É o fim do paradoxo da obesidade?
Efeito cardiovascular do cafezinho e revisão sobre disfunção do VD
O paradoxo da obesidade existe?
Coorte
Pacientes com ICFEr com IMC ≥25 kg/m2 apresentam menor risco de mortalidade quando comparado ao grupo com medida normal?
É difícil acreditar que a obesidade, uma doença associada a tantos malefícios, possa ter algum fator protetor, como sugeriram algumas evidências.
Tanto que a esse fenômeno deram o nome paradoxo da obesidade.
Será que esse achado não estaria associado a algum fator confundidor? Ou até mesmo secundário às limitações da medida do IMC (que não avalia a localização e a quantidade de gordura ectópica)?
Para acabar de vez com esta dúvida, um estudo publicado pela ESC avaliou o valor prognóstico de vários índices antropométricos, comparando-os com o IMC, em pacientes com ICFEr inscritos no estudo PARADIGM-HF.
O objetivo foi determinar o seu impacto na mortalidade global e morbidade na IC, tendo como desfecho primário hospitalização por IC ou morte cardiovascular.
A princípio, parecia que o tal paradoxo ia aparecer: aqueles com IMC ≥25 kg/m2 tiveram menor mortalidade (comparado com peso normal). No entanto, quando ajustado para outras variáveis, esse resultado não se manteve.
E mais: dois índices que relacionavam circunferência abdominal e altura (mas não peso) estiveram associadas a maior risco de hospitalização por IC.
Desmistificado o paradoxo da obesidade e confirmado o malefício da gordura abdominal na IC, o próximo passo é avaliar o benefício da perda de peso intencional no seu tratamento.
Qual o limite do cafezinho?
Estudo Randomizado
Vilão para alguns, salvador diário para outros. Esse é o nosso querido cafezinho.
Para entender melhor essa polêmica bebida, o CRAVE Trial, publicado no NEJM, avaliou os efeitos agudos do consumo do café em relação a ectopias cardíacas, ao sono, à atividade física e aos níveis de glicose.
Foi um estudo prospectivo, randomizado e unicêntrico.
100 participantes foram randomizados para receber mensagens no celular por 14 dias orientando a beber café ou evitar a bebida (será que esses aqui sobreviveram? rs).
Os resultados:
Para o desfecho primário (número médio de extrassístoles atriais), não houve diferença entre quem bebia café ou não (58 vs 53; p =0,1).
No entanto, os bebedores de > 1 xícara de café por dia tiveram uma média maior de passos diários (10.646 vs 9.665; diferença média: 1058 (441-1675)), menos minutos de sono por noite (397 vs 432; diferença média: 36 (25-47) e mais extrassístoles ventriculares (154 vs 102; 1,51 (1,18–1,94)).
Não houve diferença quanto aos níveis de glicose entre os grupos (95 vs 96 mg/dL).
Assim, os resultados desse estudo trazem uma tranquilidade quanto ao receio da relação entre a cafeína e extrassístoles atriais.
Os desfechos secundários nos geram hipóteses interessantes quanto a possíveis benefícios (aumento da atividade física) e malefícios (aumento do número de extrassístoles ventriculares e menos horas de sono) que nos auxiliam a orientar melhor os nossos pacientes.
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Ventrículo direito, o ventrículo esquecido?
Artigo de Revisão
Por muito tempo chamamos o ventrículo direito (VD) do “ventrículo esquecido”. Até que, em um plantão, nos deparamos com um paciente com disfunção de VD.
Aí lembra rapidinho né? rs
Sabendo dessa dificuldade, o artigo de revisão do NEJM dessa semana é sobre disfunção do VD.
Precisamos lembrar que a fisiopatologia da disfunção do VD está associada a 4 processos principais:
Aumento da pré-carga - em situações como insuficiência tricúspide e/ou pulmonar, disfunção do VE e shunts E-D.
Aumento da pós-carga - leva a hipertrofia dos miócitos e fibrose, em situações como hipertensão pulmonar (HP), cardiopatias congênitas e TEP.
Perda do inotropismo - após IAM ou miocardite, por exemplo.
Perda do lusitropismo - leva a dificuldade do relaxamento, como em cardiopatias infiltrativas, fibrose miocárdica e pericardite constritiva.
A figura central do artigo resume bem esses processos:
Além disso, ainda destrincha o papel dos principais métodos diagnósticos que incluem o ecocardiograma, a ressonância magnética e o cateterismo direito.
Por fim, o difícil tratamento da disfunção do VD inclui:
Cuidados com a pré-carga: aqui nem demais nem de menos. Apesar de, a princípio, o aumento da pré-carga ajudar na contratilidade, o exagero pode levar a desvio do septo para a esquerda e queda do débito cardíaco.
Redução da pós-carga: a vasodilatação arterial pulmonar aqui é essencial, principalmente em pacientes cuja disfunção é consequência de patologias pulmonares (HP, TEP). Já naqueles com disfunção esquerda, o tratamento é direcionado a essa câmara cardíaca.
Aumento da contratilidade: a importância de drogas inotrópicas e dispositivos de assistência ventricular.
Fica a dica para a leitura dessa revisão e a importância de se aprofundar no manejo do VD.
Bem que cabia uma DozeNews Prime sobre o tema, não é?
O Fentanil chegou ao Brasil
Caiu na Mídia
Infelizmente não estamos falando do uso do fentanil na UTI ou no centro cirúrgico. E sim dos comprimidos de fentanil apreendidos, na semana passada, no Espírito Santo.
Nos Estudos Unidos, essa droga não é lá grande novidade. É a substância ilícita que mais mata nesse país: foram estimadas mais de 70 mil mortes por esse opioide sintético em 2021.
Quem assistiu ao seriado Euphoria sabe bem do que estamos falando.
Do ponto de vista cardiovascular, os efeitos colaterais são aqueles que já conhecemos de todos os opioides de alta potência: bradicardia e vasodilatação importantes, que levam a episódios de síncope, arritmia, infarto agudo, até morte súbita.
Assim, com o aumento do espaço dessa droga no território brasileiro, precisamos estar atentos no PS aos casos de intoxicação, uma vez que o uso do naloxone em tempo hábil pode ser crucial.
Imagem da Semana
Imagem da semana de dar pesadelos! Mixoma em átrio esquerdo assustador evidenciado em ressonância magnética cardíaca, levando a comprometimento da valva mitral.
Fique por dentro
🫀 O JACC e seus estados-da-arte interessantes: olha o dessa semana sobre cardiopatia secundária a distúrbios de condução.
🌡️ Prevenção de febre por 36-72h após PCR não demonstrou benefício nesse estudo publicado no NEJM.
⚡ Luz no fim do túnel: ablação da via de saída do VD pode ser potencial tratamento para alguns pacientes com a temida Síndrome de Brugada.
🧬 Avaliação genética pode predizer desfechos em pacientes com estenose aórtica: pode estar relacionada à perda do cromossomo Y em monócitos periféricos.
💊 Revisão expõe a relação da vitamina D com aterosclerose! Muitas possibilidades, poucas evidências…
🏃🏼♀️ Statement do ACC sobre a prescrição de atividade física em pacientes com IC FEP.