A angioplastia resolve mesmo a angina?
Ensaio clínico randomizado (JACC)
Após os estudos que questionam o benefício da angioplastia (PCI) em melhora de sobrevida na doença arterial coronária (DAC) estável (oi ISCHEMIA, estamos falando de você…), o “indiscutível” papel da revascularização percutânea ficou no contexto da melhora da angina.
Indiscutível até a página 2 rs.
Em 2018, o estudo ORBITA já questionava (sob muitas críticas) o real benefício da redução de angina nos pacientes submetidos à PCI.
No ano passado, com a publicação do ORBITA 2, os coraçõezinhos dos hemodinamicistas ficaram mais acalentados:
Demonstrou benefício da PCI em pacientes com dor torácica sem uso de antianginosos + obstrução severa em pelo menos 1 vaso (≥ 70% no CATE ou angioTC) + isquemia comprovada (algum método funcional ou FFR).
O grande problema disso tudo é: esses trials acabam dando mais enfoque no tratamento do que no sintoma de angina em si (ou outras manifestações atípicas). Além disso, não existem métodos baseados em evidências para correlacionar diretamente os sintomas à estenose.
Dessa forma, o estudo ORBITA-STAR buscou determinar se os sintomas induzidos em laboratório podem prever a melhoria dos sintomas após o PCI, lançando as bases para uma terapia de angina personalizada no futuro.
Como funcionou:
O ORBITA-STAR foi um estudo multicêntrico que incluiu pacientes submetidos a PCI uniarterial por sintomas estáveis.
Durante o estudo, os participantes passaram por quatro episódios de oclusão por balão de baixa pressão em suas estenoses coronárias, intercalados aleatoriamente com quatro episódios de “insuflamento” placebo.
Após cada episódio, os pacientes avaliaram e compararam a similaridade dos sintomas induzidos com seus sintomas habituais. A escala de similaridade variava de -10, na qual o placebo replicava mais o sintoma do que a oclusão por balão, até +10, onde a oclusão por balão replicava exatamente o sintoma.
O principal objetivo do estudo era verificar se a pontuação de similaridade poderia prever o alívio dos sintomas com o PCI.
Em outras palavras, cada paciente serviu como seu próprio controle para descobrir se os sintomas de angina que sentiam eram realmente devido à obstrução coronária.
Vamos aos resultados:
Aqueles com altas pontuações de similaridade mostraram uma maior probabilidade de melhora significativa nos sintomas após a PCI.
Ou seja, se a angina que o paciente sentia podia ser replicada pela oclusão no teste, o PCI tendia a ser mais eficaz.
O que isso significa na prática?
Antes de levar seu paciente para o cateterismo , que tal um teste que realmente prova de onde vem essa dor? O ORBITA-STAR oferece uma maneira de fazer justamente isso, garantindo que o tratamento não só é necessário, mas realmente eficaz.
Convenhamos, parece loucura né? rs
Sem dúvidas, mais estudos são necessários para refinar essa técnica de verificação de sintomas.
Mas, os dados já sugerem que entender melhor a fonte da angina antes de intervir pode poupar muitos pacientes de procedimentos desnecessários.
That’s the dream: um cuidado individualizado baseado em evidências.
Infarto e AVC: Quando Tempo é Tudo em Reperfusão
Artigo de Revisão (EHJ)
Esse é para os amantes da ciência do encanamento, aquela que rege o pragmático mundo do abrir o que está fechado:
O EHJ lançou nesta semana uma revisão sobre o fantástico mundo das terapias de reperfusão!
Eu sei o que você está pensando… Basta a DozeNews Prime abordar a lesão de reperfusão que o jornal europeu logo vai falar do assunto (cobraremos royalties, isso é certo rs).
Interessantemente, a revisão nos convoca para uma reflexão sobre as diferenças quanto a etiologia da oclusão aguda cerebral e cardíaca e as contradições terapêuticas e operacionais. Aqui vão alguns pontos de importante discussão:
Etiologias distintas e variadas:
Cardíaca: ruptura e erosão de placa majoritariamente.
Cerebral: aterosclerose de grandes vasos, cardioembolismo e oclusão de pequenos vasos são destaque.
Uso de métodos de imagem para indicação da terapia de reperfusão:
Cardíaca: não são utilizados!
Cerebral: sempre utilizados!
Tempo para tentativa de reperfusão:
Cardíaca: até 12 horas.
Cerebral: a depender de exames de imagem se fora de janela.
Terapia fármaco-invasiva:
Cardíaca: opção se centro de Hemodinâmica indisponível.
Cerebral: atendimento atual padrão independente do centro.
Afinal, por que isso importa?
A revisão aponta para a necessidade de uma abordagem adaptada à doença, levando em conta as variações fisiopatológicas entre IAMcSST e AVC.
Explorar novas maneiras de potencializar o benefício clínico dessas estratégias de reperfusão é crucial. Os insights deste estudo servem como base para futuras pesquisas, especialmente em ajustar redes de colaboração e integrar inovações tecnológicas para acelerar o diagnóstico e tratamento.
Uma coisa é clara: quando se trata de IAMcSST e AVC, cada segundo conta, e entender as nuances de cada condição pode salvar mais vidas.
E por falar em tempo… A IA pode nos ajudar?
