Setembro, o mês das diretrizes?
Nova diretriz americana de perioperatório, fatores de risco para SCA e colchicina na aterosclerose 🇧🇷
Uma avalanche de diretrizes
Diretriz AHA/ACC
Primeiro foram os europeus, semana passada foram os brasileiros e agora os norte-americanos. Sim, as sociedades de cardiologia do mundo resolveram publicar novas diretrizes de uma só vez rs.
Foi a vez das sociedades norte-americanas publicarem o seu novo guideline de manejo cardíaco perioperatório em cirurgias não-cardíacas.
Vamos resumir as principais orientações quanto à avaliação pré-operatória e no cuidado intra e pós-operatório:
🔍 Avaliação pré-operatória:
Deve ser realizada uma avaliação passo a passo do risco cardiovascular pré-operatório, que se inicia com o cálculo de algum dos escores recomendados, (não diferencia qual seria o melhor):
RCRI;
The Surgical Outcome Risk Tool;
NSQIP surgical risk calculator;
AUB-HAS2;
Para cirurgias com risco mais elevado, deve ser avaliada a capacidade funcional do paciente (questionar se consegue subir pelo menos 2 lances de escadas ou utilizar escalas como a Duke Activity Status Index (DASI).
Em pacientes idosos (≥ 65 anos) utilizar escalas de fragilidade para avaliação adicional;
Testes funcionais devem ser utilizados de forma cautelosa e apenas nos pacientes em programação de cirurgias de risco mais alto e baixa capacidade funcional para pesquisa de isquemia.
💊 Medicações:
Destaque para os inibidores da SGLT2 que devem ser interrompidos 3-4 dias antes da cirurgia para minimizar o risco de cetoacidose;
Os anticoagulantes orais devem ser comumente interrompidos, estando a terapia ponte reservada para aqueles de alto risco.
🫀 O manejo da injúria miocárdica pós cirurgia não-cardíaca (MINS, do inglês myocardial injury after noncardiac surgery):
Para o seu diagnóstico recomenda-se a dosagem de troponina 24h e 48h após o procedimento em pacientes de alto risco (histórico de doença cardiovascular e/ou ≥ 65 anos com fatores de risco) submetidos a cirurgias de alto risco.
O diagnóstico é feito a partir da elevação da troponina sem outras alterações que fechem o diagnóstico de infarto.
O grande problema da MINS é o pior prognóstico pós-operatório, proporcional ao nível da elevação da troponina.
Uma vez que a etiologia aterosclerótica é a principal, os pacientes devem ser manejados com otimização medicamentosa objetivando o controle dos fatores de risco cardiovasculares e deve ser aventada a prescrição de antitrombóticos na prevenção de eventos.
😮💨 Ufaaa!
Sabemos que acompanhar todas as novidades dos últimos meses não tem sido fácil. Para isso existe a DozeNews Prime com os resumos completos das principais diretrizes.
Essa semana, traremos as atualizações da diretriz de perioperatório brasileira, em um paralelo com a norte-americana. Inscreva-se abaixo para receber a edição completa e ainda ter acesso a todas já publicadas!
O manejo da SCA começa na prevenção
Estudo transversal (European Association of Preventive Cardiology)
Não é novidade para ninguém: a doença cardiovascular (DCV) é a principal causa de morte no mundo. E o infarto é o protagonista desta triste liderança.
Apesar do momento da ciência cardiológica voltado para a redução do risco cardiovascular, não temos feito o dever de casa básico bem feito. Ainda estamos longe do controle dos fatores de risco clássicos para a ocorrência de eventos cardiovasculares!
Resultado disso são os hospitais lotados de casos de síndrome coronariana aguda (SCA), um constante desafio à saúde pública no Brasil.
A prova veio em um estudo brasileiro apresentado no Congresso da European Association of Preventive Cardiology que teve o objetivo de examinar a prevalência de fatores de risco modificáveis em pacientes hospitalizados com SCA em uma instituição de referência cardiológica pública.
Utilizando dados do registro de SCA entre julho de 2018 e outubro de 2022, o estudo analisou 143.352 pacientes atendidos no departamento de emergência, dos quais 5.580 casos de SCA foram confirmados (56,0% angina instável, 34,8% IAMsSST e 9,2% IAMcSST).
O achado mais alarmante foi a prevalência do estilo de vida sedentário, presente em 99,3% dos casos. Além disso, 80,4% dos pacientes apresentavam hipertensão, 72,5% estavam acima do peso ou obesos, 56,6% tinham diabetes, 53,5% dislipidemia e 20,6% eram fumantes.
Esses números revelam um panorama preocupante, no qual a grande maioria dos pacientes com SCA possui múltiplos fatores de risco modificáveis.
Assim, ressalta a urgência de estratégias de saúde pública mais agressivas e intervenções no estilo de vida, com foco em combater o sedentarismo e tratar os fatores de risco como hipertensão, diabetes e obesidade.
A relevância dessa abordagem é fundamental para enfrentar a principal causa de mortalidade no país e diminuir o impacto da SCA na população brasileira.
Mais Brasil!
Estudo retrospectivo (Atherosclerosis)
Brasucas na área! Estudo conduzido por um grande amigo da Doze, Lucas Tramujas, e liderado pelo Prof. Dr. Alexandre Abizaid e Dr. Alexandre Biasi Cavalcanti foi publicado esta semana na renomada revista Atherosclerosis.
Vamos dizer a verdade: muito mais empolgante que qualquer jogo da seleção canarinho. Um verdadeiro gol de placa!
