Plástico nas carótidas
Quem disse que só as tartarugas sofrem com o plástico? E ainda tem diretriz nova de IC!
Na edição de hoje:
🐢 Microplásticos identificados em placas carótidas associados a aumento do risco cardiovascular;
🫀 Nova Diretriz de IC da ACC;
🧓🏻 Estado-da-arte do JACC sobre cuidados paliativos.
Seria a vingança da mãe natureza?
Estudo prospectivo (NEJM)
Querido Dozer, você sabia que nossa sociedade produz aproximadamente 400 milhões de toneladas de plástico anualmente e 40% do total é utilizado apenas uma única vez?
Pois é... e parece que a Mãe Natureza está dando o troco.
Já sabíamos que microplásticos e nanoplásticos (MNPs) podem ser encontrados no trato gastrointestinal (cólon, fígado), nos linfonodos, no baço, pulmões e até na placenta, como consequência da ingestão e inalação desses componentes.
Mas, pela primeira vez, pesquisadores italianos demonstraram a presença de MNPs no interior de placas de ateroma!
O estudo prospectivo, que contemplou 3 centros na Itália, foi publicado na última semana no NEJM. Foram avaliados os componentes das placas de ateroma através de microscopia eletrônica após cirurgia de endarterectomia de 257 pacientes. Em 58% dos casos foram encontrados MNPs em algum grau.
Os pacientes foram seguidos por quase 3 anos para avaliar a ocorrência de morte por todas as causas, IAM e AVC (desfecho primário).
E os resultados? Acredite: os MNPs e a resposta pró-inflamatória associada ao corpo estranho estiveram associados a um aumento de 4,5 vezes no risco de eventos maiores!
Apesar de ser um primeiro estudo apontando tal associação, os resultados foram semelhantes nos 3 centros envolvidos na pesquisa e a metodologia muito bem desenhada para limitar a possibilidade de efeito de confundidores.
Parece ser um belo chamado para cuidarmos da nossa saúde planetária, já que é estimado para 2040 um aumento na produção de plásticos para mais de 800 milhões de toneladas por ano.
É a Mãe Natureza mandando seu recado! Precisamos fazer nossa parte!
Nova diretriz de IC
Guideline ACC
Parece que o American College of Cardiology (ACC) pegou gosto por esse negócio de publicar diretriz de IC.
Óbvio, é a grande área mais bonita da cardiologia (invejosos dirão que falamos isso só para bajular o chefinho, Victor Bemfica rs).
O fato é que, mesmo tendo publicado uma diretriz em 2022 sobre o manejo da IC, o ACC decidiu lançar, essa semana, uma atualização.
A ideia deles foi preparar um guia dividido em 10 pontos principais para auxiliar na prescrição das principais medicações e para lidar com os maiores obstáculos. São eles:
Como iniciar o tratamento médico otimizado:
Esse aqui você está careca de saber. As 4 drogas essenciais no tratamento são os inibidores da angiotensina receptor/neprilisina (ARNI), beta-bloqueadores, antagonistas dos receptores de mineralocorticoides e inibidores do cotransportador de sódio-glucose tipo 2 (iSGLT2).
Observe que, para os americanos, a terapia de primeira linha inclui de cara o sacubitril-valsartana - e tem gente por aí que diz que não serve para nada rs.
Titulação das doses:
Deve ser realizada com o objetivo de alcançar as doses alvo ou as máximas doses toleradas pelo paciente o mais rápido possível (preferencialmente dentro de 3 meses), monitorando e ajustando o tratamento baseado na tolerância e na resposta do paciente.
Quando ligar para o Victor, digo, referenciar para o especialista em IC:
Lembra do mnemônico I-NEED-HELP? Mais uma vez ele é reforçado para lembrarmos das indicações para encaminhamento à IC avançada.
Coordenação do cuidado:
O cuidado coordenado entre os profissionais de saúde, incluindo a comunicação efetiva e o acompanhamento regular, é crucial para o manejo eficaz da ICFEr.
Adesão medicamentosa:
As estratégias incluem a educação do paciente, simplificação do regime terapêutico e o uso de sistemas e políticas que promovam a aderência.
Grupos de pacientes específicos:
Algumas dicas para adaptar o tratamento a grupos muitas vezes menos estudados, como como afro-americanos, idosos e pacientes com fragilidades.
Custo das medicações e acesso:
No contexto da adesão entram estratégias para facilitar o acesso e reduzir o custo das prescrições.
