O promissor papel da troponina na DAC crônica
Cardiomiopatia associada à obesidade e cardiotoxicidades entre os principais temas da semana
Cardiomiopatia associada à obesidade e o risco de morte súbita
Ensaio retrospectivo caso-controle (JACC: Advances)
Se há algumas semanas falávamos dos riscos estruturais cardíacos no paciente obeso (não lembra? Volte algumas casas para entender aqui), essa semana foi publicado um estudo no JACC sobre a cardiopatia associada à obesidade (OCM) e o risco de morte súbita.
Foi um estudo retrospectivo caso-controle com autópsias de pacientes após morte súbita cardíaca.
A OCM foi definida como: paciente com IMC > 30 kg/m² + coração com aumento da massa (550 g em homens e 450 g em mulheres) sem outra causa aparente.
A partir daí, dividiram os pacientes em 3 grupos:
53 pacientes com OCM;
106 controles com obesidade (sem OCM);
106 controles com peso normal.
Observaram alterações estruturais significativas no coração dos pacientes com OCM que sofreram morte súbita em relação aos controles: tinham maior massa miocárdica, maior dilatação das suas cavidades e aumento da espessura das suas paredes.
Além disso, demonstraram aumento da gordura epicárdica e a presença de fibrose miocárdica nos corações com OCM.
Assim, ficam claras as alterações estruturais presentes nos pacientes obesos (mesmo sem outra causa aparente) e que podem estar associadas a eventos de morte súbita.
Fica mais um alerta sobre a importância de orientações sobre os riscos relacionados à obesidade, indo além da associação com outros fatores de risco, mas como uma causa direta para a cardiopatia e o risco de eventos.
A figura central do artigo deixa clara a diferença estrutural entre os corações de pacientes com OCM, os obesos e os de peso normal:
Cardiotoxicidade no radar!
Coorte (The Lancet)
TOXIC! Claro que um ambiente tóxico faz nossos corações sofrerem.
Da mesma forma, medicações (principalmente para o tratamento de neoplasias), também são cardiotóxicas, e o seu uso na população tem aumentado ano após ano.
Para comprovar esse aumento, um estudo australiano, publicado no The Lancet, estudou a dispensação de quimioterápicos com efeitos cardiotóxicos, entre os anos de 2005-2021.
Resultados:
Observaram uma importante ascensão da sua distribuição: aumento da média de 49/10.000 habitantes para 232/10.000, com predomínio na população feminina (aumento de 61/10.000 para 293/10.000).
Além disso, notou-se que as pessoas estão vivendo mais após a primeira exposição:
5 anos de exposição: aumentou de 29/10.000 pacientes para 134/10.000;
10 anos: aumentou de 22/10.000 para 76/10.000
É, amigos… A evolução farmacológica traz resultados e riscos. Do ponto de vista cardiológico, faz-se indispensável o conhecimento de mecanismos de toxicidade, vigilância e maneiras de proteção dos seus efeitos.
É para isso que a Doze existe: para te ajudar. Temos uma edição da DozeNews Prime sobre o tema, e ainda um episódio do DozeCast. Não deixe de conferir e se atualizar.
Troponina na DAC estável associada a eventos
Coorte (JACC)
A troponina está prestes a deixar de ser um exame apenas do pronto-socorro.
Uma coorte prospectiva publicada no JACC acompanhou, por cerca de 2 anos e meio, 4.240 pacientes com sintomas de DAC que seriam submetidos a cateterismo cardíaco, com uma dosagem de troponina ultrassensível no momento da inclusão.
O objetivo era justamente esse: avaliar se a troponina teria associação com eventos cardiovasculares futuros (desfecho primário de infarto ou mortalidade).
Deu a lógica: após ajuste estatístico das variáveis de base (das comorbidades), foi identificado que a troponina esteve associada com a incidência do desfecho primário (HR 2.3, IC 95% 1.7-3.0).
Além disso, foi observado que:
A média da troponina de quem teve evento durante o seguimento era, em média, duas vezes maior do que quem não teve (6.7 ng/L vs 3.3 ng/L, p < 0.001);
Aqueles com troponina basal > 10 ng/L tinham uma chance 50% maior de ter o desfecho.
Esse estudo observacional praticamente sela o valor prognóstico da troponina ultrassensível nos pacientes com DAC crônica.
E pode ser promissor: mais estudos virão para avaliar se os níveis de troponina podem sugerir benefício de intervenção (como o stent) ou terapia medicamentosa mais agressiva.
Boa notícia para os atletas do fim de semana
Caiu na Mídia
Você, peladeiro de fim de semana, você que vai no parque correr e postar aquela foto conceitual, ou até você que curte pedalar aos domingos, temos uma boa notícia: há evidência de proteção cardiovascular nisso tudo.
Uma matéria publicada no Jornal Folha de São Paulo destacou os benefícios na prevenção de eventos cardíacos da realização de atividade física concentrada em 1-2x na semana.
Baseou-se em resultados de uma grande coorte britânica, UK Biobank, com quase 90.000 pacientes.
Nela, os pacientes que realizavam 150 minutos ou mais de atividade física concentrados em 1 a 2 dias apresentaram resultados em redução de eventos cardiovasculares semelhantes àqueles que realizam o mesmo tempo distribuídos ao longo de toda a semana.
Ou seja, o principal é movimentar-se! Mesmo que seja somente aos finais de semana.
Imagem da Semana
Imagem de ressonância magnética cardíaca de paciente com hipertrabeculação do ventrículo esquerdo. Lembre-se: o diagnóstico do miocárdio não-compactado depende dos achados de imagem e da correlação clínica (muitas vezes com história de IC, arritmias e eventos trombóticos).
O JACC publicou uma bela revisão sobre o tema, esse ano. Fique de olho!
Fique por dentro
🎥 Essa trilogia do JACC é digna de um Oscar: série com 3 artigos sobre o adequado manejo da IC:
🫸🏼 Estudo do JAMA com mais de 73000 pacientes demonstrou importante associação entre artrite reumatoide e a evolução com estenose aórtica.
🤖 Welcome to the future. ECG diagnosticando disfunção ventricular esquerda através de algoritmos de deep-learning.
💊 CAMEO-DAPA trial: efeitos cardiometabólicos da Dapaglifozina em pacientes com IC FEP.
🤾🏽♂️ Prática de esportes por jovens atletas com doença cardiovascular? Editorial do JACC sobre os determinantes médicos e legais.