Vale a pena rastrear valva aórtica bicúspide?
Ablação de FA em pacientes com IC FEP; cirurgia de revascularização foi melhor que o tratamento percutâneo no registro sueco.
Casos de família: valva aórtica bicúspide
Metanálise
Quem herda não furta.
Esse antigo ditado encaixa-se muito bem para a valva aórtica bicúspide (VAB), a cardiopatia congênita mais comum, e um verdadeiro “caso de família”: está associada a diversas condições genéticas e vem acompanhada do alto risco de complicações a longo prazo, como estenose aórtica, endocardite e dilatação aórtica.
Sabemos que os ecocardiografistas reviram os olhos quando chamamos as válvulas de folhetos ou quando nos referimos às valvas semilunares como possuidoras de cúspides (ao invés de válvulas)! Mas isso é assunto pra mesa de bar! rsrs
Por aqui, vamos manter os termos valva aórtica bicúspide e tricúspide, com os quais a grande maioria está habituada.
Dessa forma, uma metanálise publicada no EHJ objetivou avaliar a prevalência dessa valvopatia e da dilatação aórtica em parentes de primeiro grau de pacientes com VAB.
Foram 23 estudos observacionais incluídos na metanálise: 2297 casos-índice e 6054 parentes investigados.
A prevalência de VAB nos familiares foi de 7,3% por individuo, ou seja, > 10x superior à população geral. Porém, foi inferior ao observado em estudos prévios.
Já a presença de dilatação aórtica foi elevada entre aqueles com a valva bicúspide: 29%. No entanto, não foi exclusiva desse grupo, estando presente em 7% dos pacientes com valva aórtica tricúspide.
Assim, a metanálise demonstrou uma alta prevalência dessas condições entre os parentes de pacientes com VAB.
A dúvida ainda recai sobre os benefícios clínicos desse rastreio a longo prazo.
Ablação de FA por cateter em paciente com ICFEP: a torcida respira aliviada!
Ensaio Clínico Randomizado
Na última semana, pesquisadores publicaram no JACC: Heart Failure os resultados do primeiro ensaio clínico randomizado avaliando a eficácia da ablação de fibrilação atrial (FA) em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP).
Todos os participantes do estudo foram submetidos à cateterização cardíaca direita de exercício e teste de exercício cardiopulmonar para confirmação da ICFEP através da pressão capilar pulmonar em cunha (PCP). Os indivíduos foram randomizados para ablação de FA ou terapia médica.
A amostra foi de 31 pacientes, com idade média de 66,1 anos, sendo 51,6% mulheres, 80,6% com FA persistente.
No fim, a torcida da ablação comemorou a vitória: redução significativa no desfecho primário de PCP de pico após a ablação, além de melhorias no VO2 relativo de pico, níveis de NT pro-BNP e da qualidade de vida pela pontuação MLHF (Minnesota Living with Heart Failure).
A goleada foi marcante: 50% dos pacientes submetidos à ablação não atendiam mais aos critérios para ICFEP baseados em cateterização cardíaca direita de exercício após o procedimento, comparado a 7% no grupo da terapia médica.
Agora a torcida já está ansiosa pelos próximos jogos: será que teremos vitórias também na disputa com desfechos clínicos duros? Aguardemos!
Registro SWEDEHEART - Tratamento percutâneo ou cirúrgico de lesões em TCE
Coorte
Não é possível vencer todo dia, mas as últimas notícias não têm sido muito boas para o mundo dos intervencionistas.
Após a derrota no REVIVED trial, o registro sueco dá outro knock-down na angioplastia de lesões em tronco de coronária esquerda (TCE).
O estudo:
Registro nacional sueco com 11.137 pacientes: 9364 deles submetidos a cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM) e 1773 a intervenção coronária percutânea (PCI) para tratamento de lesões graves em TCE.
Resultados:
Maior mortalidade no grupo PCI: HR 2,0 (95% CI 1,5–2,7);
Maior ocorrência de MACCE no grupo PCI (morte, IAM, AVC e nova revascularização): HR 2,8 95% CI 1,8–4,5;
CRM proporcionou 3,6 anos a mais de sobrevida em pacientes diabéticos em relação aos submetidos a angioplastia;
Sabemos das limitações dos registros mas também de seu valor em refletir o cenário do “mundo real”.
Portanto, sim, pelo menos na Suécia, a CRM apresentou melhor resultados em comparação à angioplastia de TCE.
Garfield estava certo
Caiu na Mídia
Parece que Garfield tinha razão ao odiar as segundas: uma matéria publicada no jornal Extra propõe um maior risco de infartos nesse dia.
Os dados se baseiam em estudo observacional irlandês com mais de 10.000 pacientes internados com IAM com supradesnivelamento do segmento ST entre 2013-2018. A maior parte desses eventos ocorreu significativamente mais nas segundas-feiras (OR 1,13 - p = 0,0015).
Os autores relacionam esse achado a alterações no ritmo circadiano secundárias ao estresse de voltar ao trabalho no início da semana.
Apesar de interessante, vale destacar que foi um estudo pequeno e observacional, com uma infinidade de fatores confundidores que podem estar associados a esse achado (ex.: será que os plantonistas da segunda pedem mais ECGs e são mais eficientes em interpretá-los? Ou os pacientes procuram mais o hospital na segunda?).
O estudo não se aplica aos Dozers. Para vocês, a DozeNews age como fator protetor, uma vez que faz das segundas-feiras muito mais felizes rs 😜.
Imagem da Semana
Paciente do sexo feminino, 68 anos, admitida instável hemodinamicamente no pronto-socorro com supradesnivelamento do segmento ST em parede anterior. Resultado da cine: trágica oclusão de tronco de coronária esquerda.
Fique por dentro
🏁 Editorial do EHJ comparou a eficácia dos iSGLT2 na IC com sua efetividade na vida real.
💻 Grande metanálise publicada no JAMA demonstrou que a ressonância magnética cardíaca com estresse e avaliação do realce tardio se mostrou um método acurado para o diagnóstico e definição do prognóstico dos pacientes com DAC.
⌚ O acompanhamento segue mesmo em casa: revisão do JACC sobre monitorização remota do paciente com IC.
📜 O foco é IC FEP: interessante revisão do JACC Heart Failure sobre o manejo dessa condição.
📎 Miocardiopatia hipertensiva: tendências e determinantes.
🚬 E-Cigarrettes: prevalência na população jovem dos EUA.