Um novo olhar para a DAC estável
E mais: guerra contra infarto peri-procedimento, nova droga para o tratamento de HAR e nova recomendação canadense para consumo de álcool.
Revendo os paradigmas da DAC estável
Artigo de Revisão
Os últimos anos foram marcados por mudanças na nossa forma de ver e lidar com doença artéria coronária (DAC) estável.
O estudo ISCHEMIA nos ensinou que investigar e tratar a DAC vai muito além do simples “tem isquemia moderada-grave = revascularização”.
Por essas mudanças, o JACC lançou uma bela revisão com os principais pontos no diagnóstico e manejo da DAC.
E, para rever esses paradigmas, o artigo trouxe 3 pontos principais:
Angina pode ser consequência de DAC obstrutiva ou de causas não-obstrutivas. Ou seja, não podemos esquecer da isquemia microvascular e do vasoespasmo.
E pasme: a maioria dos pacientes com angina não tem placa obstrutiva.
Dessa forma, se você inicia a investigação do seu paciente com um teste anatômico (angio-TC ou CATE) e não encontra lesões obstrutivas, deve complementar a investigação com testes funcionais, pensando nessas outras etiologias.
Em resumo: a DAC estável vai muito além da DAC obstrutiva.
A angina precisa ser investigada para outras causas de isquemia; e lesões ateroscleróticas com estenose < 50% também exigem cuidado e otimização medicamentosa.
A guerra contra o infarto peri-procedimento
Coorte
A guerra está aí, mas faltam armas e recursos para finalizá-la. Apesar de meses de guerra, ela está apenas começando…
Não, não estamos falando da guerra na Ucrânia.
E sim da luta dos cardiologistas contra injúria/infarto do miocárdio periprocedimento (IMP).
Esse foi o tema do estudo multicêntrico publicado no EHJ, com resultados alarmantes.
O estudo:
Prospectivo e multicêntrico (inclusive com a participação do Incor-FMUSP 🇧🇷)
População: 7754 pacientes submetidos a cirurgia não-cardíaca.
IMP foi definido como elevação da troponina do pré para o pós-operatório, superando o limite superior da normalidade.
O desfecho primário foi composto por morte cardiovascular, IAM não-fatal, arritmias complexas e IC no seguimento de 1 ano.
Resultados:
1016 (13,1%) pacientes apresentaram IMP, sendo que todas as etiologias de IMP estiveram associadas a importante aumento de MACE.
Infarto tipo 1, IC aguda e taquiarritmias foram associadas a pior prognóstico.
Na imagem abaixo, observe a grande incidência de eventos na última fileira do fluxograma. Ele destaca MACE (❤️) e mortalidade (👣), em porcentagens.
Esses números bombásticos nos levam a algumas conclusões:
O infarto perioperatório não é apenas um marcador de gravidade, mas sim um evento agudo com implicações nefastas.
É importante a caracterização da etiologia do IMP: tanto para condução individualizada quanto para definição prognóstica.
Necessitamos de armas mais eficazes no tratamento dessa complicação.
Gostaríamos de parabenizar o Prof. Dr. Bruno Caramelli e seu grupo do Incor-FMUSP que participou desta importante publicação.
E por falar em guerra…
Estudo Clínico Fase 2
Surge um novo guerreiro para combater a hipertensão arterial resistente.
O Baxdrostat, um inibidor seletivo da aldosterona sintase, demonstrou belos resultados em uma pesquisa de fase 2, publicada no NEJM, e vem forte para vencer a batalha da fase 3.
Lembrando: pesquisa de fase 2 tem o objetivo de estabelecer tanto a segurança a curto prazo quanto a dose-resposta e a eficácia do produto.
Vamos ao resumo:
População: 248 pacientes com hipertensão resistente, com PA ≥ 130/80 mmHg e em uso de ≥ 3 agentes anti-hipertensivos, incluindo um diurético.
Intervenção: Baxdrostat (0,5 mg, 1 mg ou 2 mg) 1x/dia.
Controle: placebo 1x/dia.
Desfechos: alteração na PAS em cada grupo.
Tempo de seguimento: 12 semanas.
No fim, a medicação se mostrou eficaz: a diferença na mudança na PAS entre o grupo de 2 mg e o grupo placebo foi de -11,0 mm Hg (IC 95%, -16,4 a -5,5; p <0,001); e entre o grupo de 1 mg e o placebo foi de -8,1 mm Hg (IC 95%, -13,5 a -2,8; p=0,003).
Quer saber mais sobre o estudo? Acesse o vídeo resumo do artigo neste link!
Mensagem aos cachaceiros
Caiu na Mídia
Os canadenses querem reduzir o consumo de álcool.
Artigo pubicado no MedScape, essa semana, trouxe a atualização do Canadian Centre on Substance Use and Addiction (CCSA) nas recomendações do consumo de álcool no país.
Eles sugerem que o consumo de > 2 doses de álcool por semana está associado a aumento do risco de câncer, cardiopatias e AVC.
Sobrou até para as mulheres: reforçam que nenhuma dose é segura para gestantes e àquelas que estão tentando engravidar.
O fato é: apesar do recado mais alarmante, os dados são pouca novidade. O consumo leve de álcool não está associado a malefício, mas precisamos orientar nossos pacientes quantos aos limites.
Imagem da Semana
![](https://substackcdn.com/image/fetch/w_1456,c_limit,f_auto,q_auto:good,fl_lossy/https%3A%2F%2Fsubstack-post-media.s3.amazonaws.com%2Fpublic%2Fimages%2Fbcf0d910-2a53-4352-8f8b-5232e74792b8_1280x1280.gif)
Imagem ilustrativa de uma Ressonância Magnética Cardíaca de paciente com Cardiomiopatia Hipertrófica com obstrução da via de saída (turbilhonamento do fluxo na saída pela aorta). Note, ainda, o movimento sistólico anterior (SAM) da valva mitral (seta amarela), que é “puxada” em direção ao septo espessado.
Fique por dentro
🫄 Finalmente a cardiologia parece estar prestando atenção na obesidade! Seguindo a linha episódio #68 do DozeCast sobre esse tema, o JACC lançou um belo estado-da-arte sobre as dificuldades no tratamento dessa patologia.
💨 É só acelerar? Estudo publicado no JAMA Cardiology demonstrou melhora de sintomas em pacientes com IC FEP com marca-passo definitivo, nos quais foi optado por aumentar o pacing do dispositivo.
🧪 “Early rule-out pathway” para IAM na vida real: artigo do Circulation sugerindo como utilizar a variação da troponina.
✍️ Revisão da ESC de FA pós operatória.
🔕 Paciente teve uma PCR extra-hospitalar e está instável, deve ter uma lesão coronária oclusiva, não é? Estudo publicado no JACC demonstrou que não é bem assim.
🧪 Uso de troponina point-of-care na avaliação pré-hospitalar de pacientes com dor torácica pode auxiliar na redução de custos.