Na edição de hoje:
🦸🏽♂️ Prevenção personalizada: estudo no JAMA mostrou que usar escore de cálcio (CAC) para guiar o tratamento pode ser muito eficiente.
👑 A Guerra dos Tronos na função cardíaca – Strain miocárdico está pronto para destronar a fração de ejeção? Veja a nova revisão do JACC!
🏥 Angioplastia x Tratamento Clínico – Pacientes do REVIVED-BCIS tiveram melhores desfechos só com terapia medicamentosa? Chama o VAR! ⚽
🍷 Ozempic contra alcoolismo? – Novo estudo no JAMA Psychiatry sugere que a semaglutida pode reduzir o consumo de álcool!
Prevenção personalizada: chegou a hora?
Ensaio Clínico Randomizado (JAMA)
O modelo tradicional de estratificação de risco e prevenção cardiovascular pode estar com os dias contados.
Um novo estudo publicado no JAMA traz evidências de que guiar o tratamento com base na detecção de aterosclerose subclínica (e não apenas em escores de risco) pode fazer toda a diferença.
O estudo CAUGHT-CAD avaliou 449 indivíduos assintomáticos, sem diabetes ou dislipidemia severa, mas com histórico familiar de DAC precoce. Todos fizeram escore de cálcio coronariano (CAC) e, aqueles com CAC > 0 foram randomizados para:
Grupo intervenção: receberam informação sobre o CAC, passaram por uma sessão educacional e iniciaram atorvastatina 40 mg.
Grupo controle: receberam apenas orientações gerais de prevenção cardiovascular.
O desfecho primário foi a mudança na carga total de placa aterosclerótica na angiotomografia coronária (angioTC) após 3 anos de seguimento.
Os principais resultados foram:
LDL reduziu em 51 mg/dL no grupo CAC, vs apenas 2 mg/dL no controle.
Menor progressão de placa no grupo intervenção!
Total: 15.4 mm³ vs 24.9 mm³
Placa não calcificada: 5.6 mm³ vs 15.7 mm³
Placa de alto risco (fibrofatty/necrose): redução de 0.8 mm³ vs aumento de 4.5 mm³.
O estudo mostrou que usar o CAC como estratificação de risco e critério para iniciar estatina foi eficaz em reduzir lipídios e a progressão da aterosclerose, especialmente para aqueles com CAC >100.
Isso desafia o modelo baseado apenas em escores de risco – que muitas vezes deixa escapar indivíduos com doença subclínica significativa.
Mas calma lá…
O estudo não avaliou desfechos clínicos, apenas progressão de placa.
O benefício pareceu maior para quem tinha CAC >100, ou seja, pode não se aplicar a todos.
Como fica a relação custo-benefício? O uso rotineiro do CAC ainda é debatido devido à cobertura limitada pelos sistemas de saúde.
Assim, o estudo mostra um caminho: a prevenção primária baseada na presença de doença subclínica pode ser muito mais eficiente no controle da progressão de placa que apenas a estratificação de risco.
No entanto, precisamos de mais dados sobre desfechos clínicos antes de mudar diretrizes.
📝 Temos uma interessante DozeNews Prime na qual discutimos a investigação de DAC em assintomáticos. Não deixe de conferir!
A Guerra dos Tronos na avaliação da função cardíaca
Artigo de Revisão (JACC)
A gente sabe que a fração de ejeção (FE) ainda reina absoluta no coração dos cardiologistas. Mas será que o strain miocárdico está prestes a roubar a coroa?
O artigo de Smiseth et al. (2025), recém-publicado no JACC: Cardiovascular Imaging, traz uma revisão de peso sobre o tema e destaca como essa tecnologia está revolucionando a prática clínica.
🤔 O que é strain e por que você deveria se importar?
O conceito de strain vem da mecânica dos materiais e, no coração, se traduz na capacidade do miocárdio de se deformar durante o ciclo cardíaco.
Diferente da FE, que olha só para o volume bombeado, o strain permite avaliar a contração longitudinal, circunferencial e radial do ventrículo esquerdo (VE), além de fornecer informações sobre o ventrículo direito (VD) e o átrio esquerdo (AE).
O strain longitudinal global (GLS) do VE, medido pelo speckle tracking no eco, já está consolidado como um marcador precoce de disfunção sistólica. Em diversas condições (insuficiência cardíaca com FE preservada (ICFEp), cardiotoxicidade por quimioterapia e valvopatias) o GLS consegue identificar alterações antes mesmo da FE cair. Ou seja, aquele paciente com FE de 55% e strain alterado pode estar escondendo uma bomba-relógio.
📝 Aplicações práticas na cardiologia:
ICFEp: identificar disfunção subclínica antes da progressão da insuficiência cardíaca.
Quimioterapia e cardiotoxicidade: monitoramento precoce para evitar surpresas desagradáveis.
Cardiomiopatias específicas: mapas segmentares de strain podem sugerir amiloidose, Chagas, ou miocardite.
Disfunção do VD e átrio esquerdo: o strain do VD está crescendo como ferramenta para avaliar hipertensão pulmonar e IC direita, enquanto o strain do AE pode ser um marcador valioso para disfunção diastólica e risco de FA.
⏳ E no futuro?
