SPRINT longo
Análise pos-hoc
Vocês devem lembrar do SPRINT Trial: publicado em novembro de 2015, evidenciou benefício no controle intensivo da pressão arterial (PAS < 120 mmHg) vs controle padrão (PAS < 140 mmHg).
Será que esse benefício persiste 4,5 anos depois?
A resposta veio em estudo publicado no JAMA, que seguiu um subconjunto de 2.944 participantes do estudo original.
O resultado: não existia mais evidência de benefício para mortalidade cardiovascular ou por todas as causas.
Como assim?? Sim, essa foi a reação de todos.
Calma, a diferença observada está diretamente associada ao aumento dos níveis de PAS ambulatoriais em participantes randomizados para tratamento intensivo após o estudo!
Ou seja, o controle intensivo não se manteve tão firme assim no seguimento.
Conclusão: é extremamente importante buscarmos estratégias que garantam o gerenciamento consistente de longo prazo da hipertensão.
Revivendo o REVIVED
Artigo Original
Recordar é (re)viver (rs). O estudo REVIVED foi apresentado no ESC e, finalmente, saiu a publicação no NEJM, então vamos relembrá-lo.
O trial investigou o benefício da intervenção coronária percutânea (PCI) em pacientes com DAC extensa + IC FER!
Spoiler alert: foi negativo! Um banho de água fria para os hemodinamicistas mais sonhadores.
Vamos aos dados:
Estudo prospectivo, multicêntrico, randomizado e aberto.
População: FEVE<35% com DAC extensa e viabilidade miocárdica comprovada em ≥ 4 segmentos.
Tempo médio: 40 meses
Grupos: PCI: 347 pacientes vs Tratamento Clínico Otimizado: 353 pacientes;
Desfecho primário:
Morte ou hospitalização por IC: PCI 37,2% x Clínico 38% (HR, 0.99; 95% [CI], 0.78 to 1.27; P=0.96)
Desfechos secundários:
FEVE 6m e 12m: melhora discreta em ambos os grupos.
Qualidade de vida: tendência de melhora no grupo PCI de 6 a 12 meses, não mantida ao final de 24 meses
Nossa análise crítica:
Ponto para o tratamento medicamentoso bem feito, que mostra, mais uma vez, a sua importância na sobrevida dos pacientes.
Teoria do miocárdio hibernante em xeque:
Quase 70% dos pacientes não apresentavam angina, ou seja, a melhora clínica dependia da melhora contrátil miocárdica.
Observou-se que a revascularização parece não propiciar melhora contrátil superior à atingida com tratamento medicamentoso.
Não podemos deixar de notar que a incidência de IAM foi parecida em ambos os grupos, sendo que IAM espontâneo ocorreu mais no grupo clínico.
Ou seja, IAMs periprocedimentos foram responsáveis por equilibrar a balança e parecem não ser tão benignos assim.
Screening cardiovascular - vale a pena?
Artigo Original
Devemos orientar nossos pacientes a fazer aquele check-upzinho de vez em quando?
É essa a pergunta que o DANCAVAS procurou responder.
Mais um estudo que foi apresentado no último congresso da ESC, mas a publicação oficial saiu essa semana no NEJM.
Como funcionou:
46526 homens dinamarqueses entre 65-74 anos, randomizados para seguimento habitual ou realização do screening cardiovascular, que incluía:
Perfil lipídico e glicêmico;
Medida de PA dos 4 membros - procurar HAS e doença arterial periférica;
TC sem contraste + ECG - cálculo do escore de cálcio, pesquisa de aneurismas e de fibrilação atrial.
Desfecho primário: morte por qualquer causa, em um seguimento médio de 5,6 anos.
No fim, 12,6% dos pacientes do screening morreram vs 13,1% do grupo controle (HR = 0,95; IC 95% 0,9-1,0), sem significância estatística.
Alguns detalhes:
Na análise de subgrupos, pacientes entre 65-69 anos tiveram benefício significativo na realização do screening.
Grupo do check-up recebeu mais tratamento medicamentoso, sem diferença em intervenções cirúrgicas ou percutâneas.
Ou seja, mesmo sendo um estudo “negativo” para o desfecho primário, demonstrou benefício em alguns grupos e melhora no tratamento precoce.
Será que se o estudo fosse com pacientes mais jovens, além de incluir grupo feminino e outras populações, o resultado seria diferente?
O amarelo de Van Gogh
Caiu na Mídia
Essa semana, um grupo de ativistas ingleses jogou um pote de molho de tomate na pintura “Girassóis” de Vincent Van Gogh (que custa modestas $756 milhões de libras) exposta na Galeria Nacional em Londres.
Ok, mas o que isso tem a ver com a cardiologia?
Nada, mas dê uma olhadinha na pintura:
Amarelo né? E não só nessa pintura, Van Gogh tinha uma plena preferência por essa cor. E a justificativa para isso tem um nome:
Digoxina.
Reza a lenda que o famoso pintor se utilizava dos frutos da Digitalis purpurea para controle de sintomas neurológicos.
E a consequência, nós, cardiologistas, já sabemos: xantopsia. A visão amarelada é uma clássica característica da intoxicação pelos digitálicos.
Fica aí esse fun fact artístico na DozeNews.
Imagem da Semana
Paciente de 65 anos em investigação de dor torácica ao pico do esforço e teste ergométrico com infraST de 1mm. Mal sabiam os hemodinamicistas que estávamos diante do tronco de coronária mais importante do mundo! O cateterismo cardíaco demonstrou anomalia de coronárias: tronco único com origem no seio coronariano direito com trifurcação em ACD, ACX e ADA! Importante ressaltar que a ADA apresenta trajeto interarterial (entre TP e Ao) e ACX posterior à aorta.
Fique por dentro
🫃 Estudo observacional com pacientes após cirurgia bariátrica demostrou melhora de parâmetros cardíacos, como redução da gordura epicárdica, remodelamento reverso do VE e melhora da mecânica biventricular.
💊 "Melhor que nada". Estudo publicado no JACC demonstrou benefícios cardiovasculares (desfechos moles) do Sacubitril-Valsartana com diversas doses da medicação.
🫀 Mais um subestudo do SPRINT! Esse demonstrando o benefício do controle intensivo na PA em paciente em hipertrofia do VE associada a elevação de troponina e de biomarcadores.
🦀 Bela revisão do JACC sobre o uso dos vários métodos de imagem na Cardio-oncologia.
🧈 Lp(a): potencial alvo terapêutico para doença coronariana e estenose aórtica!
🦠 Colchicina ou AAS para tratamento de COVID: sem evidência de benefício em pacientes hospitalizados ou em domicílio.