Os riscos da obesidade
Coorte (JACC: Cardiovascular Imaging)
Obesidade é um importante fator de risco cardiovascular, disso não há dúvidas.
Infelizmente, a estigmatização da sociedade sobre os pacientes obesos, com pensamentos como “a culpa é sua” ou “é obeso porque é preguiçoso” atrapalham a visão dessa condição como uma doença e o seu devido tratamento.
Utilizando-se de uma interessante definição, a de obeso metabolicamente saudável, ou seja, aquele sem diabetes ou doença cardiovascular, uma coorte publicada no JACC: Cardiovascular Imaging procurou entender se nessa população, a obesidade, isoladamente, já é responsável por alterações cardíacas subclínicas.
Foram 120 pacientes incluídos no estudo e avaliados por meio da ressonância magnética cardíaca (RMC):
32 obesos, sem outras alterações metabólicas;
56 obesos com alterações metabólicas;
32 controles saudáveis.
Observaram que os pacientes obesos, mesmo os “metabolicamente saudáveis” apresentavam mais alterações cardíacas, incluindo aumento dos volumes ventriculares, mais alterações nos mapas T1 (sugestivo de fibrose intersticial) e T2 (edema miocárdico) e maior comprometimento do strain longitudinal.
Esses achados demonstram que pacientes obesos, mesmo que sem outras alterações metabólicas, já apresentam alterações estruturais cardíacas.
Assim, além de retirar a ideia de culpabilidade do paciente sobre a obesidade, precisamos entender essa como uma condição com consequências cardiovasculares e que necessita de tratamento direcionado.
Globo Repórter da Doze: os inibidores da miosina cardíaca
Artigo de Revisão (JACC: Heart Failure)
No episódio de hoje, os inibidores de miosina cardíaca: quem são, pra quem prescrevo e qual o seu futuro?
Foi publicado no JACC: Heart Failure um artigo estilo "Globo Repórter" para nos atualizar sobre essa classe terapêutica promissora na cardiomiopatia hipertrófica (CMH).
Como nossos Dozers gostam do que interessa, vamos direto ao ponto:
Os inibidores cardíacos de miosina (CMIs), cujo melhor exemplo é o mavacamten, são uma nova classe de drogas que, em recentes ensaios clínicos randomizados, demonstrou diminuir a obstrução da via de saída do VE, melhorar a capacidade de exercício e melhorar sintomas em pacientes com CMH obstrutiva.
A medicação não é "pra quem quer", e sim "pra quem pode". Isso quer dizer que devemos respeitar um fluxograma que priorize o tratamento inicial com betabloqueador cardiosseletivo ou bloqueador de canal de cálcio. Na intolerância aos mesmos ou diante de resultados insatisfatórios, os CMIs surgem como terapia adjuvante.
A decisão pelo uso de CMIs deve ser feita estudando as particularidades de cada caso, reforçando a escolha desta terapia sobretudo diante da recusa do paciente à redução septal, risco cirúrgico elevado ou anatomia desfavorável para o procedimento.
Se liga na imagem resumo do artigo que oferece um racional para abordagem da CMH!
Terapia medicamentosa ideal no paciente com DM2 e DRC
Artigo de Revisão (JACC)
Quem não gosta daquele resuminho perfeito para o atendimento ambulatorial?
A DozeNewsPrime já faz isso toda semana… Agora foi a vez do JACC fazer sua parte (com clara evidência de plágio da Prime rs) e ficou muito bom!
O tema da vez foi o risco cardiovascular nos pacientes com DM2 e doença renal crônica (DRC).
O objetivo da revisão foi trazer à tona as inúmeras opções de tratamento e classes medicamentosas nos pacientes com DM2 e DRC, discutindo as principais evidências que reforçam o seu benefício.
Ou seja, importantíssimo para os pacientes, e uma mão na roda para o médico desatualizado que não pode deixar de prescrevê-las.
