Omecamtiv mercabil na PAS baixa • Metformina e risco cardiovascular • Inteligência Artificial no tratamento para IC • Café e mortalidade
Balde de água fria para os fãs da metformina e MEV
Já ouviu falar do Omecamtiv mercabil?
Subanálise de ECR
Não, não é nome de feitiço de Harry Potter. É só uma nova medicação.
Com o ‘boom’ das gliflozinas no ano passado, ele pode ter passado despercebido por muitos. Foi lançada, essa semana, uma subanálise do GALACTIC-HF trial, estudo que estabeleceu mais um nome para a extensa lista de medicamentos para IC.
Sim, estamos na subanálise e você nem conhecia o estudo.
Publicado em janeiro do ano passado no NEJM, o medicamento Omecamtiv mercabil demonstrou ser melhor que placebo no desfecho composto em pacientes com IC.
Não se sinta mal, a magnitude do efeito não causou tanta emoção na comunidade cardiológica, em êxtase com os resultados recentes das gliflozinas.
Chamou a atenção que, ao contrário dos medicamentos atuais que atuam na pressão arterial ou volemia, essa medicação age diretamente no miócito, na ligação da actina-miosina. Atuando portanto, como um inotrópico positivo.
Atrativo para pacientes com pressão arterial sistólica (PAS) baixa, não?
E é nessa linha que o medicamento tenta ganhar espaço. A subanálise publicada no European Heart Journal buscou avaliar o tamanho do efeito estratificado pela PAS basal.
Os resultados foram animadores:
PAS < 100 mmHg: redução relativa do desfecho composto em 19% (HR 0,81, IC (0,70-0,94), NNT próximo de 10);
PAS > 100 mmHg: sem redução relevante (HR 0,95, IC (0,88-1,03)).
o valor ‘p’ da interação (usado na avaliação de subgrupos) foi de 0,051.
Teoricamente o achado não apresentou significância estatística, apenas uma “grande tendência” - podemos dizer assim, professores da MBE?
Tratar pacientes com IC e com a PAS basal baixa é um desafio para os cardiologistas. Omecamtiv mercabil pode entrar aqui, como uma importante ferramenta dentro do arsenal terapêutico.
Metformina e mudanças de estilo de vida: dupla que previne eventos cardiovasculares em pré-diabéticos?
Ensaio Clínico Randomizado
Sabe aquele paciente pré-diabético no consultório, em que costumamos orientar MEV e prescrever metformina? É sobre ele que falaremos agora.
Metformina e estilo de vida são estratégia amplamente utilizada para prevenir a evolução do diabetes nesses pacientes. Mas seriam eles também eficazes em prevenir eventos cardiovasculares a longo prazo?
Foi a partir dessa pergunta que foi publicado na Circulation um estudo com seguimento de 21 anos de pacientes inseridos no programa de prevenção de diabetes norte-americano.
Nele foram incluídos 3.234 pacientes com diagnóstico de pré-diabetes e randomizados em três grupos: MEV, Metformina 850mg 2x/dia ou placebo.
O desfecho primário foi um composto de IAM não fatal, AVC e morte de causa cardiovascular.
Os resultados demonstraram que os grupos com intervenção não foram capazes de apresentar diferenças em relação ao placebo:
Metformina vs placebo: RR 1,03 (95% CI: 0,78–1,37; P = 0,81)
MEV vs placebo: RR 1,14 (95% CI: 0,87–1,50; P = 0,34).
Apesar do balde de água fria para endócrinos e cardiologistas (e para os fãs da MEV) os autores ressaltam que os resultados podem ter sido atenuados pelos efeitos do uso externo de anti-hipertensivos, estatinas e intervenções no estilo de vida promovido por outras instituições.
Ah, não podemos ainda sair por aí criticando a MEV: os pacientes do grupo controle também apresentaram mudanças no estilo de vida, porém menos intensas que o grupo intervenção.
Inteligência artificial no combate à inércia terapêutica na ICFER
Ensaio Clínico Randomizado
Será que vamos apelar aos robôs para “dar um sacode” nos médicos para começar a atingir a terapêutica otimizada da Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Reduzida (ICFER)?
Levante a mão quem nunca viu aquele paciente que há séculos está na prescrição com carvedilol 3,125 mg 2x/dia e FC de 90 bpm.
Nesse contexto surgiu o estudo PROMPT-HF. Esse trial randomizou 100 médicos (um total de 1310 pacientes) para dois tipos de tratamento:
Cuidados habituais;
Cuidados médicos aliados ao sistema de alerta (envio de mensagens ao médico contendo orientações para otimização do tratamento do paciente).
O desfecho primário foi o aumento do número de classes de medicações otimizadas prescritas dentro de um período de 30 dias.
Cerca de 26% apresentaram inclusão de terapia médica otimizada no grupo com o alerta comparado a 19% no grupo padrão (RR: 1,41; 95% IC: 1,03-1,93; P = 0,03).
Isso demonstra que a tecnologia tem potencial de tornar a assistência médica mais eficiente de maneira rápida, barata e pouco invasiva.
Lembre-se, jovem Padawan, otimize a dose das medicações que mudam sobrevida na ICFER, quando possível.
Café e redução do risco de morte
Caiu na mídia
Seria um sonho? Finalmente conseguimos demonstrar benefício a longo prazo do excesso de café que tomamos todos os dias?
Foi divulgado na mídia um estudo que sugere que pessoas que tomam de 1,5 - 3,5 xícaras de café por dia teriam um risco menor de morte em comparação a quem não bebe essa maravilhosa substância.
Isso tudo baseado em uma grande coorte que seguiu 171 mil participantes sem história de doenças cardiovasculares por um período de quase 7 anos.
Observaram que quem bebia café apresentou menos mortes por todas as causas, por neoplasias ou doenças cardiovasculares. E pasmem, quem adoçava o café (até 1 colher de chá de açúcar) tinha um fator ainda maior de proteção.
Será que vale aquela teoria de que quem não adoça o café tem algum grau de psicopatia? rsrs
Apesar das inúmeras possíveis limitações desse estudo, que optamos por ignorar, por motivos óbvios, fica aqui essa pequena alegria a todos os amantes do café.
E enquanto escrevo isso, já enchi mais uma xícara.
Imagem da Semana
Essas são as maiores cavidades direitas que você verá hoje. Imagem axial de angiotomografia de paciente com disfunção de prótese mitral e insuficiência tricúspide importante.
Fique por dentro
🙅 Artigo publicado na Circulation sugere que a ressonância magnética de coração pode substituir biópsia endomiocárdica para vigilância de rejeição após transplante cardíaco.
⛓ Quais as diferenças entre as marcas de stents? Estudo comparativo demonstrou que independente dos stents de segunda geração utilizados, em lesões extensas (>25mm) não houve grande diferença em reestenose tardia. Confira quais foram os incluídos.
🩸 Dose ajustada e reduzida dos DOAC's são eficazes? Estudo do JAMA demonstra a possibilidade de ajustarmos na prevenção de FA e no tromboembolismo venoso em populações específicas.
🦠 Ninguém aguenta mais falar dele… porém segue nas principais revistas inclusive nas de cardiologia. Essa metanálise do EHJ demonstrou todo o impacto indireto da pandemia pelo COVID-19 nos serviços de saúde cardiovasculares.
⛓ Sub-análise do estudo FAME-3 não demonstrou melhora na qualidade de vida da angioplastia guiada por FFR quando comparado à cirurgia de revascularização do miocárdio.