O estudo avaliou retrospectivamente, através de um registro internacional, o impacto da Colchicina (é… ela não larga o osso rs) em pacientes com doença arterial periférica em 10 anos.
Utilizou como base de dados o registro internacional a partir da plataforma TriNetX de 2011 a 2024, que engloba diversas instituições de vários países (Chile, Brasil, Georgia, Taiwan e Estados Unidos).
Os resultados:
Foram avaliados 53.568 pacientes com DAOP tratados com colchicina e 1.499.969 pacientes com DAOP no grupo controle.
Quanto ao desfecho primário, o uso de colchicina associou-se a menor ocorrência de MACE e eventos relacionados a DAOP (43,2% vs 46,0%, HR 0,90, 95% CI 0,88–0,92, p < 0,001)
Separadamente, esses desfechos também se mantiveram significativos:
Menor ocorrência de eventos maiores relacionados a DAOP no grupo tratado com Colchicina (revascularização e amputação): 14,6% versus 16,5%, HR 0,84, 95% CI 0,82–0,88, p < 0,001
Menor ocorrência de MACE no grupo tratado com colchicina: 36,3% versus 38,1%, HR 0,93, 95% CI 0,91–0,95, p < 0,001.
Não houve diferença na ocorrência de IAM: 12,5% versus 12,6%; HR 0,98, 95% CI 0,95–1,01, p = 0,24
Conclusões:
Devemos, claro, compreender que o estudo apresenta as limitações de grandes registros e não apresenta uma resposta definitiva clara sobre a proteção da colchicina quanto a eventos da DAOP e cardiovasculares.
Por outro lado, o uso de agentes com ação anti-inflamatória, como a colchicina, nunca havia sido estudada com foco na saúde arterial dos membros inferiores. Portanto, devemos comemorar a originalidade e importância internacional deste estudo de selo brasileiro, que tem tudo para virar um ensaio randomizado!
🚨 Spoiler Alert! Vem aí o estudo EPOCA (Evaluation of a POlypill and Colchicine for risk reduction in patients with established Atherosclerotic cardiovascular disease)!
Os pesquisadores informaram à Doze, em primeira mão, que está em organização um ensaio clínico randomizado brasileiro, de superioridade e multicêntrico para avaliar a estratégia com colchicina e polipílula em pacientes de muito alto risco cardiovascular (ou seja, com antecedente de doença aterosclerótica significativa coronária, cerebrovascular, vascular periférica, com ou sem eventos clínicos; ou obstrução ≥ 50% em qualquer território arterial).
Os pacientes serão acompanhados por um período mínimo, mediano e máximo de 2 anos (24 meses), 3 anos (36 meses) e 4 anos (48 meses), respectivamente; e serão comparados resultados da intervenção clínica com polipílula/tratamento convencional e/ou colchicina/placebo.
Promete ser um estudo para finalmente consolidar (ou não rs) a colchicina no cenário da doença aterosclerótica.
Caiu na Mídia
Aproveitando o setembro amarelo e o tema da importância da atividade física na saúde mental, a marca esportiva Asics® lançou, essa semana, uma interessante (e talvez polêmica rs) propaganda:
Com a figura do ator Brian Cox na pele do personagem Logan Roy que o consagrou na série Succession (vencedora de 19 Emmys), a propaganda alerta sobre os riscos do trabalho sedentário na saúde mental.
Vale para descontrair e passar uma importante mensagem!
Imagem da Semana

Ecocardiograma transesofágico no plano do eixo curto da valva aórtica, evidenciando passagem de microbolhas através do septo interatrial, do átrio direito para o átrio esquerdo.
O shunt ocorre dentro dos primeiros 3 a 5 batimentos cardíaco após a injeção do contraste, confirmando o shunt interatrial direto, observado no FOP. Podemos quantificar o shunt como importante, já que flagramos a passagem de mais de 20 microbolhas, visualizando um “espetáculo de estrelas” (muitas microbolhas simultaneamente atravessando o septo).
Lindo, não é? 🤤
Mas o que fazer com isso? Duas dicas para você aprender tudo sobre o manejo do FOP:
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Um giro pelas demais publicações ao redor do globo
🏃🏼♀️ Estudo publicado no Circulation revela que a atividade física, tanto a regular ou concentrada nos fins de semana (Weekend Warrior), reduz igualmente o risco de mais de 200 doenças, incluindo as cardiovasculares.
🦀 O uso de Inibidores da SGLT2 em pacientes diabéticos demonstrou a reduzir o risco de cardiotoxicidade associada a quimioterápicos.
💊 Estudo publicado no JACC demonstrou benefício do uso do patiromer em pacientes com IC FER e hipercalemia, com dificuldade de otimização medicamentosa.
🧳 Artigo publicado no JACC: Clinical Electrophysiology revela disfunção ventricular esquerda de início recente em 3,75% dos pacientes após marca-passo de ramo esquerdo, destacando a importância do monitoramento e intervenção precoce.
⚡ Revisão sobre ablação de fibrilação atrial por cateter no European Heart Journal!
🫀 Mais uma revisão interessante, dessa vez sobre a da Doença de Kawasaki, no The Lancet.
👩🍼 Estudo CoNARTaS revela maior risco de defeitos cardíacos congênitos em crianças concebidas por tecnologia de reprodução assistida, embora o risco absoluto permaneça modesto.
🦀 Especialistas do JACC destacam lacunas nas evidências sobre avaliação cardiovascular antes da terapia oncológica e propõem recomendações para melhorar o cuidado personalizado.