Versão brasileira Herbert Richers
Três estudos com participação brasileira para mudar paradigmas
Por favor, se você não entendeu o título dessa edição, volte para os anos 90 urgentemente! rs
🇷 Essa será uma DozeNews brasileira! Vamos apresentar 3 artigos com a participação de autores do Brasil, para provar que a produção científica nacional é cada vez mais relevante no cenário da cardiologia.
Na edição de hoje:
🫀 Avaliação da
acurácia do supra de ST na identificação da oclusão coronária;
⚡ Estimulação
direta do sistema de condução vs ressincronição biventricular
📚 Registro NEAT sobre o m
anejo da doença aterotrombótica
A quebra do paradigma do supra de ST
Revisão sistemática (International Journal of Cardiology)
Começamos com uma interessante revisão sistemática e metanálise realizada por "brasucas" do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia do setor de Tele-ECG, liderados pelo prestigiado amigo Dr. José Alencar.
Prestes a ser publicada no International Journal of Cardiology, esse estudo objetivou determinar a sensibilidade e especificidade da elevação do segmento ST na identificação de oclusão coronária aguda (OCA).
🚨 Spoiler alert! Você vai perceber que tem muita OCA por aí que “passará batida” se valorizarmos apenas o supra-ST.
Para isso, avaliou publicações de 2012-2023 (MEDLINE e Scopus) que compararam achados do ECG com os resultados de estudos angiográficos (lesões coronárias), sendo, ao final, incluídos três estudos com 23.704 participantes.
E os resultados?
A sensibilidade combinada da elevação do segmento ST para identificação de OCA foi de apenas 43,6%!
Isso mesmo! Você pode perder mais da metade dos casos de OCA se esperar pela presença do famoso supra.
Quando foram utilizados critérios adicionais além do supra de ST, buscando classificar o ECG como sugestivo de OCA, a sensibilidade combinada foi de 78,1%, configurando um importante incremento na identificação de pacientes que merecem intervenção emergencial!
Quanto à especificidade, os resultados foram parecidos entre as duas abordagens, sendo de 96,5% para paradigma IAMCST vs IAMSST e de 94,4% para o modelo OCA vs NOCA.
Quanto à limitação do estudo, cita-se a heterogeneidade (I² de 0,96 para sensibilidade e de 0,66 para especificidade).
É, meu caro Dozer… Se você ficar preso aos antigos conceitos e não ficar atento às novas evidências, pode ficar para trás no manejo do seu paciente. Por sorte a DozeNews existe, rs.
Qual a melhor forma de ressincronizar?
Revisão Sistemática (Heart Rythm)
Seguimos com brasileiros contribuindo com ciência de gente grande para o mundo cardiológico! E dessa vez no universo da arritmia!
Há alguns anos, descobriu-se a possibilidade de estimular o feixe de His diretamente visando a ressincronização cardíaca para pacientes com disfunção ventricular esquerda.
Esta terapia é capaz de levar ao estreitamento do QRS, melhorar a sincronia intra e interventricular, além de utilizar apenas um cabo ventricular!
Mas será que essa estimulação direta do sistema de condução traz vantagens em relação ao ressincronizador “clássico” (com 2 cabos: septo direito e parede lateral do VE)?
Para sanar essa dúvida, foi realizada uma metanálise com 7 estudos randomizados que compararam as duas técnicas, publicada no Heart Rythm.
E o detalhe: esse estudo teve a participação do Dr. Guilherme Dagostin, preceptor do setor de arritmias do Instituto Dante Pazzanese.
🎙 Você já ouviu a voz dele no DozeCast, nos episódios #47 sobre o Tilt Test e #23 de extrassístoles ventriculares.
Vamos ao estudo:
Objetivo: avaliar os resultados clínicos, eco e eletrocardiográficos de pacientes com disfunção ventricular submetidos ao implante de ressincronizador pelo sistema de His (grupo HIS) em comparação com biventricular (grupo biventricular).
Resultados:
Total de 408 pacientes, sendo 200 pacientes no grupo His x 208 pacientes no grupo biventricular
O grupo His apresentou melhora de duração do QRS, classe funcional e da fração de ejeção do VE.
Não houve diferença significativa quanto ao volume sistólico final do VE, limiar de captura ou tempo do procedimento.
Há forte evidência sobre a importância da sincronia ventricular para a função cardíaca, embora ainda não haja evidência inequívoca a respeito da superioridade da estimulação direta pelo feixe de His.
