Vamos de diretriz nova
E mais: ablação precoce da FA; psicoterapia na prevenção cardiovascular; 45 problemas do excesso de açúcar
Antes Tarde do que Nunca!
Scientific Statement ACC
Foram anos colocando a insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (IC FER) e preservada (IC FEP) “no mesmo saco”.
Após a publicação de diversos estudos, começamos a perceber que, além de diferentes do ponto de vista fisiopatológico, o tratamento dessas duas condições tem pouco em comum.
Até que, finalmente, o American College of Cardiology (ACC) decidiu lançar um guia direcionado para o manejo da IC FEP.
Vamos listar os pontos principais dessa diretriz:
A definição de IC FEP exige sinais e/ou sintomas de IC (conforme os bons e velhos critérios de Framingham) no contexto de FEVE ≥ 50% + ≥ 1 dos seguintes:
Peptídeo Natriurético (BNP ou NT-proBNP) elevado;
Evidência de congestão pulmonar cardiogênica.
Ficou dúvida (o BNP é baixo ou a congestão não é tão óbvia)? É hora de usar os escores H2FPEF e HFA-PEFF.
Lembre de pesquisar por causas cardíacas que podem mimetizar uma IC FEP, mas têm tratamento direcionado, como amiloidose, doença de Fabry, cardiomiopatia hipertrófica, valvopatias.
Olha eles! Para o tratamento, conforme esperado, as grande estrelas são os inibidores da SGLT2: devem ser iniciados em todos os pacientes com IC FEP, salvo contraindicações específicas.
Como opções, principalmente em mulheres, entram os antagonistas mineralocorticoides e o inibidor da neprisilina (sacubitril-valsartana).
Não esquecer dos diuréticos no contexto de congestão!
Vale demais a leitura!
(E, quem sabe, uma DozeNews Prime sobre o tema? 😏)
Pra que tanta pressa?
Ensaio Clínico Randomizado
Segunda-feira e já acordamos com pressa para resolver tudo!
Será que quando o assunto é Fibrilação Atrial (FA), a brevidade para ablação pode resultar em melhores resultados?
É o que investigou o novo estudo publicado no EHJ desta semana!
Vamos entendê-lo:
Foram randomizados 100 pacientes com diagnóstico de FA (estudo pequeno, mas honesto rs) para: ablação precoce (dentro de 30 dias) ou ablação tardia (após a otimização medicamentosa e 12 meses da randomização);
O desfecho primário foi estar livre de arritmias atriais, em um seguimento de 1 ano após a ablação.
Resultados:
Não houve diferença entre os grupos para o desfecho primário.
Também não houve diferença quanto aos desfechos secundários: carga de FA; ocorrência de FA persistente ou paroxística; e uso drogas antiarrítmicas.
Ou seja, parece que podemos ter tranquilidade para indicar a ablação da FA. A realização em até 12 meses não modificou qualquer desfecho em relação à ablação precoce (1 mês).
Esse estudo está longe de ser uma resposta definitiva, mas acrescenta calma à prática do cardiologista clínico.
Psicoterapia na redução de doenças cardiovasculares
Coorte
Cada vez mais os fatores psicossociais têm sido associados de forma independente à ocorrência de doenças cardiovasculares (DCV).
Quem está ligado no assunto vai lembrar que estes fatores só tiveram peso menor que o da dislipidemia e do tabagismo para a ocorrência de um primeiro IAM no estudo INTERHEART!
Quando se fala especificamente de depressão, pacientes com este diagnóstico estão sob risco até 72% maior de desenvolver DCV ao longo da vida!
Será que a psicoterapia pode estar associada à redução do risco cardiovascular? Parece que sim!
Uma grande coorte britânica com 636.955 indivíduos avaliou a associação entre melhora confiável da depressão e o risco de incidência subsequente de eventos cardiovasculares. Vamos aos resultados:
Após um acompanhamento médio de 3,1 anos, a melhora confiável dos sintomas de depressão foi associada a um menor risco de 4 diferentes desfechos:
Novo aparecimento de qualquer DCV (HR 0,88 - IC95%: 0,86 - 0,89)
Doença cardíaca coronariana (HR 0,89 - IC95%: 0,86 - 0,92)
AVC (HR: 0,88 - IC95%: 0,83 - 0,94)
Mortalidade por todas as causas (HR 0,81 - IC95%: 0,78 - 0,84).
Sabemos que se trata de um estudo observacional, com necessidade de mais pesquisas para entender a causalidade dessas associações.
Mas, já é um bom começo, sobretudo quando lembramos que estudos clínicos randomizados em geral reproduzem os resultados de grandes estudos observacionais bem desenhados! Confira a bela figura resumo abaixo:
45 problemas
Caiu na Mídia
Esse é o número de complicações que o consumo excessivo de açúcar pode causar, segundo matéria veiculada pela CNN Brasil.
Baseou-se em uma revisão sistemática publicada pelo BMJ no início do mês, que incluiu mais de 8000 estudos.
Não se assuste com o número rs. A análise utilizou uma metodologia denominada Umbrella Review, na qual são incluídas grande revisões sistemáticas e metanálises sobre o tema.
Os 45 problemas que estiveram associados ao consumo exagerado de açúcares incluíam: alterações endócrino-metabólicas (como dislipidemia, aumento do IMC, diabetes); cardiovasculares (doença coronária, IC, HAS), neoplasias (de mama, hepatocarcinomas, prostáticas), além de outras complicações como erosões dentárias, asma e déficit de atenção.
Com esse mundo de achados, os autores, juntamente com a OMS, passaram a orientar o limite de consumo diário de açúcar de 25 g/dia (mais ou menos 6 colheres de chá) e o consumo de bebidas açucaradas de 200-355 ml/semana.
Entendeu né? Nada de colocar açúcar em todos os cafézinhos do dia; e limite o refrigerante a 1 lata/semana!
Imagem da Semana
Promessa é dívida!
Lembra da pericardite constritiva da semana passada? Essas são as curvas da avaliação hemodinâmica por meio do cateterismo. Nota-se o típico sinal da raiz quadrada: queda rápida da pressão na protodiástole com posterior platô; além da equalização das pressões de VD e VE.
Fique por dentro
🕳️ Fístula esofágica após ablação de FA: o POTTER-AF study analisa sua incidência e tratamento!
⛓️ Estudo BIOMAG-I apresenta no The Lancet os resultados promissores de 6 meses após implante do stent DREAMS 3G (3ª geração dos stents bioabsorvíveis de magnésio).
🚰 O manejo da volemia em paciente com insuficiência da valva tricúspide é sempre desafiador. Essa série de casos do JACC traz boas reflexões sobre o tema.
💊 Estudo PAPERS falhou em demonstrar benefício do uso da colchicina para profilaxia de pericardite em pacientes pós-ablação de FA.
🦀 Adultos com diagnóstico de doença aterosclerótica demonstraram ter 12% mais risco de desenvolver neoplasias, segundo esse estudo publicado no JACC CardioOncology.
🫁 Foi publicado no NEJM o artigo com resultados do estudo STELLAR, apresentado no ACC 23 (já comentamos por aqui e no DozeCast): benefício do sotatercept na melhora de capacidade funcional na hipertensão pulmonar.