerótica.
Fique por dentro
🤝🏼 Demais estudos que foram lançados durante a semana passada colocaremos na próxima edição. Não deixem de conferir.
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