Os autores apontam que novas técnicas baseadas em ressonância magnética (RMC) estão ganhando espaço e devem complementar o eco. O Feature Tracking CMR já está sendo usado para calcular strain sem a necessidade de imagens especiais, ampliando as possibilidades de avaliação.
Além disso, o futuro promete uma maior integração entre strain e inteligência artificial para automatizar medições e aumentar a reprodutibilidade, reduzindo variabilidade entre operadores.
🗣️ Olha a dica!
Se esse tema te instigou e você quer se aprofundar mais, não para por aqui!
Na edição da DozeNews Prime, destrinchamos os detalhes do strain miocárdico, suas aplicações práticas e as novas tecnologias que estão mudando o jogo.
E para deixar o assunto ainda mais dinâmico, temos um episódio do DozeCast com convidados que realmente entendem do assunto.
Tratamento Clínico 1 x 0 Revascularização – Chama o VAR!
Metanálise
Alguns podem chamar de chororô de intervencionista, mas a verdade é que cutucaram fundo para entender por que a angioplastia não trouxe benefício prognóstico no estudo REVIVED-BCIS, ao contrário da cirurgia de revascularização no STICHES.
A hipótese é que o peso da revascularização pode ter diminuído porque o tratamento clínico evoluiu significativamente – e esse, sim, segue sendo a pedra fundamental no manejo da miocardiopatia isquêmica.
Mas essa história de melhora do tratamento clínico tem dados para sustentar ou é só discurso? Bom, um novo estudo foi buscar a resposta!
Foi feita uma metanálise individual dos estudos STICHES e REVIVED-BCIS com o objetivo de comparar os desfechos de pacientes tratados clinicamente em ambos os estudos.
O desfecho primário avaliado foi morte por todas as causas e hospitalizações por IC.
Vamos aos resultados:
Foram incluídos 1.912 pacientes – 88% homens, 12% mulheres;
O tempo de seguimento médio foi de 112 meses no STICH vs. 41 meses no REVIVED-BCIS;
HR para desfecho primário: 0,60 (IC 95% 0,48–0,74, P < 0,001) = benefício para o tratamento clínico no REVIVED-BCIS
📝 Em resumo:
Pacientes tratados clinicamente no REVIVED-BCIS tiveram melhores desfechos do que aqueles do STICHES, reforçando o que os clínicos já percebem na prática: o prognóstico da miocardiopatia isquêmica melhorou com a evolução do tratamento clínico otimizado.
Ou seja, não é charlatanismo, é ciência!
Agonistas da GLP1: mil e uma utilidades
Caiu na Mídia
Encontramos o nosso Bombril da clínica médica?
Foi publicado no NBC News um novo estudo que sugere o uso da semaglutida, para reduzir o consumo de álcool.
A matéria baseou-se em um estudo do JAMA Psychiatry no qual foram incluídos 48 indivíduos com transtorno por uso de álcool moderadamente grave, randomizados para o uso da semaglutida semanal por nove semanas.
Antes e depois do período de tratamento, os participantes foram convidados a consumir suas bebidas alcoólicas favoritas em um ambiente controlado por duas horas.
Quais os resultados?
Redução no consumo de álcool: O grupo que recebeu semaglutida reduziu em 40% o consumo de álcool em comparação ao início do estudo, enquanto o grupo placebo não apresentou mudança significativa.
Diminuição do desejo por álcool: Os participantes tratados com semaglutida relataram uma redução significativa no desejo semanal de beber álcool.
O Ozempic, já famoso por auxiliar no controle do diabetes e na perda de peso, pode se tornar uma arma poderosa também contra o alcoolismo.
Ainda há a necessidade de estudos maiores e mais longos para confirmar a eficácia e segurança da semaglutida no tratamento de transtornos por uso de álcool.
Fique por dentro
📜 Estado da arte publicado no JACC discute a TAVR além da EAo grave sintomática. O procedimento já se estende para valva bicúspide, anel pequeno, EAo de baixo fluxo/gradiente e pacientes mais jovens. Estudos avaliam TAVR precoce na EAo moderada e assintomática, enquanto valve-in-valve mostra bons resultados a médio prazo.
🖐🏼 TAVR na estenose aórtica moderada e IC com FE reduzida: benefício clínico incerto! O TAVR UNLOAD (apresentado no TCT 2024) não mostrou superioridade sobre o tratamento clínico para o desfecho primário em pacientes com IC e EAo moderada (WR 1.31; P=0.14). Melhora na qualidade de vida foi o principal ganho (P=0.018). Seguro, mas ainda sem mudança de diretriz!
🔥 Calor extremo e DAC: impacto crescente na Ásia! Em 2021, 88.450 mortes por DAC foram atribuídas a altas temperaturas, com aumento anual de 1,63% na mortalidade desde 1990. Sul da Ásia foi a região mais afetada, e homens e idosos são os mais vulneráveis. Mudança climática já pesa no coração!
💊 Empagliflozina e hipertensão resistente na IC com fração de ejeção preservada: impacto real? No estudo EMPEROR-Preserved, a hipertensão resistente foi associada a piores desfechos em IC com fração de ejeção preservada, e a empagliflozina reduziu discretamente a PA sem modificar significativamente os desfechos cardiovasculares e renais.