Tempestade elétrica na emergência
Controle intensivo de PA em pacientes internados? Como guiar o tratamento antilipemiante?
É choque que você quer?
Artigo de Revisão
A tempestada elétrica é aquele tipo de complicação rara, mas que pode acabar com o seu plantão.
Assim, é preciso estar preparado para reconhecê-la e tratá-la.
O JACC publicou um interessante estado-da-arte sobre o manejo multidisciplinar das tempestades elétricas.
Vamos destacar os pontos essenciais:
Primeiro, a definição: ≥ 3 episódios de taquicardias ventriculares (TV) (incluindo choques apropriados do CDI) com intervalo de pelo menos 5 minutos, dentro de 24h.
Fisiopatologia:
A ocorrência de uma tempestade elétrica exige a presença de um substrato arrítmico associado a um gatilho pró-arrítmico.
Esse substrato normalmente é uma cardiopatia estrutural ou uma canulopatia.
Já os gatilhos incluem isquemia, medicações e estimulação beta-agonista.
Manejo imediato:
Como uma grande parte dos pacientes em tempestade elétrica tem um CDI, o primeiro passo é interrogar o dispositivo (avaliar se os choques estão sendo apropriados e ajuste de parâmetros para cessar a TV).
O posicionamento de um íma sobre o CDI faz com que ele interrompa os choques, sem suspender a sua função do marca-passo.
Lembre-se! Mantenha as pás de desfibrilador prontas durante toda a avaliação do paciente (independentemente de ter ou não um CDI!).
O tratamento medicamentoso:
Anti-arrítmicos:
Amiodarona é preferência nas cardiopatias estruturais;
Sotalol pode ser uma opção em situações com QT de base normal e ausência de distúrbios hidroeletrolíticos ou disfunção renal;
Lidocaína normalmente é utilizada como segunda droga naqueles em uso da amiodarona sem melhora.
Bloqueio adrenérgico: a associação de beta-bloqueadores é importante para prevenir a recorrência das TVs.
Sedação adequada no contexto da cardioversão e dos choques do CDI é essencial para reduzir o estímulo adrenérgico.
Qual o papel da ablação:
Tem indicação classe I para pacientes com cardiopatia isquêmica (IIa se não-isquêmica) e tempestade elétrica com falha ou intolerância ao tratamento medicamentoso.
Se controle com medicações, a ablação durante a internação hospitalar é recomendada nos pacientes com cardiopatia estrutural e causa não reversível.
A figura abaixo é daquelas para deixar salva e ter sempre à mão, pois resume muito bem o manejo das tempestades elétricas:
A montanha-russa do controle de PA em idosos
Coorte Retrospectiva
Queridos Dozers, segurem seus estetos! Vamos responder uma dúvida comum dentro de qualquer enfermaria:
Vale a pena fazer um controle intensivo da pressão arterial (PA) em pacientes idosos internados?
Em uma grande coorte publicada no JAMA: Internal Medicine, foram analisados dados de 66.140 pacientes idosos hospitalizados na Veterans Health Administration de 2015 a 2017.
Desses, 21,3% receberam o bilhete dourado para a montanha-russa da PA: tratamento intensivo logo nas primeiras 48 horas de hospitalização, com o recebimento de anti-hipertensivos intravenosos ou classes orais não utilizadas antes da admissão.
E olha, a aventura não parou por aí: eles seguiram recebendo uma dose ainda maior de medicamentos anti-hipertensivos durante toda a estadia no hospital.
O resultado dessa aventura foi: aumento do desfecho primário composto por morte intra-hospitalar, transferência para unidade de terapia intensiva, AVC, lesão renal aguda, elevação de BNP e troponina (OR 1,28; 95%CI, 1,18-1,39).
E esses achados tiveram 2 detalhes importantes:
O uso de anti-hipertensivos intravenosos esteve associado a desfechos ainda piores.
Os resultados mantiveram-se mesmo na análise de subgrupos por idade, fragilidade, controle da PA prévio e história de doença cardiovascular.
O veredito final dos nossos audaciosos pesquisadores? Em idosos hospitalizados com PA elevada, um tratamento anti-hipertensivo intensivo pode ser como um looping invertido na montanha-russa: mais assustador do que emocionante.