Este estudo reforça o racional e embasa ainda mais os defensores da ressincronização através do feixe de His.
Como anda o manejo da doença aterotrombótica no Brasil?
Coorte (Nature)
Você tem a sensação que o manejo da doença aterosclerótica está longe do ideal no nosso país?
Você não está sozinho!
O registro NEAT, publicado essa semana na revista Nature, avaliou pacientes com doença aterotrombótica (DAC ou doença arterial periférica) acompanhados em 25 centros brasileiros.
O objetivo foi avaliar se o tratamento estava de acordo com as recomendações das principais diretrizes.
Foram incluídos 2005 pacientes entre os anos de 2020-2022, dentre os quais 55,6% tinham o diagnóstico de DAC, 28,7% DAOP, e 15,7% ambos os diagnósticos.
Chamou a atenção que apenas 0,3% (!) dos pacientes seguiam a terapia otimizada completa, que incluía as medicações recomendadas nas diretrizes (antiagregantes plaquetários ou anticoagulantes, estatinas e iECA/BRA), além do controle do IMC, da PA e do LDL, e mudanças no estilo de vida.
E não, a culpa não foi dos pacientes! A principal causa identificada para essa baixa adesão foi a não prescrição pelos médicos.
Assim, fica claro que ainda temos um longo caminho a percorrer na prevenção secundária do doença aterotrombótica.
A educação médica e a conscientização quanto a importância da prescrição das medicações recomendadas nas diretrizes parece ser o primeiro passo nessa longa jornada.
Desfazendo fake news
Caiu na Mídia
Após quase 3 anos ouvindo constantemente incertezas (muitas vezes baseadas em fake news) sobre a vacinação contra o COVID, finalmente foi publicado o principal estudo acabar com tudo isso:
Foi publicada uma coorte multinacional com mais de 99 milhões de pacientes vacinados que avaliou os eventos adversos do imunizante.
O estudo avaliou pacientes de 8 países vacinados com imunizantes de mRNA (Pfizer e Moderna) e de adenovírus modificado (AstraZeneca).
O risco foi estimado por meio do O/E ratio (observed versus expected ratios), ou seja, uma razão entre os efeitos adversos observados após a vacina do COVID pelo número estimado na era pré-COVID.
Após 42 dias, o risco de efeitos adversos da vacina contra o COVID foi discretamente superior àquele prévio à pandemia para algumas condições clínicas:
Do ponto de vista neurológico, chamou atenção o aumento do risco de Síndrome de Guillain-Barré (2,49 (95 % CI: 2,15, 2,87)) e trombose venosa central (3,23 (95 % CI: 2,51, 4,09)) após a vacina com adenovírus modificado; e de encefalomielite disseminada (3,78 (95 % CI: 1,52, 7,78)) após vacinas de mRNA.
Já no coração, houve discreto aumento nos casos de pericardite e miocardite.
Apesar desses números os eventos foram extremamente raros: 0,78 casos de encefalomielite para cada milhão de doses aplicadas, por exemplo.
Os pesquisadores destacam que mesmo com esse discreto aumento, ainda é muito inferior ao aumento do risco relacionado à infecção pelo COVID em si.
Imagem da Semana
Cateterismo cardíaco direito em paciente com CIA e hipertensão pulmonar, resultando em Síndrome de Eisenmenger. Observe o enchimento a partir da VCS, seguindo para as câmaras direitas, o fluxo direita-esquerda pela CIA, e o enchimento tardio do tronco pulmonar.
Fique por dentro
💉 O estudo RAPID NSTEMI demonstrou que a estratégia com estratificação invasiva precoce (<90 min) em pacientes com IAMsSST de alto risco (GRACE > 118) não levou a redução de desfechos cardiovasculares.
🏃🏻♀ As mulheres, quando comparadas aos homens, apresentaram maior benefício cardiovascular da atividade física, em grande coorte publicada no JACC.
👩🏻⚕ Mulheres intervencionistas, apareçam! Statement da AHA para maior entrada e retenção de mulheres em intervenções vasculares.
📚 Os 10 principais trabalhos de 2023 de acordo com o corpo editorial do EHJ! Não deixe de ver ou rever os principais artigos do ano passado.
🍎 Comida também é remédio! Estado-da-arte do JACC sobre a alimentação e cardiometabolismo.