Prognóstico da dissecção de aorta no fds • Escore de cálcio na emergência • Fatores de risco por região
O sextou da dissecção
O "SEXTOU" e a dissecção de aorta. Há diferença na eficácia do tratamento a depender do dia da semana?
Coorte retrospectiva
Fim de semana chegou e todos merecem descanso após semana "puxada", não é?
É comum a redução de escala nos hospitais aos finais de semana - com muitas equipes em regime de sobreaviso.
Mas e quando estamos frente a uma emergência cardiológica, será que existe diferença no tratamento se o atendimento é durante a semana ou não?
Um estudo publicado essa semana no JACC Ásia buscou responder essa pergunta. Avaliou pacientes com diagnóstico de síndrome aórtica aguda Stanford A (indicação cirúrgica imediata) e correlacionou o dia da admissão e a mortalidade intra-hospitalar.
Foi um total 2339 pacientes, divididos em 2 momentos:
Coorte I - admitidos em 2011;
Coorte II - admitidos de 2013-2015 (após implementação de sistema central em Tóquio de transferência de pacientes - TAAS).
Na primeira fase, aqueles admitidos no fim de semana tiveram piores desfechos comparado com os admitidos durante a semana (OR: 2,28; IC 95% : 1,48-3,52; P < 0,001). Porém, isso não se manteve na Coorte II.
Houve uma redução da mortalidade em 15% nos finais de semana após implementação do TAAS.
Ou seja, a dificuldade do atendimento de emergências cardiovasculares nos finais de semana é realidade do Brasil ao Japão.
Porém, organizar um sistema ágil de transferência de pacientes para tratamento no tempo adequado pode auxiliar nessas disparidades.
Escore de Cálcio para avaliação de dor torácica na emergência?
Revisão Sistemática
“Bugou” aí também? Você também tinha na cabeça a definição de que Escore de Cálcio (EC) era para a re-estratificação de risco em pacientes assintomáticos?
O JACC publicou uma metanálise com mais de 92 mil pacientes com risco baixo-intermediário de doença coronária, no contexto de dor torácica aguda, avaliados por meio do EC e Angiotomografia de Coronárias.
EC = 0 demonstrou um Valor Preditivo Negativo para presença de doença coronária (DAC) obstrutiva de 97%-98% nesse grupo de pacientes.
A taxa de eventos cardiovasculares maiores nesse grupo foi baixa (em torno de 0,5-0,8% de risco anual).
Com esses resultados, os autores propõem o EC como um “guardião” no pronto-socorro, identificando de forma eficiente pacientes que não precisariam de investigação com outros exames naquele momento.
Segura a onda, Gandalf. Sabemos do risco de DAC mesmo no contexto do EC = 0. Falta-nos um estudo direcionado para definir a segurança e utilidade do método nesse contexto.
Talvez um estudo de não-inferioridade do EC vs Angio-TC esteja por vir para definir melhor o papel do EC nesse contexto. Aguardemos.
Nível educacional e moradia domiciliar novamente como importantes fatores de risco cardiovascular (estudo PURE)
Coorte Prospectiva
No começo do século, com os famosos INTERHEART (2004) e INTERSTROKE (2010), a comunidade científica teve conhecimento dos famosos fatores de risco modificáveis para a doença cardiovascular.
Em 2017, foi publicado o estudo PURE, coorte prospectiva multicêntrica envolvendo países de baixa, média e alta renda.
O objetivo foi revisitar os fatores de risco ao longo das diversas regiões do mundo (e que ficou famoso por tentar salvar as gorduras saturadas da demonização).
Após a publicação original, tivemos análises específicas dos resultados na América Latina, China e, agora, na região sul da Ásia.
A grande relevância da coorte foi pela possibilidade de comparar os fatores de risco entre as diversas regiões pelo mundo - a fim de guiar políticas públicas de saúde.
Além de reforçar os clássicos fatores de risco (como hipertensão, dislipidemia, diabetes e obesidade), tivemos o grande reconhecimento do impacto dos fatores socioeconômicos na mortalidade geral e cardiovascular, com destaque para:
moradores de áreas rurais;
baixo nível educacional;
poluição domiciliar.
Ainda não sabemos ao certo se intervir nos fatores sociais pode ter grande impacto na mortalidade cardiovascular. Mas é certo que hoje se tornam consolidados como importantes marcadores de risco.
Susto nos “pantaneiros”
Caiu na mídia
O ator Juliano Cazarré, o Alcides da novela Pantanal, divulgou que a sua filha recém-nascida precisou passar por uma cirurgia cardíaca após nascer com Anomalia de Ebstein.
Vamos relembrar, caso a tia, fã da novela, venha questionar: é uma cardiopatia congênita caracterizada pela atrialização do Ventrículo Direito, ou seja, há um deslocamento em direção apical da valva atrioventricular direita - dica de artigo de revisão.
Já deu para imaginar: o grande problema aqui será a insuficiência tricúspide e disfunção de VD, funcionalmente hipoplásico.
Assim, cirurgia de urgência no neonato acaba sendo necessária nos casos de instabilidade refratária às medidas clínicas.
Que a filha do Alcides possa se recuperar bem 🙏🏼
Imagem da Semana
Se você esteve ligado na edição passada - ou no nosso instagram - provavelmente já vai lembrar do Algoritmo de Basel para o diagnóstico desse eletrocardiograma. Mesmo sem saber as características clínicas, se avaliar o tempo ao primeiro pico em D2 e aVR > 40 ms, fechamos o diagnóstico de taquicardia ventricular com frequência em torno de 100 bpm (ou por meio de outros algoritmos mais validados como o Vereckei e o Brugada).
Fique por dentro
🐷 A NEJM publicou os detalhes nesta semana sobre o primeiro paciente que recebeu transplante oriundo de coração porcino.
💉 Qual a associação da vacina de RNAm para COVID e a miocardite? A tão falada relação recentemente foi abordada em uma coorte publicada no The Lancet, que confirmou uma rara associação, mais frequente em homens jovens.
🦵 Estudo brasileiro publicado no BMJ identificou valor prognóstico no teste de se manter em pé só com uma perna por mais que 10 segundos (“10-second one-legged stance”).
🩸Lembra do estudo COMPASS com a rivaroxabana na DAC crônica? Essa subanálise comparou os efeitos entre asiáticos e não asiáticos e foi encontrado que orientais apresentam maior risco de sangramento importante na associação rivaroxabana + AAS.
🔪 Não cansamos de valorizar a importância de uma equipe multiprofissional no cenário do paciente cirúrgico. Novo estudo randomizado envolvendo pacientes pós esternotomia demonstrou que a reabilitação motora em até 2 semanas após procedimento trazem melhores resultados na recuperação.
⚡️ O CABANA trial foi relevante por demonstrar benefício na qualidade de vida da ablação por cateter quando comparado à controle de ritmo medicamentoso na FA recorrente. Essa subanálise demonstrou custo-efetividade da estratégia para os serviços de saúde.
🎟 Alta no mesmo dia após TAVI? Esse grande banco de dados demonstra segurança da alta precoce após o procedimento, desde que com critérios certos preenchidos.
🧘 Cuide bem do seu residente! Nessa semana o JACC publicou uma carta comentando como o "burnout" pode influenciar o aprendizado e cuidado ao paciente dos residentes de cardiologia frente a carga horária extenuante!
🔥 Na semana passada, uma coorte chinesa nos demonstrou aumento de eventos cardiovasculares nas temperaturas mais baixas. Agora foi a vez do calor excessivo ser colocado em pauta: essa coorte multicêntrica e internacional associou calor extremo a aumento de mortalidade cardiovascular.