Em metanálises, a redução de MACE com o uso destas medicações varia de 11 a 27%! É absolutamente sólida a evidência a favor destas medicações.
Portanto, aí vão algumas dicas valiosas e a forma de prescrever essas medicações no dia a dia:
Inibidores do sistema renina-angiotensina-aldosterona:
BRA (losartana e candesartana): sem necessidade de ajuste de dose nos pacientes com DRC.
IECA (lisinopril e ramipril): dose deve ser ajustada nos pacientes com DRC estágio V.
Inibidores SGLT2 (dapagliflozina): contraindicado em DRC estágio V.
Antagonistas de receptores mineralocorticoides:
Esteroidais (espironolactona e eplerenone): contraindicado ou não recomendado nos DRC estágios IV e V.
Não esteroidais (finerenone): não recomendado nos DRC estágios IV e V.
Análogos de GLP-1 (liraglutida e dulaglutida): não há necessidade de ajuste de dose.
Não deixe de conferir o artigo. Renderá vários prints para consultas futuras.
TAVI sem contraste?
Caiu na Mídia
O paciente que mais se beneficia do implante percutâneo da valva aórtica (TAVI) é o idoso com estenose aórtica (EAo) importante, na grande maioria de etiologia calcífica.
Muitas vezes, o grande problema que acompanha esse grupo de pacientes, e inclusive pode causar contraindicação ao procedimento, é a doença renal crônica.
A mídia internacional publicou, recentemente, uma possível solução a esse impasse, de um projeto em realização no Brasil:
Um grupo de pesquisadores do Instituto do Coração (InCor) está conduzindo um trabalho piloto no qual avaliam a factibilidade e segurança de uma técnica zero contraste no planejamento e execução do TAVI em pacientes com DRC.
Nesse primeiro estudo foram incluídos 25 pacientes submetidos a:
Tomografia computadorizada (TC) sem contraste e angiografia com CO2 para avaliação dos acessos femorais.
TC + ressonância magnética + ecocardiograma transesofágico (ECO TE) para avaliação do complexo valvar e planejamento do tamanho da prótese.
Fluoroscopia + ECO TE para a realização do procedimento e implante da prótese auto-expansível Evolut (Medtronic®).
Esse estudo piloto ainda apresentou alguns momentos de uso de contraste (safety checkpoints) como TC com contraste e aortografia para checar a segurança dos acessos e tamanho da prótese, e para confirmação da posição da prótese, respectivamente.
Ao fim, houve sucesso no implante da prótese e segurança nos primeiros 30 dias de seguimento em 92% dos casos.
Estamos ansiosos pela próxima fase, que já está em execução, na qual serão 50 pacientes e não terá nenhum tipo de contraste, nem no planejamento, nem na TAVI.
Imagem da Semana
Para quem acompanhou, na semana passada, a Imagem da Semana com um caso clássico de amiloidose pelo ecocardiograma, aí vai uma bela imagem em cine na ressonância magnética cardíaca.
Observe alguns achados que sugerem a doença amiloide cardíaca: a hipertrofia miocárdica biventricular, aumento da espessura até do septo interatrial, discreto derrame pericárdico e um déficit do relaxamento ventricular.
Fique por dentro
🦠 Um cuidado a mais: revisão do JACC sobre a dislipidemia em pacientes com HIV.
🥑 Dieta e mortalidade CV no EHJ: frutas, legumes , peixes, vegetais, grãos e pouca gordura!
🗝️ Diagnóstico e tratamento precoce: as chaves no tratamento da Amiloidose em revisão do Circulation.
💗 MANIFEST-PF registry: segurança e eficiência da ablação campo-pulsada.
🧪 Troponina ultrassensível em crianças e adolescentes: devemos dar preferência para ensaios mais precisos.
🤖 Editorial do JAMA sobre o uso da inteligência artificial no diagnóstico clínico.