Outro mito derrubado: atividade física, estatina e lesão muscular
Atividade física e estatina combinam? Quais os benefícios do exercício para o coração? E mais: a ação do Alirocumabe na placa aterosclerótica.
Mais um mito quebrado
Coorte
Se na semana passada trouxemos um artigo que quebrou o mito do álcool em baixa dose para prevenção cardiovascular, essa semana vamos abordar outra polêmica:
Pacientes em uso crônico de estatina e praticantes de atividade física têm maior risco de desenvolver lesão muscular?
O estudo, publicado no JACC, colocou 69 pacientes usuários de estatina (35 assintomáticos para sintomas musculares, e 34 sintomáticos) + 31 indivíduos no grupo controle para caminhar de 30-50km/dia por 4 dias consecutivos.
Nesses pacientes, foi avaliada a lesão muscular por meio da dosagem de CK, troponina, LDH, mioglobina, NT-proBNP e coenzima Q10 (CoQ10).
Alguns estudos já associaram a redução da CoQ10 e o risco de lesões musculares.
Quais os resultados?
Não houve diferença entre os grupos quanto a nenhum dos marcadores de lesão após o exercício.
Em relação à clínica, sintomas de dores musculares e fadiga após o exercício também foram semelhantes entre os grupos.
Assim, esse estudo nos mostra a segurança da realização de atividade física prolongada de moderada intensidade mesmo em usuários de estatinas.
Menos uma desculpa para os pacientes não aderirem à mudança do estilo de vida na prevenção primária 👀.
Os benefícios cardiovasculares do exercício
Artigo de Revisão
Quem é fã da Pixar certamente já refletiu muito sobre a visão sombria e futurista da sociedade apresentada no filme Wall-E.
Nele, além do robô mais carismático dos filmes de animação, é representada uma humanidade que sofre das consequências da obesidade, do sedentarismo e da dependência da tecnologia.
Preocupados com a pandemia de inatividade física, os colegas do European Heart Journal nos presentearam com um belo "Estado-da-arte" sobre os benefícios do exercício nas doenças cardiovasculares.
A importância de ser ativo é apresentada tanto no contexto de prevenção primária quanto secundária, com ampla descrição dos efeitos celulares da prática regular de atividade física.
A leitura dessa revisão é uma bela oportunidade de compreender como a atividade física regular pode otimizar a integridade celular e função endotelial, favorecendo até mesmo a capacidade regenerativa de um miocárdio doente.
Por fim, também aborda a controversa hipótese de um limite superior de exposição a exercícios de resistência extenuantes, como maratona ou ultramaratona, acima do qual o risco de doenças cardiovasculares poderia aumentar, como fibrilação atrial, calcificação de artéria coronária ou fibrose miocárdica.
Em resumo, um belo artigo para começar a segunda-feira com vontade de colocar um tênis e ir se matricular na academia! 🏃🏻♂️
O inibidor da PCSK9 e sua ação nas placas ateroscleróticas
Tipo de artigo
Não é lindo quando todas as peças se encaixam? É essa sensação ao ler o Architect Study, publicado essa semana no Circulation.
O benefício clínico do uso do Alirocumabe foi demonstrado no Odyssey Trial, no qual reduziu eventos em pacientes com DAC. O novo estudo tenta entender o seu efeito na composição das placas ateroscleróticas de pacientes com hipercolesterolemia familiar em uso desse inibidor da PCSK9 em associação com estatinas de alta potência.
O estudo:
Estudo unicêntrico, aberto e com único braço.
Objetivou avaliar a carga de placa e suas características após 78 semanas do uso de Alirocumabe + estatina de alta potência.
Os principais resultados observados foram a redução média do LDL (de 138,9 mg/dL para 45 mg/dL) e da carga de placa; além de aumentar a porcentagem de placas calcificadas, menos fibrolipídicas e com menor centro necrótico.
Esse estudo lembra, em parte, o Yellow Trial, apresentado esse ano no ACC, que já havia demonstrado benefícios semelhantes nas características da placa com o uso do evolucumabe.
Vai dirigir após o plantão?
Caiu na Mídia
Você já saiu daquele plantão de 24h caótico em que nem chegou perto de ir dormir, pegou o carro e foi para casa dirigindo?
Saiba que dirigir nesse estado é praticamente igual a conduzir bêbado.
Pelo menos é isso que diz uma matéria publicado no jornal R7.
Ela se baseou em uma recente revisão sistemática, que objetivou avaliar quantas horas de sono são necessárias para uma direção segura.
Foram mais de 61 estudos incluídos, cuja análise demonstrou que dirigir com menos de 5 horas de sono está associado a redução significativa da capacidade de direção, aumentando em quase 2x o risco de acidentes.
Olho no detalhe: os estudos incluídos na análise tinham características, populações e metodologias bastante heterogêneas, o que enfraquece o poder da evidência.
Apesar disso, fica o alerta aos plantonistas noturnos: talvez um Uber seja uma opção mais segura na volta para casa.
Imagem da Semana
Se você está achando a sua via apertada, é porque ainda não viu esse óstio da artéria coronária direita. Por um triz, hein? 😮💨
De brinde, ainda vemos válvulas mecânicas mitral e aórtica em funcionamento.
Você já sabe, mas…
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Não custa relembrar.
Quarta-feira é dia de DozeNews Prime: nossa revisão semanal de um tema atualizado da Cardiologia!
E o tema dessa semana é: estratégias do tratamento da IC!
Fique por dentro
📺 Estado-da-arte do Eurointervention sobre o uso da angiotomografia de coronárias na DAC.
💊 Em pacientes com DAC a estratégia de tratamento com estatina guiada pela meta de LDL entre 50-70 mg/dL foi não inferior ao uso da estatina de alta potência.
🦠 Revisão do JAMA sobre miocardite!
🙇🏽 Devemos nos preocupar com os efeitos colaterais? Esse artigo avaliou os efeitos adversos das medicações para tratamento da IC nos diversos estudos randomizados.
📺 Como identificar pacientes que precisam de terapias além das estatinas? Estudo publicado no JACC: Cardiovascular Imaging demonstrou que a carga de placa e características de risco identificadas à angiotomografia podem auxiliar nessa estratificação.
📋 Revisão do JACC sobre o uso do PET na avaliação de isquemia microvascular.
🧈 Dislipidemia no The Lancet: benefício da associação do Ezetimibe com estatina de alta potência mantido (RACING trial) e pouco sucesso na redução de LDLc em pacientes de alto risco CV por baixa adesão (SANTORINI trial).
🤖 Dando continuidade à discussão de inteligência artificial (IA), o NEJM lançou mais uma revisão sobre o tema: a medicina está pronta para a IA?
💊 A associação de ezetimibe com estatina de moderada potência demonstrou uma efetividade semelhante à estatina de alta potência em idosos com intolerância.