Ensaio Clínico Randomizado (NEJM)
A inteligência artificial na identificação de IAMcSST = redução de tempo no tratamento!
Nessa semana, o estudo ARISE (Identificação Rápida de Infarto do Miocárdio com Elevação do Segmento ST Habilitada por Inteligência Artificial Usando Eletrocardiograma) trouxe resultados encorajadores sobre o uso de um sistema de eletrocardiograma com inteligência artificial (AI-ECG).
No estudo, pacientes foram randomizados para receber cuidados padrão ou avaliação por AI-ECG.
O sistema AI-ECG demonstrou reduzir significativamente o tempo da porta ao balão em 14 minutos (de 96,0 para 82,0 minutos) para aqueles que chegaram ao departamento de emergência. Para pacientes já hospitalizados, o tempo do ECG ao balão foi reduzido em 5,6 minutos (de 83,6 para 78,0 minutos).
Esses resultados são notáveis, considerando que cada minuto conta no manejo de IAM com SST.
Além disso, o AI-ECG mostrou alto valor preditivo positivo (89,5%) e negativo (99,9%), garantindo mais precisão diagnóstica e menos ativações de IAM com SST desnecessárias em pacientes que não precisavam de angiografia emergente.
💡Contudo, é importante destacar algumas limitações do estudo, como o design de centro único e o curto período de acompanhamento. Também não houve avaliação da adequação dos cuidados e dos pontos finais de segurança clínica. Portanto, embora os resultados sejam promissores, mais pesquisas são necessárias para confirmar esses achados em diversos contextos e avaliar o impacto nos desfechos a longo prazo.
Aqui no Brasil temos um Dozer envolvido diretamente nesse tipo de tecnologia! O nosso cofundador, Diandro, é Diretor Médico da Healthtech Neomed, que já desenvolveu sua própria IA para identificar supra de ST em menos de 10 segundos! Os resultados tem sido apresentados em congressos e revistas médicas mostrando o impacto que a IA tem na redução do tempo de diagnóstico!
Em um cenário no qual cada minuto de atraso para abrir um vaso ocluído corresponde a 11 dias de vida perdidos, avanços como esses são muito bem vindos!
Será que um dia teremos a IA da Doze? Por aqui, gostamos da ideia! 👀
O Wegovy está de malas prontas
Caiu na Mídia
Wegovy, a versão “turbinada” da semaglutida, já tem data de chegada no Brasil: agosto de 2024.
O grande diferencial dele é fornecer doses mais altas da semaglutida em comparação ao Ozempic.
Assim, enquanto o Wegovy pode chegar até as doses de 2,4 mg, o Ozempic chega ao máximo de 1 mg.
E por que isso é relevante para nós, cardiologistas?
Os 2 principais estudos publicados no ano passado sobre o benefício dessa classe de drogas do ponto de vista cardiovascular, SELECT e STEP-HFpEF, foram com a dose de 2,4 mg.
Enquanto o SELECT demonstrou a redução de desfechos cardiovasculares em pacientes com sobrepeso ou obesidade não-diabéticos em uso da semaglutida, o STEP-HFpEF comprovou os seus bons resultados no tratamento da IC FEP.
Inclusive, o Dozer mais atento viu que discutimos, há alguns meses, a inclusão dos agonistas da GLP1 pelo FDA como medicações para redução do risco cardiovascular.
Ou seja, talvez seja questão de tempo para a nossa ANVISA seguir essa mesma recomendação e essas drogas entrarem de vez no nosso arsenal terapêutico.
Toda ajuda é bem-vinda, especialmente no tratamento da IC FEP e da obesidade (apesar do preço ainda beeem salgado: especulam-se de valores na faixa de R$ 1.038,75 a R$ 2.634,04; mas a expectativa é de que seja ainda acima disso).
Vamos torcer que essas medicações não virem mais uma modinha de redes sociais, como aconteceu com o Ozempic, e possamos direcionar o seu uso para aqueles pacientes que de fato precisem.
Imagem da Semana
A beleza de uma valvoplastia mitral percutânea. A vontade é ficar revendo o gif ininterruptamente, concorda? rs
Fique por dentro
🫀 A presença de aterosclerose subclínica associou-se à presença de áreas de infarto na ressonância magnética em população de baixo risco.
🩸Interessa também ao cardiologista: revisão do NEJM sobre a amiloidose de cadeias leves.
🦟Já que falamos de Doença de Chagas essa semana: artigo da equipe do transplante cardíaco do Instituto Dante Pazzanese demonstrou a associação entre a linfopenia no perioperatório do transplante cardíaco e a parasitemia precoce pelo T. cruzi.
🎙Esse tema o Dozer fiel já conhece: o paradigma do IAMcSST vs a oclusão coronária aguda, em uma bela revisão dos arquivos brasileiros de cardiologia.
E que tal aproveitar e ouvir o episódio do DozeCast com a participação dos autores Dr José Alencar e Dra Mariana De Marchi?
🧒🏻Países diferentes, adultos ou crianças o problema é sempre o mesmo: mortalidade na fila de transplante cardíaco em crianças.
🧠Por melhorias do prognóstico neurológico após parada cardiorrespiratória: AHA Statement.
⚡Ondas de choque associada a cirurgia de revascularização do miocárdio: CAST-HF trial.