Segunda-feira é dia de dieta
E mais: a evolução da "cardio-enterologia"; quem é o culpado da morte súbita?
Dieta e coração: menos hype e mais evidências!
Artigo de Revisão
Temos certeza que você já foi questionado por algum familiar ou paciente sobre os benefícios milagrosos de alguma dieta da moda!
É tanta informação compartilhada pelos influencers que podemos nos perder no meio da infinidade de conteúdo que circula na internet sobre o tema.
Felizmente, em 2021, a American Heart Association trouxe um alívio para os cardiologistas ao emitir uma declaração científica descrevendo os princípios-chave de um padrão alimentar saudável para o coração.
Nesse documento, destacam o papel fundamental dos padrões alimentares e estilos de vida equilibrados na saúde. Eles compartilham características comuns, como:
Consumo de frutas e vegetais frescos em abundância.
Inclusão de grãos integrais e fontes de proteínas magras, como leguminosas, peixes e aves.
Ênfase em gorduras insaturadas, como azeite de oliva e óleos vegetais, em vez de gorduras saturadas e trans.
Moderação no consumo de açúcar, sal e alimentos processados.
Diante do exposto, na última semana, foi publicado um belo artigo, no Circulation, avaliando o grau de conformidade dos padrões de dieta mais populares dos EUA com as recomendações presentes na declaração científica da AHA de 2021.
Além disso, sugere ferramentas visando maior adesão aos padrões apresentados na declaração científica de 2021.
Vale a pena a leitura! Diferentemente de dieta, conhecimento nunca sai de moda!
A moda agora é cardio-enterologia?
Artigo de Revisão
É sempre bom reforçar para nós, cardiologistas, que existem órgãos que não se mexem, e também que a existência de microorganismos não se resume somente às endocardites rs.
E o pior: parece que essas estranhas entidades têm grande implicação no tratamento da insuficiência cardíaca (IC).
O JACC publicou um interessante estado-da-arte sobre o microbioma intestinal e a sua relação com o tratamento da IC.
Além de estar relacionada a gatilhos inflamatórios e, portanto, a possível gênese e progressão da IC, a microbiota intestinal influencia a farmacodinâmica.
Assim, o seu entendimento é fundamental para otimização do tratamento, seja a partir da redução da progressão da doença cardíaca, como também com a otimização da ação das drogas utilizadas na sua terapêutica.
Sobra a pergunta de milhões: como apresentar uma flora intestinal mais benéfica?
Já reconhecemos algumas práticas capazes de alterar a flora intestinal:
Ingestão de verduras e legumes;
Atividade física regular;
Vícios: álcool e tabagismo;
Poluição ambiental;
Ou seja, um reforço ao estilo de vida saudável que já conhecemos (e, inclusive, foi apresentado na declaração científica da AHA discutida acima).
Nos direciona ao entendimento de que a relação coração-intestino pode pavimentar uma nova estrada no tratamento da IC!
Qual a etiologia da morte súbita?
Análise retrospectiva
O culpado foi o coronel mostarda com castiçal na sala de estar.
A cardiologia às vezes faz com que a gente se sinta jogando Detetive na investigação etiológica da morte súbita (MS) de um paciente: qual a etiologia? O mecanismo da arritmia? E o tratamento?
É nesse contexto que a ressonância magnética cardíaca (RMC) é essencial. Um interessante estudo publicado nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, feito por um grupo da USP-RP, avaliou a importância desse método diagnóstico na investigação.
Apesar de uma pequena amostra (apenas 64 pacientes incluídos), alguns achados foram interessantes:
A principal etiologia foi a cardiopatia chagásica (28,1%), demonstrando a importância desse diagnóstico no nosso país.
Venceu, inclusive, a principal etiologia de morte súbita no mundo que é a cardiopatia isquêmica (no presente estudo, correspondeu a 17,2%).
Outro ponto que chamou atenção foi que apenas 30% dos pacientes tinham fração de ejeção do VE < 35%, contra 39% com FEVE > 50%.
A FEVE mostrou-se um marcador pouco acurado para a identificação de pacientes com alto risco de MS.
Além disso, o realce tardio ao gadolínio foi identificado em mais de 70% da amostra.
O estudo traz uma interessante avaliação da MS em um território nacional, nos alertando sobre a importância da investigação etiológica com a RMC e o tratamento direcionado.
Musculação do coração
Caiu na Mídia
E por falar em doença de Chagas, o jornal Folha de São Paulo publicou uma matéria na qual apresenta o estudo Fix Chagas: um ensaio em realização no Instituto do Coração (INCOR) no qual é testado o implante do Optimizer Smart System.
Esse é um modulador de contratilidade cardíaca. Semelhante a um marca-passo, é implantado nas câmaras cardíacas direitas.
De forma simplificada, ele envia um pulso elétrico bifásico no septo interventricular durante o período refratário do ciclo cardíaco, levando a um aumento da homeostase do cálcio no miócitos e, assim, da contratilidade cardíaca.
Serão randomizados 60 pacientes com o diagnóstico de doença de Chagas com FEVE < 35%, CF NYHA II-III, dissincronia intraventricular e ritmo não-BRE.
Será feito um seguimento de 6 meses, e os desfechos primários serão melhoria da qualidade de vida e do strain longitudinal global.
Estudo nacional muito interessante em uma população pouco estudada mundialmente. Vamos aguardar os resultados!
Imagem da Semana
Belo resultado de uma angioplastia de tronco de coronária esquerda após valve-in-valve aórtico em paciente com alto risco de oclusão do tronco pela prótese (altura de 5 mm da prótese).
Fique por dentro
🦠 Cardioenterologia vem forte? Mais um estudo sobre o tema, agora com o objetivo de avaliar associação da microbiota intestinal com FA.
💊 Revisão sistemática publicada no JAMA Cardiology mostra eficácia e segurança do uso de pílulas com 3-4 anti-hipertensivos combinados, em dose baixa, como terapia inicial na HAS.
📤 Caixola do saber: inibidores de SGLT2 também aumentam produção de Eritropoetina hepática e renal!
❌ Os Dozers não gostam de dar força ao lobby anti-estatina, mas a ciência e a informação para você vem sempre em primeiro lugar. Então vai: em pacientes já em uso de estatina, “loading-dose” antes da cirurgia de revascularização não mudou desfechos em 30 dias após a cirurgia.
🥇 Revisão no The Lancet sobre conceitos da revascularização miocárdica (para complementar a PRIME da semana passada!).
🧪 Troponina sexo-específica? Estudo sugere menores valores de troponina em pacientes femininas em relação ao sexo masculino. Mudanças relacionadas à idade dos pacientes também é destaque.