Manejo do aumento da complexidade:
Comorbidades e determinantes sociais da saúde, requer uma abordagem holística e integrada.
Demais comorbidades:
Não esquecer de outros complicadores extremamente comuns, como a DM e a HAS.
Cuidados paliativos:
A integração de cuidados paliativos e a transição para cuidados de fim de vida devem ser consideradas para pacientes com ICFEr avançada, focando na qualidade de vida e no apoio às necessidades do paciente e da família.
A diretriz está muito prática e didática, vale a leitura!
Cuidados paliativos na IC
Artigo de Revisão (JACC: Heart Failure)
Entra semana, sai semana e o DozeCast continua em concordância com os principais jornais e revistas do mundo científico.
A bola da vez são os cuidados paliativos em pacientes com insuficiência cardíaca avançada: abordado tanto no episódio #119 do DozeCast (com a participação do Dr. Antonio Tapias), como em belo estado-da-arte no JACC: Heart Failure.
Nossa, que susto em ouvir cardiologia e paliativos na mesma frase!
Queridinho, isso aqui é Doze por Oito feat. JACC! rs.
O artigo aborda de maneira prática e didática as opções para melhora clínica e redução do sofrimento dos pacientes com IC.
É, amigos… Dobutamina domiciliar, dispositivos de assistência ventricular de longa permanência e cuidados em clínicas de longa permanência fazem parte dos cuidados paliativos.
Só não sabe o poder de redução de sintomas da dobutamina, quem nunca tratou IC.
Brincadeiras à parte, o reconhecimento da progressão de classe funcional é importantíssimo para planejarmos o próximo passo.
Esteja sempre pensando no futuro do seu paciente!
O cafézinho que salva vidas
Caiu na Mídia
Finalmente temos evidências para provar aquilo que há muito sabemos: que o café salva vidas!
Ok, talvez tenhamos nos emocionado um pouco demais rs.
Salvar vidas ainda não, mas uma matéria publicada no jornal Folha de São Paulo destaca a associação entre o consumo do café e a redução do risco de DM.
Essa matéria usou como referência um estudo no BMJ, no qual o consumo de alto índice de cafeína, ou seja 3-5 xícaras de café sem açúcar por dia (facinho, facinho… rs) levou a redução do nível de gordura, além de prevenir a diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.
Além disso, um estudo publicado em 2021 demonstrou que quem bebia três a quatro xícaras de café por dia tinha um risco 25% menor de desenvolver DM em comparação às pessoas que tomam pouco ou nenhum café.
É lógico que temos um trilhão de fatores confundidores em ambos o estudos - desde coisas simples como “quem toma café sem açúcar tem hábitos mais saudáveis” até fatores genéticos associados.
Mas já podemos usar de desculpa para correr ali e pegar mais um xícara 😉.
Imagem da Semana
Curvas atrial direita (figura A) e aórtica (figura B) de cateterismo direito e esquerdo em paciente com suspeita de CIA. Observe o ECG em flutter atrial e compare com as curvas: o átrio com FC elevada, em torno de de 150 bpm, e a aorta/ventrículo com FC de 50 bpm, configurando um flutter 3:1.
Belo exemplo hemodinâmico de um quadro arritmogênico, concorda?
Um giro pelas principais publicações da semana
🦠 Prevenção de endocardite: hora de mudar? Revisão no The Lancet.
🧪 A dosagem repetida do NT-Pro-BNP auxiliou na reclassificação de pacientes com IC.
⚡️ Em pacientes em pós-operatório de revascularização miocárdica, a recorrência precoce de FA não elevou risco de morte, mas vale a pena ficar de olho em hospitalizações por IC e sangramento.
🗣️ Já no clima das eleições municipais temos um debate europeu: intervir na estenose aórtica moderada?
🔁 Promissor uso de loop recorders na Síndrome de Brugada: Bruloop Study!
🎸 Ainda em amplo estudo! O IronMan avalia a reposição intravenosa de Fe em pacientes com IC.
Ainda é tempo de retrospectivas?
Para alguns, parece que sim rs
🗓️ Editores do JACC publicaram um artigo com os principais estudos do ano passado.
🔪 Os 10 principais artigos de cardiologia intervencionista de 2023 pelo EHJ.
💨 Os 10 principais artigos de doença cardíaca isquêmica de 2023, também pelo EHJ!