Assim, é dado o sinal de alerta para a necessidade de ensaios clínicos randomizados para estabelecer metas adequadas de tratamento da PA para pacientes hospitalizados sem lesão de órgão alvo.
O recado que fica: precisamos ter cautela ao embarcar nossos pacientes idosos nessa montanha-russa de tratamento da PA.
Briga de irmãos para o bem comum
Artigo de revisão
O European Heart Journal trouxe à tona um importante debate para os cardiologistas, cujo fruto deve beneficiar os pacientes: como guiar o tratamento antilipemiante - por exames de imagem ou por biomarcadores?
As principais diretrizes trazem os escores de risco global como as principais ferramentas para a indicação do uso de estatinas e outros antilipemiantes.
Nos pacientes de alto risco a indicação de tratamento é simples, a dúvida surge naqueles com risco baixo a moderado.
Nesses casos, temos 2 tipos de investigação para tentar reestratificar o risco e melhor definir a estratégia de tratamento:
Exames de imagem: escore de cálcio, carga de placa, fibroateroma de placa fina e grande centro lipídico.
Marcadores laboratoriais: proteína C reativa (PCR), troponina, lipoproteína(a) e apolipoproteína(B).
A partir dos múltiplos estudos de cada uma dessas metodologias, a revisão europeia nos trouxe interessantes conclusões:
Pacientes que apresentam algum desses achados de risco (seja laboratorial ou anatômico) apresentam maior benefício com o tratamento.
Nos pacientes sintomáticos, a avaliação anatômica ajudou a reduzir desfechos de forma significativa no estudo SCOT-HEART. Já nos assintomáticos, essa melhora ainda não está bem estabelecida (aguardamos o SCOT-HEART 2).
Marcadores laboratoriais são mais baratos e representam melhor a doença aterosclerótica sistêmica e os marcadores anatômicos são mais específicos para DAC.
Redimensionar o risco do seu paciente parece não ser tão difícil nos dias de hoje, mas qual artifício usar e como sustentá-lo é a questão!
Riscos dos anabolizantes
Caiu na Mídia
O jornal O Globo publicou uma matéria sobre um jovem norte-americano que tem relatado nas redes sociais os seus problemas após o uso de esteroides anabolizantes com o objetivo de ganho de massa muscular: espinhas hormonais, queda de cabelo, aumento da oleosidade, surgimento de estrias.
Ahhh se fosse só isso…
Infelizmente, a notícia foca somente nos problemas estéticos do uso dos anabolizantes.
É importante lembrarmos dos malefícios cardiovasculares do uso excessivo dessas substâncias de forma indiscriminada, que incluem aumento da pressão arterial, hipertrofia ventricular e do risco de eventos futuros.
Especialmente após a proibição do CFM da prescrição de medidas hormonais para fins exclusivamente estéticos, esse tipo de notícia deixa claro o distanciamento da população do conhecimento dos reais riscos à saúde sobre o uso dos anabolizantes.
É nosso papel entender e orientar melhor os nossos pacientes!
Discutimos esse tema no último episódio do DozeCast, com a participação especial do Dr Sílvio Póvoa.
Imagem da Semana
Para assumir o primeiro lugar da série “A vida por um fio”, olha essa lesão proximal de tronco de coronária esquerda, associada à uma descendente anterior derradeira!
Fique por dentro
⚡ IA auxilia a prever PCR em FV refratária a desfibrilação em PCRs extra-hospitalares!
🩵 Quantos ladrões tem um coração? Artigo discute os agentes responsáveis pelo roubo de fluxo coronariano… Ahhh o amor….
🥕 Veggies or meat? Mais uma meta-análise associa ingestão de carne vermelha com DCV e DM.
🍝 Tilt-test a bolonhesa: italianos propõem teste mais rápido, menos desconfortável e com mesma acurácia.
⛳ Fechamento de forame oval patente não foi relacionado ao surgimento de FA a longo prazo.
🔪 Não houve diferença no desfecho de pacientes com SCA tratados com revascularização percutânea ou cirúrgica, em metanálise de 4 grandes estudos.
♨️ FUJA DE SP! Poluição do ar pode influenciar negativamente a cicatrização do endotélio coronariano.
💊 iSGLT2 ou Sitagliptina: mais um voto a favor dos iSGLT2 em estudo observacional.