Aqueles para mudar conduta
Artigos Originais
Diante da loucura de 2022, vamos recordar fatos, estudos e revisões que realmente devem ficar em nossas mentes.
No nível do tapa de Will Smith em Chris Rock (sim, foi em 2022), o novo algoritmo de Basel é daquele tipo de acontecimento que nós não costumamos ver.
Esse algoritmo veio para simplificar (e muito!) a avaliação das taquicardias de QRS largo.
Infelizmente, também tivemos grandes perdas em 2022: rainha Elisabeth II, rei Pelé, Gal Costa, Jô Soares. Também presenciamos a derrocada final dos fibratos na prevenção cardiovascular, no PROMINENT trial.
Choque de realidade menos barulhento e conturbado que a retomada do poder pelo Talibã, mas ainda assim poderoso para o mundo da cardiologia, a Varfarina anunciou em alto e bom som: “vocês vão ter que me engolir”.
As evidências favoráveis a ela no INVICTUS trial são inegáveis em comparação aos DOACs para tratamento de fibrilação atrial em pacientes com febre reumática.
Assim como nas eleições nacionais, a polarização reinou entre os métodos anatômicos e funcionais no tratamento da DAC, com destaque ao FRAME-AMI: estudo que demonstrou superioridade no tratamento de lesões não culpadas guiadas por FFR em comparação com a angiografia após SCA.
Elas quem mandam
As Diretrizes
2022 não nos decepcionou no quesito lançamento de grandes diretrizes.
E o prêmio Messi de melhor do ano vai para a Diretriz de Insuficiência Cardíaca da AHA.
Lançada no congresso do ACC 2022, ela marcou a consagração das medicações que mais deram o que falar no ano: os inibidores da SGLT2.
Além de entrar de vez como indicação IA no tratamento da IC FER
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a terapia quádrupla-
se estabeleceram como a principal medicação IC FEP com uma indicação IIa.
Claro que os europeus não ficaram para trás e já nos bombardearam com 4 novidades no seu congresso: as diretrizes de pré-operatório, hipertensão pulmonar, arritmias ventriculares e cardio-oncologia.
E o Brasil? Fez direitinho a sua parte e finalmente lançou a atualização da diretriz de Doença de Chagas (pré-print), e as atualizações das diretrizes de miocardites e de laudos eletrocardiográficos.
Por fim, menção honrosa à diretriz da AHA de doenças da aorta e o Statement de Síndrome Coronariana Aguda em idosos.
Nasce uma Estrela
As novas terapias
Falando em estrela, não podemos deixar de lembrar que, em julho de 2022, recebemos as primeiras imagens do telescópio James Webb!
Mas não é somente a NASA que gosta de novidades. No último ano, os cardiologistas comemoraram o surgimento de grandes estrelas do mundo científico.
Sem dúvida, quem mais brilhou foram os inibidores da SGLT2 com o DELIVER Trial, que estabeleceu de vez o seu uso no tratamento da IC com fração de ejeção preservada ou levemente reduzida.
Por sua vez, o CHAP Trial já nasceu revolucionando a vida das futuras mamães ao revelar a importância da redução da meta pressórica nas gestantes hipertensas.
Outro nascimento que mexeu com "coraçõezinhos sarados" foi o do VALOR-HCM. Aqui a estrela revelada foi o Mavacantem, que teve sua importância estabelecida na redução do gradiente de via de saída e nos sintomas dos pacientes com cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva e indicação de miectomia.
Já para os pacientes com IC descompensada, o ADVOR Trial revelou que pode existir um Dado Dolabella pra cada Wanessa Camargo que esteja precisando de um up para o coração tristonho:
A adição de Acetazolamida no tratamento da IC descompensada aumentou a taxa de descongestão precoce com sucesso, comparada ao placebo.
Esses deram o que falar
Os polêmicos
Polêmica foi uma coisa que não faltou em 2022: votou em Lula ou Bolsonaro?; vai ser França ou Argentina?; quem está certo Luana Piovani ou Scooby (rs).
O mundo da cardiologia não ficou para trás nas polêmicas.
Foi das terras do Cateterismo que veio a maior discussão de 2022: o REVIVED trial.
Esse estudo falhou em demonstrar benefício da angioplastia na redução de desfechos em paciente com IC FER de etiologia isquêmica.
Além dele, o DISCHARGE trial, deixou os hemodinamicistas em pé de guerra com a galera da imagem, ao demonstrar não-inferioridade da Angio-TC vs o cateterismo na investigação de DAC em pacientes de risco intermediário.
Odiado por todos, até o sal virou motivo para briga: o SODIUM-HF não demonstrou benefício na redução agressiva do sal na IC (convenhamos que uma redução ínfima).
O check-up cardiovascular perdeu força com a publicação do DANCAVAS Trial.
E o SENTINEL™, dispositivo que surgiu como esperança na redução de AVC na TAVI, foi seguro, mas não reduziu desfechos no PROTECT-TAVR.
Vale lembrar das discussões sobre o uso do escore de cálcio na suspeita de Síndrome Coronariana Aguda, e sobre a anticoagulação para profilaxia de trombo em VE no IAMCSST anterior.
A cardiologia nos holofotes em 2022
Caiu na Mídia
Em 2022, a cardiologia parecia até um TikToker, e esteve o tempo todo presente na mídia.
Por falar em famosos, quem não lembra dos longos stories do ex-BBB Eliézer sobre a sua rara pericardite.
Foram longas, também, as discussões sobre a primeira Copa do Mundo com a presença de jogadores com CDI.
No fim, deu tudo certo para os jogadores (não tanto para a Dinamarca e para a Holanda)
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rindo com respeito.
E longas são as caminhadas que precisamos dar para atingir a prevenção cardiovascular: dizem que 10.000 passos reduzem o risco de doenças cardiovasculares, demência e câncer.
Por fim, descobrimos novos riscos para o coração presentes no dia-a-dia: desde substâncias como o Venvanse e uso dos cigarros eletrônicos, até mesmo a solteirice rs.