Revisão de gliflozinas • Disparidade racial na DCV • Amiloidose precoce • Solteiros em risco
Como se justifica a maior incidência de DCV em americanos negros?
Gliflozinas e o coração
Artigo de revisão
Logo quando você (e nós) não aguentávamos mais falar de gliflozinas, vai lá tio Braunwald e nos traz uma revisão espetacular sobre as novas queridinhas e o sistema cardiovascular. Não dava para ignorar.
Vai me dizer que não é interessante saber que a substância (a ‘phlorizina’) descoberta em 1835 foi extraída da árvore da maçã??
Desculpa, nos entusiasmamos.
Daí ele começa com os resultados dos estudos que incluíram apenas diabéticos:
EMPA-REG (empagliflozina)
CANVAS (canagliflozina)
DECLARE-TIMI 58 (dapagliflozina)
SOLOIST-WHF (sotagliflozina).
Para, então, apresentar os estudos mais recentes de pacientes com IC, que incluíram diabéticos e não-diabéticos, como DAPA-HF e EMPEROR-Reduced. Inclusive, dá sua breve análise sobre os estudos de fração de ejeção preservada como EMPEROR-Preserved e o aguardado DELIVER (dapagliflozina na IC FEP - ainda não publicado).
Todos esses estudos tiveram resultados positivos para essa nova classe.
Na segunda parte ele traça os possíveis mecanismos para os achados, que se destacam:
Aumento dos níveis séricos de cetonas com melhora de função mitocondrial
Melhora do relaxamento do miocárdio
Atividade anti-inflamatória
Vasoconstricção da arteríola aferente do néfron
Finaliza com a descrição dos efeitos adversos já bem conhecidos: infecção genital (principalmente por fungos), ITU / pielonefrite e cetoacidose diabética euglicêmica.
Vale a pena a leitura. Mas, caso prefira escutar sobre a linha do tempo das gliflozinas, tem um episódio do DozeCast perfeito para isso (é só clicar) (🎙 rsrs).
Disparidade racial no desenvolvimento de doença cardiovascular precoce?
Coorte
Estudos recentes têm demonstrado uma maior incidência de eventos cardiovasculares em negros.
Infelizmente, a população negra é sub-representada no principais estudos da cardiologia. Faz pouco tempo que a medicina começou a prestar mais atenção nessa população e compreender as suas particularidades.
Uma análise publicada na Circulation, a partir do registro CARDIA (Coronary Artery Risk Development in Young Adults), envolveu indivíduos da raça branca e negra entre 18–30 anos e buscou avaliar a existência de associações comportamentais, psicossociais, socioeconômicas e comunitárias no risco de desenvolver doença cardiovascular precocemente.
A partir da avaliação de 2785 indivíduos negros e 2327 brancos, com seguimento de 33 anos, observou-se que negros apresentavam maior incidência de doenças cardiovasculares precoces RR 2,44 [95% CI, 1,71–3,49].
O grande resultado do estudo, porém, foi outro: esses achados são justificados pelo contexto socioeconômico.
Ou seja, os negros norte-americanos apresentavam:
pior remuneração econômica;
piores indicadores de qualidade de vida;
maiores indíces de depressão;
pior adesão ao controle dos fatores de risco cardiovascular (tabagismo, dieta)
Todos esses são marcadores de risco cardiovascular. Quando excluídos, não houve diferença significativa entre as populações para desenvolvimento de DCV precoce.
Ou seja, o problema vai muito além da justificativa genética. Os fatores ambientais e as piores condições impostas historicamente a essa população são mais relevantes que a hereditariedade.
Amiloidose Transtirretina (ATTR) precoce
Artigo de Revisão
E, por falar em DozeCast, após ouvir o nosso episódio da semana sobre Amiloidose, os europeus resolveram lançar uma revisão sobre os estágios mais precoces dessa doença na forma ATTR.
Temos certeza que foi assim que aconteceu, não ouse discordar.
Pontos mais relevantes da revisão:
Tempo de evolução do assintomático para síndrome clínica? Não sabemos. Recomendam o início do rastreio em familiares acometidos pela forma genética, em torno de 10 anos antes da idade de desenvolvimento da doença no caso índice.
As primeiras anormalidades cardíacas podem ser detectadas por avaliação do strain miocárdico + aumento dos níveis séricos de BNP / NT-pro-BNP.
Acometimento extra-cardíaco pode vir antes - síndrome do túnel do carpo 3-10 anos - fique alerta!
Figura que resume muito bem a evolução da doença:
Solteiros são o novo grupo de risco cardiovascular
Caiu na Mídia
Junho chegando e aquela vozinha na sua cabeça começa a falar: “mais um dia dos namorados solteiro”.
Passar esse fatídico dia tomando vinho e vendo comédia romântica dos anos 90 até vai. Porém, foi publicada uma matéria que apresenta a “solteirice” como fator de risco para morte por IC.
O cruel estudo foi apresentado no ESC Heart Failure 2022. Realizado em um hospital alemão, fez o seguimento por 10 anos de mais de 1000 pacientes com insuficiência cardíaca.
No período do estudo, 67% faleceram. Adivinhe o grupo que mais morreu, quando separados por estado civil - sim, os encalhados (HR 1,30, 95% IC: 1,12-1,52).
Brincadeiras a parte, ainda é pouco para concluir qualquer coisa. Primeiro precisamos ter acesso ao artigo completo para melhor análise. Além disso, avaliar os possíveis fatores confundidores (ex.: piores condições sociais) que podem ter levado a esse resultado.
Na dúvida, já instalei o Tinder.
Imagem da semana
Dança de dois trombos livres no átrio direito passando na sua tela 🫣. Assustador ou não? Esse paciente estava internado por TEP!
Fique por dentro
😴 Maior lesão por reperfusão após IAM parece ser o mecanismo de maior mortalidade cardiovascular em pessoas com ciclo circadiano invertido. Cuidado, médicos plantonistas. Mais detalhes no artigo da JACC essa semana…
🧵 Aos nossos queridos seguidores hemodinamicistas, segue o "prato cheio" de novidades e discusssão sobre a abordagem de lesões complexas em bifurcação no "State of the Art Review" do JACC.
🥃 Qual o limite de álcool para nossos pacientes assintomáticos com IC? Naqueles que já denotam alterações estruturais, mas sem repercussão clínica, muitas vezes uma maior ingestão de álcool pode ser o suficiente para desencadear a sua primeira descompensação. Segue resumo do medscape sobre o tema.
🧠 Será que existem maneiras de reduzir o tromboembolismo durante a TAVI? Esse estudo de fase II publicado essa semana no EuroIntervention sugere que sim, através de uma nova técnica de proteção.
🧓🏻 Sub-análise do HF-Action demonstrou que em pacientes com ICFER a presença de fragilidade nos submetidos a atividade física reduziu ainda mais a chance de hospitalização, portanto não conseguiu alterar mortalidade (assim como o trial original).
🖥 Pra você entusiasta da cardiointensiva, que se encanta com todos aqueles monitores e dispositivos na beira do leito: resumo de todas as novidades de manejo e monitorização do paciente crítico!